Nas Furnazinhas, a entretecer as canas ao sabor dos caminhantes da Via Algarviana

António Gomes, 72 anos, senta-se numa cadeira baixa de tabua, com o fundo de um cesto de cana já feito […]

DSC_0247 (Custom)António Gomes, 72 anos, senta-se numa cadeira baixa de tabua, com o fundo de um cesto de cana já feito no colo, pega nas tiras estreitinhas de cana, que acabara de cortar com o seu canivete, e começa a entrançar, explicando ao grupo de caminhantes como se faz um cesto.

A cena repete-se vezes sem conta ao longo do ano, na aldeia das Furnazinhas, no interior já serrano do concelho de Castro Marim, sempre que passa por lá um grupo de gente de mochila às costas, a percorrer a pé a Via Algarviana, num dos seus troços, no todo ou nos percursos complementares.

«Aqui há mais gente a partir de Outubro e até Junho. Durante o Verão está muito calor, até lhes fazia mal andarem aí a subir e a descer os montes. Vêm aí com essas mochilas às costas, às vezes de bicicleta, mas quase sempre a pé. Às vezes até metem dó, tão cansadinhos que vêm…», conta uma senhora, idosa. Alguns ficam a pernoitar nas Furnazinhas, onde há um turismo rural, a Casa do Lavrador, que depende sobretudo destes caminhantes da Via Algarviana, e outros alojamentos mais informais.

Mas o senhor António lá continua sentado, com o cesto de cana a tomar forma nas suas mãos. Do outro lado da rua, fica a sua oficina, uma casa de paredes nuas de xisto, onde trabalha quando o tempo cá fora não apetece.

DSC_0235 (Custom)Na semiobscuridade da oficina, com as paredes cobertas de cartazes e calendários, alguns com muitos anos, onde equipas do Sporting e FC Porto repousam lado a lado, veem-se alguns cestos já acabados. Um deles, pendurado na parede ao lado de um velho calendário de bolso de uma campanha eleitoral autárquica já com décadas, «não é para venda, é só para amostra», explica o artesão.

Em cima de uma mesa de trabalho, há desenhos de um cesto, com medidas exatas bem marcadas. «Um chinês enviou isso, mas é uma trabalheira. Ele quer uns cestos muitos certinhos». E das mãos experientes do Senhor António os cestos saem bonitos, perfeitos, mas se calhar nem todos muito certinhos. É artesanato…

António Gomes, que também tem umas colmeias na serra, onde chega usando a sua velha moto Zundapp, aprendeu a fazer cestos de cana quando tinha «pra aí uns 10 anitos». E como aprendeu? «A ver os outros. Aqui toda a gente fazia cestos, para as suas precisões. Era para os figos, para as amêndoas, para a azeitona. Não havia plásticos e cada um usava o que tinha à mão», recorda.

Ao longo da ribeira, as canas, que até são uma planta que há centenas de anos veio de paragens exóticas, são cortadas na altura certa do ano e depois cortadas em tiras, mais ou menos finas, conforme o fim a que se destinam. Com o seu canivete nas mãos calejadas, o Senhor António corta as tiras de cana como se fosse fácil.

DSC_0125 (Custom)Como artesão experiente que é, já foi a feiras vender os seus cestos, já esteve em exposições e, ultimamente, é um dos artesãos da rede TASA, que junta a mestria do saber tradicional dos artesãos com a inovação dos designers. «Eu faço uns cestos lá com uns desenhos que eles me deram. Mas esses eu não posso mostrar nem fazer para mais ninguém, é só para eles», explica.

Os grupos de caminhantes que passam pela aldeia, onde vive menos de uma centena de pessoas, na sua maioria idosos, e onde apenas existe um cafezinho, trazem uma animação que é sempre bem recebida. «Às vezes, a gente não percebe o que eles nos dizem, assim nas palavras». Mas lá acabam todos por se entender, a sorrir e a gesticular.

A apanhar sol à porta da sua casa, com lenço e chapéu na cabeça, «porque o sol está constipado» (ou seja, pode provocar constipações), uma senhora de 84 anos compõe a saia e sorri quando vê a máquina fotográfica apontada a ela. «Menina, se me leva daqui lá para a sua terra trate-me bem»…referia-se à fotografia, claro!

 

Artesanato
>>Cestaria em cana ou vime
>>Produção de queijo de cabra, pão caseiro, mel

Recreio e Lazer
>>Centro Cultural e de Interpretação das Furnazinhas
Tel: 281 495 748

Alojamento
>>Casa do lavrador (Turismo Rural)
Tel: +351 281 495 748 / +351 933 200 541 / +351 915 929 654

(também serve refeições, mas só por encomenda, para grupos até 10 pessoas)

Restaurantes
Odeleite
>>Casa Merca – Casa de Pasto – Rua D. Carlos, nº2
Tel: +351 281 495 761 (Encerrado: domingo)
>>O Camponês – Rua Centro de Saúde, nº12
Tel: +351 281 495 826 (Aberto todos os dias)

Percursos pedestres sinalizados, complementares à Via Algarviana:
>>PR 9 CTM – Percurso Pedestre Mina e Albufeira (7,7km)
>>PR 10 CTM – Percurso Pedestre dos Barrancos (7,8km)

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação:

 

Comentários

pub