Morreu Maria Barroso, uma algarvia do mundo

A algarvia Maria de Jesus Simões Barroso Soares morreu esta madrugada, aos 90 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, […]

maria barrosoA algarvia Maria de Jesus Simões Barroso Soares morreu esta madrugada, aos 90 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, na sequência de uma queda em casa, no passado dia 25 de Junho, que a deixou em estado de coma. 

Ontem, Maria Barroso tinha sido transferida da Unidade de Cuidados Intensivos para um quarto particular, onde acabou por falecer.

O porta-voz do hospital fez hoje, às 8h00, um comunicado aos jornalistas, informando que Maria Barroso morreu às 5h20, após um coma profundo.

Meia hora mais tarde, o mesmo porta-voz informou que o corpo da ex-primeira-dama será velado no Colégio Moderno, em Lisboa, e que as cerimónias fúnebres serão na quarta-feira, a partir das 10h00, na igreja do Campo Grande, próximo da escola a que Maria Barroso dedicou a sua vida, com uma missa de corpo presente. O funeral seguirá para o cemitério dos Prazeres, também em Lisboa.

Maria Barroso nasceu na Fuzeta (Olhão) a 2 de Maio de 1925, filha de um oficial do Exército que era oposicionista, Alfredo José Barroso, e de  Maria da Encarnação Simões, professora primária, sendo a quinta de sete irmãos.

Diplomada em teatro pelo Conservatório Nacional, licenciou-se também em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras de Lisboa. Foi aí que conheceu Mário Soares, com quem se casou em 1949 quando este estava preso no Aljube, por razões políticas, e de quem foi companheira de toda a vida. Tinha dois filhos e cinco netos.

Numa entrevista à rádio Renascença, em 1999, Maria Barroso recordava o primeiro encontro com Mário Soares. “Foi um colega nosso, o João Falcato, que nos apresentou. Eu estava a chorar porque tinha sido impedida de fazer exame a uma cadeira por excesso de faltas. A cadeira era lecionada à tarde e eu faltava bastante porque à uma e meia começavam os ensaios no teatro, mas tinha-me preparado para o exame e não me deixaram fazer. O Mário ia a passar, o João contou-lhe o sucedido e ele mostrou-se muito indignado com a situação”.

Maria Barroso foi atriz, tendo feito o curso no Conservatório, onde foi aluna de grandes mestres, como  Maria Matos e Alves da Cunha. Ingressou no elenco do Teatro Nacional, na companhia de Amélia Rey Colaço/ Robles Monteiro.

Sempre interventiva a nível cívico e cultural, Maria Barroso foi professora e diretora do Colégio Moderno, fundado pelo pedagogo João Soares, seu sogro. Devido à sua intervenção política, antes do 25 de Abril de 1974, chegou a estar proibida de dar aulas.

Ao nível político, foi candidata a deputada pela Oposição Democrática no tempo de Marcelo Caetano, em 1969, fundadora do PS em 1973, tendo sido eleita deputada à Assembleia da República em legislaturas da década de 70 e 80 nomeadamente pelo círculo de Faro.

Presidiu à Cruz Vermelha depois de deixar o cargo de primeira-dama de Portugal e foi fundadora da Pro Dignitate – Fundação de Direitos Humanos, organização que dirige. Foi também fundadora da Fundação Aristides de Sousa Mendes.

Foi distinguida com o título de Doutora Honoris Causa pelo Lesley College (23 de Maio de 1994), pela Universidade de Aveiro (16 de Dezembro de 1996)3 e pela Universidade de Lisboa (3 de Novembro de 1999). Era Professora Honorária da Sociedade de Estudos Internacionais de Madrid. Recebeu também a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade a 7 de Março de 1997.

Numa entrevista recente ao jornal “i”, por ocasião dos seus 90 anos, Maria Barroso disse como gostaria de ser recordada: “uma cidadã modesta mas amante da liberdade, da solidariedade e do amor. A minha palavra preferida, sem qualquer dúvida”.

 

Atualizado às 8h57

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