Artesãos conserveiros algarvios já começaram a exportar para a Bélgica, Polónia e França

O trio de jovens artesãos conserveiros algarvios que, em Julho passado, lançou a marca «Saboreal», já começou a exportar o […]

Tertulia Amigos Museu Saboreal_02O trio de jovens artesãos conserveiros algarvios que, em Julho passado, lançou a marca «Saboreal», já começou a exportar o seu produto, estando as suas conservas a ser vendidas, desde há uma semana, na Bélgica, numa loja na cidade de Jamioulx.

Entretanto, há uma encomenda quase a chegar à Polónia e vendas a serem tratadas com um português em França, na zona de Bordéus e Biarritz, bem como contactos para exportar estas conservas artesanais e gourmet para o Reino Unido.

Os jovens empresários Vincent Jonckheere, André Teixeira e Manuel Mendes foram este sábado os convidados de mais uma tertúlia, promovida pelos Amigos do Museu de Portimão, onde se falou muito sobre este seu projeto e sobre empreendedorismo, alguma coisa sobre a história da indústria conserveira no Algarve, e, sobretudo, onde, entre copos e dois dedos de conversa, se deu a provar as conservas da Saboreal.

A ocasião foi também aproveitada para apresentar os dois novos produtos da pequena empresa conserveira a funcionar na Zona Industrial do Pateiro, no Parchal (Lagoa), frente a Portimão, do outro lado do rio Arade: as petiscadas de atum, uma à algarvia e outra com batata-doce e coentros. O veredicto foi unânime: muitos boas!

Tertulia Amigos Museu Saboreal_04André Teixeira, 28 anos, armador de pesca, explicou que o atum usado nas conservas é «bonito, pescado nos meus barcos no Atlântico Norte». Trata-se de «atuns pré-selecionados a bordo, já que os que chegam vivos ao barco, são mortos por sangramento, e não por asfixia, o que torna a sua carne melhor, mais clara, mais apropriada para as conservas que produzimos, de alta qualidade».

Atualmente, pouco mais de três meses depois de terem começado a laboral, a Saboreal já produz cerca de 5000 conservas por mês, de cavala, carapau, sardinha e atum, tendo passado de um posto de trabalho criado inicialmente, para dois e, em breve, para três (além do trabalho dos próprios sócios da empresa).

Os seus produtos são a Sardinha e Cavala tradicional com azeite (extra virgem, de Trás-os-Montes, por causa da baixa acidez) e Carapau com molho à Algarvia ou “petiscadas” (que antes se chamavam “tapas”, mas a que mudaram o nome para lhe dar um cunho mais português), um novo produto que desenvolveram e que consta de uma mistura de peixe com outros “condimentos” – Cavala com amêndoas e azeitonas, atum à algarvia (com tomate confitado e pimento verde) e atum com batata-doce e coentros.

Depois de terem começado a vender para quatro lojas em Ferragudo, Portimão e Carvoeiro, atualmente já comercializam noutros pontos do Algarve, como em Faro, mas também em Lisboa, na Murtosa e em breve estarão no Porto, sempre tendo como clientes lojas e restaurantes gourmet e mercearias tradicionais. A única exceção a estas pequenas superfícies são os três supermercados Intermarché de Lagoa, Alporchinhos e Monchique, explorados pelo mesmo dono, e que Vincent garante que «valorizam e promovem os produtos locais, pagam a horas e bem».

As conservas da Saboreal são vendidas em frascos de vidro, por várias razões, como explicaram os três jovens empreendedores: «em primeiro lugar, tem a ver com a nossa opção pelo artesanato – era muito caro comprar uma cravadeira para fechar as latas de folha de flandres e, se a comprássemos, teríamos de produzir grandes quantidades para a rentabilizar, deixando de ser conserva artesanal», explicou Vincent Jonckheere, de 34 anos, professor universitário de Economia na Bélgica.

Depois, «é uma forma de nos diferenciarmos, porque em Portugal são raras as conservas, sobretudo de peixe, em frasco de vidro». Além do mais, o vidro «é mais barato que a lata e é produzido em Portugal», sendo também a apresentação «mais bonita».

Tertulia Amigos Museu Saboreal_06Além de que o vidro é «uma matéria mais inerte e que não interfere com o sabor dos alimentos no seu interior», acrescentou Manuel Mendes, de 30 anos, farmacêutico de formação.

E José Gameiro, diretor científico do Museu de Portimão e um dos fundadores dos Amigos do Museu, acrescentou ainda outra razão: «no fundo, voltaram ao início das conservas de peixe, quando, em França, para alimentar as tropas de Napoleão, se acondicionava as conservas em vidro de Champagne».

E como escolhem eles os produtos e os sabores que colocam no mercado? Foram feitos estudos de mercado? quiseram saber alguns tertulianos. Não, não houve estudos de mercado. Vincent explicou: «colocamos os nossos produtos no mercado sem medo, porque temos a certeza de que são bons e nós gostamos deles».

«Para chegarmos a estas duas “petiscadas” de atum, fizemos umas quinze misturas diferentes e depois chamámos os amigos para provar e para nos ajudarem a escolher», acrescentou Manuel Mendes. «Mas isso é uma forma de estudo de mercado», exclamou uma tertuliana. «Assim como esta prova em que estamos hoje», acrescentou outra.

Um aspeto que os três artesãos conserveiros fizeram questão de explicar é que o que produzem está sempre «dependente do que o mar nos dá», em cada altura do ano. Daí que, como já não há sardinha no mercado, devido ao esgotamento do stock para este ano, se tenham virado mais para a cavala, o carapau e o atum.

Mas, «porque as cavalas que agora há são muito grandes, não dá para fazer os filetes, por isso produzimos só as petiscadas, em que o peixe é desfiado e, quanto maior, melhor», contou Manuel Mendes.

Há já um projeto novo em curso – «estamos a trabalhar na formalização de uma parceria com a Universidade do Algarve, nas áreas da Biologia Marinha e da Engenharia Alimentar», revelou Vincent Jonckheere.

Um dos objetivos é fazer um estudo sobre as diferentes espécies de peixe, as alturas em que são pescadas, os seus custos e tamanhos, «de modo a criar uma planificação da produção ao longo do ano, para saber, por exemplo, quando não se pode usar a sardinha, que outros peixes podemos usar nesses buracos», acrescentou Manuel Mendes.

Da cabeça deste trio de empreendedores estão sempre a sair ideias, nomeadamente para mais e diferentes produtos, alguns a ser desenvolvidos até a pedido de clientes. O Sul Informação já conhece alguns desses segredos em desenvolvimento, mas comprometeu-se a não revelar ainda do que se trata…apenas para deixar os leitores, literalmente, com água na boca.

 

Comentários

pub