Em Albufeira reconstrói-se a bonança depois da tempestade (com fotos)

Em Agosto, as ruas da baixa de Albufeira estão cheias de gente. Turistas sentam-se nas esplanadas, bebem cerveja, comem gelados, […]

Cheias Albufeira (32)Em Agosto, as ruas da baixa de Albufeira estão cheias de gente. Turistas sentam-se nas esplanadas, bebem cerveja, comem gelados, passeiam e vêem as montras. Em Novembro, o movimento costuma ser menor mas, esta segunda-feira, não era. Centenas de pessoas estiveram nas ruas enlameadas a tentar recuperar a vida que aquela zona costuma ter e que uma torrente de água e lama lhe retirou, em poucos momentos, este domingo.

A água das chuvas, que o sistema de drenagem não conseguiu escoar, arrastou esplanadas, rebentou com montras, e o cenário, pela manhã, espantava qualquer um, mesmo aqueles que já tinham visto imagens da destruição. Havia cadeiras de pernas para o ar pelas ruas, garrafas, frigoríficos, mesas, bolas, garfos, uma abóbora…

Uma abóbora foi arrastada pela força das águas
Uma abóbora foi arrastada pela força das águas

Uma das pessoas que ficou boquiaberta com o cenário de destruição foi a escocesa Catherine Campbell, que chegou ao Largo Engenheiro Duarte Pacheco, para tomar um café, e encontrou lama, pedras, areia e as esplanadas fechadas.

«Eu queria vir aqui tomar um café e tudo desapareceu. Sinto muito por todas estas pessoas. Na Escócia, não temos nada assim», disse ao Sul Informação.

Catherine garantiu, no entanto, que esta situação não lhe estragou as férias de três semanas que terminam na próxima terça-feira. «É muito bom estar aqui e nada afeta as nossas férias, mas sinto muita pena destas pessoas e nem consigo imaginar como a força das chuvas fez isto».

Margaret George, também ela escocesa, mas com uma casa em Albufeira, onde passa férias há mais de 20 anos, assistiu a tudo de um terraço no Largo Engenheiro Duarte Pacheco. «Vimos a areia e a água a vir, tudo por aí abaixo, era cerca da uma e meia. Nunca vi nada assim. Nós conhecemos estas pessoas, tiveram um bom verão e agora isto…», lamenta.

Ao viver aqueles momentos de perto, Margaret George e o seu marido sentiram «medo». «Pensámos que a água não ia parar e que ia chegar onde estávamos».

Muitas dezenas de estabelecimentos comerciais ficaram destruídos pela força das águas, mas a cidade de Albufeira respondeu com centenas de braços dispostos a ajudar. Não foram só os bombeiros, os funcionários municipais e os proprietários e trabalhadores das lojas e das esplanadas que puseram mãos à obra. Amigos, vizinhos, clientes quiseram dar o seu contributo, com trabalho, a quem perdeu muito daquilo que construiu durante anos.

Miradouro da Praia dos Pescadores teve muita gente a ver os trabalhos
Miradouro da Praia dos Pescadores teve muita gente a ver os trabalhos

É o caso de John McCabe, um britânico que, perante o cenário, não se juntou aos muitos mirones que, do alto do miradouro da Praia dos Pescadores, observavam os trabalhos de limpeza.

«Vim ajudar, eu conheço estas pessoas. Tenho casa aqui e fico irritado com aqueles estúpidos que estão além [aponta para o miradouro] a tirar fotografias. Eu venho para aqui há muitos anos, quando chego dizem-me “bem-vindo a casa Sr. McCabe” e nunca vi nada assim, tudo destruído. Ontem quando vi isto, desci aqui e tinha água pelos joelhos», conta.

Como o Sul Informação noticiou ontem, houve quem tivesse de ser resgatado pelos bombeiros. No café Marmota, a água atingiu dois metros de altura e o proprietário José Vieira esteve até ao último momento na companhia de um funcionário. Quando já nada podia fazer, e a água continuava a subir, teve de ser resgatado pelos bombeiros e pela GNR.

«Estávamos aqui e ficámos retidos, tivemos que trepar e, nessa altura, os bombeiros já aqui estavam e fomos puxados por eles», lembra.

Em relação aos prejuízos no seu espaço comercial, José Vieira não tem ainda uma ideia, mas diz que «foi tudo com a água: janelas, portas… a água passou aqui e levou tudo. Todo o equipamento elétrico, frigoríficos, televisões, tudo o que é necessário para ter um espaço destes a funcionar ficou destruído. Ficaram algumas garrafas. Já tivemos aqui outras cheias, mas nunca com este nível. Acho que houve qualquer coisa que foi feita que provocou isto, não foi só a água da chuvas, talvez as obras do Polis… sei que foi uma corrente bem forte».

Alda Bacalhau mostra os danos na loja
Alda Bacalhau mostra os danos na loja

Também Alda Bacalhau viu a força das águas destruir a loja de calçado e acessórios que tem na Avenida 25 de Abril. De lágrimas nos olhos, disse ao Sul Informação que «foram muitos milhares de euros perdidos, nem tenho ideia. Perdi tudo, foi perda total, os móveis, material eletrónico, os sapatos… mesmo os que estavam nas prateleiras de cima e sobreviveram, não podem ser vendidos, porque os pares estavam na arrecadação, que ficou inundada».

A raridade de uma situação destas em Albufeira também é reforçada por Alda Bacalhau: «tenho a loja aqui desde 2007, mas ninguém se lembra de uma coisa assim. Houve uma vez que a água entrou na loja, mas nada disto. Já ouvi dizer, que algo assim, só há 70 anos».

Quando o ministro da Administração Interna visitou Albufeira, depois da hora de almoço, foi com este cenário que se deparou. João Calvão da Silva elogiou o movimento de voluntários criado para responder à «fúria da Natureza», e disse que os comerciantes que não têm seguro, «aprendem, em primeiro lugar, que é bom reservar sempre um bocadinho para, no futuro, ter seguro».

Apesar do cenário de destruição, o ambiente durante as limpezas, em alguns espaços, podia ser bem mais pesado dadas as circunstâncias. No entanto, o Sul Informação constatou que havia comerciantes que diziam uma piada e que trabalhavam com um sorriso, mais, ou menos, forçado. Talvez estes fossem apenas comerciantes que não tiveram de aprender «a lição de vida» – palavras de Calvão da Silva – de que é mais seguro ter um seguro.

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