Artista e arqueólogos vão cozinhar na paisagem do Castelo de Salir

O que se comia no Algarve nos tempos islâmicos? E, disso, o que ficou até aos dias de hoje? Estes […]

Cozinhando na Paisagem (2)O que se comia no Algarve nos tempos islâmicos? E, disso, o que ficou até aos dias de hoje? Estes poderiam ser dois dos pontos de partida de mais uma ação performativa gastronómica «Cozinhando na Paisagem», que no sábado, 22 de Agosto, ruma ao Castelo de Salir, no interior do concelho de Loulé.

A ação performativa está marcada para as 18h30, sendo que haverá antes uma vista guiada (18h00) com partida do Polo Museológico de Salir.

A comandar as operações gastronómicas estará, como sempre, o artista e cozinheiro Jorge Rocha, que desta vez terá como convidadas Alexandra Pires e Soraia Martins, investigadoras ligadas ao Castelo de Salir.

A ação gastronómica estará focada na época a que reporta o monumento – sécs. XII e XIII ou seja, o Período Islâmico.

Será proposta a elaboração de um menu inspirado tanto na época, como em dados e vestígios recolhidos sobre os hábitos alimentares da então população circundante. As investigações realizadas revelaram uma malha urbana bastante densa, com estruturas de casas e arruamentos.

As casas tinham vários compartimentos com funções diferentes – cozinhas, salas, pátios, locais de armazenamento de alimentos. As cozinhas tinham uma área de confeção de alimentos, possuindo lareira constituída por uma base de fragmentos cerâmicos.

Foram encontrados inúmeros utensílios de cozinha entre os quais se destacam as panelas. O menu será apenas revelado no momento mas, com estes dados, será uma ponte entre o presente e o passado e com influências islâmicas e mediterrânicas.

Alexandra Pires será uma das convidadas participantes, uma vez que ocupa funções como Técnica Superior de Arqueologia no Museu Municipal de Loulé, desde 2008.

Licenciada em História, variante Arqueologia, pela Universidade de Lisboa, desempenha funções nas áreas da arqueologia e educação patrimonial.

Após vários anos de dedicação exclusiva à área da arqueologia, com destaque para o período islâmico, começou a interessar-se pela mediação cultural e educação não formal em contexto museológico. É responsável pelos serviços educativos do Museu Municipal de Loulé desde 2013.

Soraia Martins será também uma convidada participante, tendo em conta a sua dissertação de mestrado, intitulada “Estudo Arqueofaunístico do Castelo de Salir (Loulé) – Contribuição para o conhecimento da dieta alimentar islâmica”, que teve como objetivo conhecer a dieta alimentar da população daquele sítio arqueológico.

É licenciada em Património Cultural e mestre em Arqueologia, pela Universidade do Algarve e desempenha funções no Museu Municipal de Loulé desde Outubro de 2014.

 

A importância do Castelo de Salir

Conquistado aos mouros entre 1248 e 1249, o Castelo de Salir fez parte de um sistema defensivo regional, localizando-se numa elevação que domina a área, sobretudo a parte meridional da Serra do Caldeirão. No seu interior, abrigava uma povoação importante para a época.

Terá sido em Salir que o exército do rei se reuniu com o do mestre da Ordem de Santiago D. Paio Peres Correia, uma vez que esta povoação estava num local estratégico, no centro do território algarvio, num local de confluência de antigas estradas.

Após a conquista cristã, o Castelo começa a perder a sua importância, tendo iniciado o seu processo de ruína.
Atualmente, na área musealizada, podem ver-se as ruínas das casas, com os silos escavados na rocha, os arruamentos e canalizações.

Com o propósito de valorizar as ruínas, foi inaugurado em 2002 o Polo Museológico de Salir, onde se encontram expostos materiais recolhidos durante os trabalhos de escavação arqueológica.

 

O que é o ciclo Cozinhando na Paisagem?

cozinhando na paisagem
Cozinhando na Paisagem – Fotografia © Ricardo Soares

Cozinhando na Paisagem integra-se no projeto PALATO e é uma ação performativa sobre sítios históricos e arqueológicos, um espetáculo gastronómico que decorre nos locais com uma paisagem em pano de fundo, abordando temáticas que colocam a Gastronomia de cada época em cruzamento com os hábitos alimentares da sociedade contemporânea.

Em cada sítio histórico, é montada uma infraestrutura improvisada, onde o artista, em conjunto com os investigadores de cada monumento, desenvolve uma ação performativa num formato talk show, cozinhando ao vivo e transmitindo em direto na Internet, assumindo os públicos físicos e virtuais como participantes no processo de criação artística.

Partindo de um menu inspirado nas entrelinhas da História e da Arqueologia, são consideradas as características únicas de cada local e valorizados os fatores paisagísticos, patrimoniais e sociais.

Cada sessão é antecedida por uma visita comentada ao local, desenvolvida em colaboração com as entidades responsáveis por cada sítio histórico.

Todas as sessões são transmitidas em direto, em www.palato.org/transmissao, resultando num conjunto de paisagens virtuais armazenadas no Canal PALATO do site www.palato.org, sendo estas o foco da investigação artística em curso.

Entretanto, depois do Castelo de Tavira, a 5 de Julho, do Abrigo Paleolítico de Vale de Boi (vila do Bispo), a 16 de Agosto, e desta performance de sábado próximo, há já uma série de outras ações confirmadas: Monte Molião (Lagos), a 26 de Agosto, Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa (Crato, Alentejo), a 29 de Agosto, Mercados de Olhão, a 6 de Setembro, e Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe (Vila do Bispo), a 18 de Outubro.

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