Matraquilhos, gastronomia, igrejas e copinhos de medronho num dia à descoberta de Silves

Mostrar que o concelho de Silves é bem mais do que a praia de Armação de Pêra foi o objetivo […]

DSC_0152 (Custom)Mostrar que o concelho de Silves é bem mais do que a praia de Armação de Pêra foi o objetivo de mais uma fam trip, uma viagem de familiarização para jornalistas e agentes de viagens, promovida pela Região de Turismo do Algarve, em colaboração estreita com a Câmara Municipal silvense.

Neste que é o segundo maior concelho do Algarve, a dezena e meia de participantes ficou a conhecer os segredos de São Marcos da Serra, de São Bartolomeu de Messines, da serra e do lince, e ainda do Castelo de Silves. É que, apesar de ser o segundo monumento mais visitado da região, o secular castelo ainda encerra muitas histórias por contar.

A fam trip, que teve como guia inesperada e sempre cheia de entusiasmo, a própria presidente da Câmara Rosa Palma, começou então em São Marcos da Serra…e não podia ser de melhor forma. Numa sala ao lado da Junta de Freguesia, no largo da Igreja, foi servido um pequeno-almoço serrano com fatias douradas, sonhos, filhós, farinheira e outros enchidos locais, bom pão caseiro, tudo isto acompanhado por café, chá de ervas…ou uns copinhos de aguardente de medronho ou melosa.

Estava dado o mote para um dia onde a boa gastronomia foi a regra. Porque, como explicou Desidério Silva, presidente da RTA, «os turistas também se apanham pelo estômago», sendo a gastronomia e os vinhos um dos motivos cada vez mais referidos pelos visitantes do Algarve. Para mais, tendo em conta que a Dieta Mediterrânica é Património da Humanidade.

DSC_0046 (Custom)Três presidentes, Rosa Palma, da Câmara de Silves, Desidério Silva, da RTA, e Luís Cabrita, da Junta de Freguesia de São Marcos, fizeram um brinde ao futuro do turismo e dos produtos próprios desta região serrana.

Seguiu-se uma visita à Igreja Matriz de São Marcos da Serra, um pequeno templo que guarda ainda elementos manuelinos no seu interior, da altura da sua construção, no primeiro quartel do século XVI, como explicou Jorge Correia, técnico do Departamento de Cultura da Câmara de Silves.

A paragem seguinte foi o Museu do Traje e das Tradições de São Bartolomeu de Messines, nesta vila do Barrocal. O presidente da Junta de Freguesia, que recebeu o grupo de visitantes, salientou as dificuldades de um território que «está a apenas 20 quilómetros do mar, mas sofre de uma interioridade enorme».

A visita ao pequeno, mas interessante Museu do Traje, que alberga sobretudo a coleção etnográfica reunida ao longo dos anos pelo Rancho Folclórico de Messines, o primeiro de todo o Algarve a ser aceite na Federação de Folclore de Portugal, teve a companhia de um dos jovens desse grupo, o Diogo, vestido a rigor com um lavrador rico.

«Messines era muito forte na área comercial e agrícola. Mas nestes últimos anos, num raio de 50 quilómetros, abriram várias grandes áreas comerciais que vieram abafar o nosso pequeno comércio. Ainda temos dois lagares de azeite, alguma alfarroba, mas o comércio de amêndoa, por exemplo, já não há», explica João Carlos Correia, presidente da Junta de Freguesia.

«Se não for o turismo e a gastronomia a captar mais gente para cá, não sei como será no futuro», acrescenta.

Rosa Palma, presidente da Câmara de Silves, afina pelo mesmo diapasão: «deu-se um retrocesso e agora é necessário políticas e medidas para manter as pessoas cá. Isso passa, por exemplo, por mostrar a nossa tradição e identidade».

Ora, mostrar essa realidade do interior, em especial no Outono e no Inverno, quando se torna mais apetecível conhecer o Barrocal e a Serra, é precisamente o objetivo da fam trip e integra-se nas estratégias da RTA, garantiu Desidério Silva. «Mas, para que isso seja possível, tem que haver um esforço partilhado entre as entidades oficiais, e entre estas e os privados».

DSC_0192 (Custom)Ainda à descoberta da vila de Messines, o grupo de jornalistas e agentes de viagens visitou depois a Casa-Museu João de Deus, recebidos por Hélia Coelho e onde Lizete Martins, apresentada pela autarca Rosa Palma como «a maior atriz do concelho e fundadora do Grupo de Teatro Penedo Grande», declamou alguns poemas daquele poeta e pedagogo, nascido ali bem perto.

Foi depois tempo de percorrer a pé as ruas do casco histórico de Messines, fazendo em parte o percurso da Via Algarviana, que por ali passa, para regressar à Igreja Matriz, dedicada a São Bartolomeu. Trata-se de um templo que se destaca desde logo pelo contraste dos pormenores exteriores das cantarias em grés vermelho e das paredes caiadas de branco, que guarda ainda alguns elementos manuelinos, mas que se afirma como um exemplo do Barroco.

No interior, além das talhas douradas, o destaque vai para os pilares, também em grés de Silves, retorcidos…e para um facto de um deles torcer ao contrário. Descobrir de qual deles se trata é tarefa para os visitantes mais atentos. A visita à Igreja de três naves foi seguida pelo Padre Atalívio Rito, que é, desde há pouco mais de um mês, o novo pároco da vila.

O restaurante «O Caixeiro», em Fonte João Luís, bem pertinho de Messines, recebeu o grupo para o almoço. As boas vindas foram dadas pelo espumante Q, da silvense Quinta do Barranco Longo, seguindo-se entradas variadas (queijo fresco, carne na banha, chouriços, azeitonas, cenouras temperadas…) e depois um cozido de grão delicioso. Tudo isto regado com vinhos Barranco Longo. Nas sobremesas, quem ainda tinha espaço para elas pôde provar o folhado de Messines, torta de laranja e de alfarroba. A rematar, um copinho de medronho produzido na freguesia.

E seguiu-se então o momento de maior descontração do dia. Na esplanada d’«O Caixeiro», Desidério Silva e Rosa Palma, bem como dois outros membros do grupo, entretiveram-se numa ruidosa e muito disputada partida de matraquilhos. Desidério, já se sabe, ficou com a equipa do Sporting, ajudado pela presidente da Câmara de Silves. Afinal, um bom jogo de matraquilhos também faz parte da animação turística.

Depois da visita, ao longe, ao Centro de Reprodução do Lince-Ibérico, espreitando pelo telescópio os felinos que se espreguiçavam ao sol, e de uma passagem pelas belas margens da Barragem do Funcho, a fam trip terminou no Castelo de Silves.

À porta, a autarca Rosa Palma revelou que os 205 mil visitantes registados em 2014 já foram ultrapassados em Outubro deste ano. Lá dentro, o destaque foi para a iniciativa Sunset Secrets, que decorre durante o Verão sempre ao por de sol de todas as quintas-feiras, com muita música, alguma dança e poesia. Graças ao sucesso da iniciativa, «queremos agora promover estes Sunsets em mais dias por semana, mas estamos dependentes dos recursos humanos, que nos faltam», admitiu a autarca.

DSC_0441 (Custom)No Café do Castelo, o restaurante situado no interior do monumento, o dia terminou como começou: a comer o que de melhor o concelho de Silves tem para oferecer. E se, em São Marcos, foi a tradição que foi posta na mesa, aqui foi a inovação, baseada no que há de tradicional nos produtos, que se deu a provar.

E o que se degustou? Uma trilogia de torta de laranja, de alfarroba e gila e de amêndoa, acompanhada de sumo de laranja de Silves e de batata-doce (para cortar o azedo que a laranja ainda tem, nesta altura do ano), que terminou com um amouse-bouche de laranja desidratada, queijo de cabra, compota e amêndoa torrada.

A acompanhar, soou o alaúde e a voz de Eduardo Ramos, que fez ondular entre véus e requebros as duas dançarinas do grupo Raks al Amar.

No fim, em jeito de balanço de um dia inteiro dedicado a descobrir os segredos de Silves, o presidente da RTA salientou a necessidade de «conhecer o que existe para valorizar». «A economia local será favorecida se houver mais gente a dormir na serra e no barrocal, mais gente a comer nos restaurantes desta zona, a visitar os seus museus e monumentos, a adquirir o seu artesanato», frisou Desidério Silva.

A presidente da Câmara de Silves sublinhou, por seu lado, o facto de, no interior do concelho, a oferta de alojamento estar a crescer, não com grandes empreendimentos, mas com «hostels, agroturismo, alojamento local». Isso, disse Rosa Palma, garante «uma maior proximidade entre quem nos visita e as pessoas locais» e, em última análise, acaba por «deixar no próprio concelho muito mais dinheiro».

«Temos que divulgar não só as nossas praias, como tudo o que o interior, o Barrocal, a Serra, têm para oferecer, desde os produtos – o medronho, o mel, a cortiça -, aos locais de interesse para visitar, às paisagens», disse ainda a autarca, acabando por deixar um convite: para que os algarvios e não só vão até à freguesia de São Bartolomeu de Messines, entre 28 de Novembro e 6 de Dezembro, para «poderem degustar o que há de melhor» na Semana Gastronómica.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

 

 

 

Comentários

pub