Negociações com sequestrador de Lagos duraram 8 horas de «avanços e recuos»

As negociações com o homem que esta segunda-feira se barricou na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de […]

conf imp PSPAs negociações com o homem que esta segunda-feira se barricou na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Lagos, fazendo três reféns, duraram oito horas e tiveram «muitos avanços e muitos recuos», «não tendo sido necessária a utilização da força».

A revelação foi feita ao início da noite de hoje, em conferência de imprensa, pelo superintendente Viola Silva, comandante distrital da PSP, pouco mais de uma hora depois de o homem se ter entregado, sem fazer mais vítimas, às autoridades.

Após ter-se barricado na CPCJ pouco passava das 9h00 da manhã, só por volta das 18h00 o  homem deixou sair os três reféns, sem lhes fazer mal, acabando por se entregar, depois de nove horas de muita tensão.

conf imp PSP 2Logo depois de o homem, António Duarte, de 40 anos, pedreiro de profissão, ter sido detido, elementos do Grupo de Operações Especiais (GOE), protegidos por um escudo móvel, avançaram para as instalações da CPCJ para verificar se, no local, não havia qualquer bomba.

Quando se entregou, o sequestrador tinha na sua posse duas armas – uma pistola de calibre 7.65 milímetros e uma caçadeira de canos serrados -, bem como várias munições, nomeadamente 29 cartuchos de calibre 12 e 24 munições, e um punhal de mato.

«O meu objetivo foi esgotar ao máximo as negociações. Só mandaria avançar o uso da forçaa [através do GOE] se sentisse que a vida dos reféns estava por um fio. A fase mais fácil foi a libertação dos reféns e a detenção do homem. O difícil foram as oito horas de negociações, que tiveram “n” avanços e “n” recuos», acrescentou, na conferência de imprensa, o superintendente Viola Silva, que foi o comandante da operação no terreno.

Um dos reféns era um militar da GNR, apesar de o raptor nunca se ter apercebido disso, uma vez que este se encontrava à paisana, embora estivesse a prestar serviço no âmbito do Escola Segura. Os outros dois reféns eram uma psicóloga e um professor, ambos funcionários da Comissão.

A PSP já sabia desde manhã que havia uma agente da autoridade dentro do edifício, bem como outros pormenores que não foram divulgados publicamente, para garantir que a segurança dos reféns não era colocada em causa. Dados que a repórter do Sul Informação, no local, foi recolhendo.

O motivo do sequestro era, de resto, conhecido desde manhã. A polícia sabia que António Duarte se barricou, armado com uma caçadeira de canos serrados e com uma pistola de calibre 7.65, municiada, porque os filhos lhe foram retirados, no âmbito de um processo de violência doméstica. A mulher e os dois filhos estão, de resto, inseridos no programa de Proteção à Vítima, daí o seu paradeiro ser desconhecido de António Duarte.

Sequestro Barricado Lagos CPCJ (9)
Agentes da PSP à paisana no telhado do prédio da CPCJ, procurando uma outra entrada

Esta terá sido a forma encontrada pelo sequestrador de chegar à fala com os dois filhos, embora uma das suas exigências iniciais fosse não só falar, mas também vê-los.

O homem acabou por se entregar às autoridades, sem resistência, já depois de ter falado com os dois filhos, um rapaz e uma rapariga, adolescentes de 14 e 15 anos, por telefone.

Antes de se entregar, libertou os reféns, que não sofreram qualquer ferimento, embora tenham precisado de receber apoio psicológico do INEM. O homem terá, inclusivamente, pedido que trouxessem comida, mas apenas para os três reféns, já que se recusou a comê-la.

Carlos Cordeiro, um utente que entrou na CPCJ por volta das 9h15, levando o seu filho de 11 anos pela mão, dando de caras com o sequestrador no interior das instalações, foi quem deu o alarme para a PSP.

Falando com o Sul Informação, Carlos Cordeiro contou que, «quando entrei na Comissão, vi aquele homem armado, com uma caçadeira de canos serrados. Ele viu-me com o meu filho e perguntou-me: queres chamar a PSP?, mas eu não respondi e ele mandou-me sair, mais o meu filho. Já lá estavam os três reféns, a psicóloga, o professor e o agente da GNR».

Os primeiros elementos da PSP que se dirigiram de imediato ao local foram recebidos a tiro de caçadeira pelo homem barricado. Um agente da polícia, de Lagos, foi atingido de raspão na cara, mas não sofreu consequências de maior.

A CPCJ de Lagos funciona num prédio de sete andares num bairro densamente povoado, no Largo da Paz, perto da Escola Secundária Júlio Dantas e do Mercado de Santo Amaro.

Logo que foi chamada ao local, a PSP estabeleceu um perímetro de segurança de cerca de 400 metros à volta do prédio, não deixando circular pessoas nem automóveis. Na Escola Secundária, a polícia pediu que a zona de recreio fosse evacuada e que fossem fechadas as janelas voltadas para o prédio onde estava o homem barricado, mas, mais tarde, a própria direção do estabelecimento de ensino decidiu dispensar os alunos das aulas.

As operações, onde atuou cerca de uma centena de elementos da PSP de Lagos, Portimão, Faro e Lisboa, nomeadamente da Unidade Especial de Polícia, foram acompanhadas a par e passo por centenas de mirones, alguns acompanhados por crianças pequenas.

 

Em atualização

 

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