Mário Centeno, o algarvio que agora manda nas Finanças de Portugal

O número dois do Governo socialista, que tomou posse esta quinta-feira, é algarvio. Mário Centeno nasceu em Vila Real de […]

Mário CentenoO número dois do Governo socialista, que tomou posse esta quinta-feira, é algarvio. Mário Centeno nasceu em Vila Real de Santo António e, 48 anos depois, chega a Ministro das Finanças, depois de ter sido o mentor do programa do PS, nesta área, nas Eleições Legislativas de 2015.

Uma nomeação que já estava anunciada, pelo importante contributo dado por Mário Centeno ao programa do PS e nas negociações com o PCP e o BE, mas que não era previsível, antes do lançamento deste documento, já que o economista algarvio nunca ocupou qualquer cargo político, tendo feito carreira como especialista em Economia, no Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, do qual foi diretor-adjunto até 2013.

A sua carreira foi assente num percurso académico de sucesso, que o levou até ao doutoramento na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mas que teve a sua génese no Algarve. Mário Centeno cresceu na cidade plantada à beira do Guadiana e ali estudou até aos 15 anos, altura em que se mudou com os pais e irmãos para Lisboa.

José Baía, atual diretor da Escola Secundária de Tavira e presidente da Assembleia Municipal tavirense, deu aulas ao agora ministro das Finanças, embora, confesse, não se recorde com clareza deste aluno. «Fui professor dele no 5º ano, logo quando comecei a dar aulas. Lembro-me que era o neto do senhor Joaquim Gomes, que tinha um restaurante, onde nós costumávamos almoçar», recorda. Enquanto viveram em Vila Real, o pai de Mário Centeno era bancário e a mãe trabalhava nos correios, sendo ele o segundo de quatro filhos do casal.

O restaurante Joaquim Gomes ainda hoje se mantém em atividade, no centro de VRSA, mas já não pertence à família. Foi vendido em 1998, depois da morte do avô Joaquim Gomes, que era, ele próprio, um alentejano de Mértola que escapou a uma vida dura na Mina de São Domingos.

Segundo os amigos mais fiéis do novo número dois do Governo, os choquinhos fritos com tinta (cuja receita até figura no livro de cozinha da Região de Turismo do Algarve) são uma das especialidades gastronómicas que o próprio Mário Centeno gosta de cozinhar, talvez para recordar as suas raízes algarvias.

O ministro das Finanças, que foi empossado ontem, às 16 horas, tem familiares não só na terra onde nasceu, mas também em Tavira, onde ainda hoje mantém uma casa, onde continua a voltar nas férias, com a mulher e os filhos adolescentes.

Depois de se mudar com a família para Lisboa, continuou aí os seus estudos, na Escola Secundária Patrício Prazeres, e ingressou na licenciatura em Economia do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), onde integrou o quadro de honra e que concluiu com uma média de 16 valores. Desempenho que convenceu a prestigiada Universidade de Harvard a aceitá-lo, em 1995. Cinco anos anos depois, doutorou-se em economia, por esta universidade norte-americana.

Mário Centeno e António CostaQuando chegou a Harvard, aos 27 anos, Mário Centeno já era casado com uma ex-colega do ISEG e o seu primeiro filho, Tiago, o mais velho de três, nasceu durante esse período em que a família viveu na cidade norte-americana de Cambridge.

«Harvard foi uma revolução na minha forma de ver a economia em quase tudo», disse Mário Centeno, numa recente entrevista à revista «Visão». «Tornei-me muito mais sensível à relação entre a economia e as pessoas». É que, salientou, «por vezes, a macroeconomia esquece-se que do outro lado estão as pessoas». E o exemplo que deu dessa situação é que «quando o anterior Governo pensou nestas medidas [austeritárias], achou que os jovens acomodariam o seu nível de vida e que ficavam cá a empobrecer. Isso não aconteceu». Tal como um microeconomista teria previsto.

Após concluir o Doutoramento, Mário Centeno regressou a Portugal e começou a trabalhar no Banco de Portugal, no Departamento de Estudos Económicos, onde já havia colaborado entre 1993 e 1995. Aí tornou-se um reputado especialista em economia de trabalho, com artigos publicados em dezenas de revistas internacionais. Desde o início de 2014 é consultor especial do conselho de administração do BdP.

Paralelamente, desenvolveu uma carreira académica, como professor convidado do Instituto Superior de Economia e Gestão, a partir de 1993, e da Universidade Nova de Lisboa, desde 2006.

No seu meio profissional, Mário Centeno é considerado um liberal, mas ele próprio contesta este «rótulo». E, escolhe o termo «fusão» para melhor se definir. Tal como disse à «Visão», «não podemos deixar que a sociedade esmague o indivíduo. Esse é o meu liberalismo».

E os portugueses irão ver agora o que lhes reserva este economista, nascido no Algarve, enquanto responsável pela crucial pasta das Finanças.

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