Espeleólogos algarvios ajudam investigadores e ainda se divertem a fazê-lo

Para uns, são apenas buracos na rocha, dos quais não é possível discernir o fundo. Outros até as olham com […]

Curso Espeleologia Nivel 1 Geonauta_1Para uns, são apenas buracos na rocha, dos quais não é possível discernir o fundo. Outros até as olham com desconfiança e medo. Já para os espeleólogos, as grutas são locais onde há muito que ver e aprender, com o fator emoção sempre presente.

E há cada vez mais aficionados pela exploração e estudo destas cavidades naturais na rocha, no Algarve, alguns dos quais aproveitaram a oportunidade de participar no primeiro Curso de Nível 1 de Espeleologia a ser realizado na região.

No passado dia 23 de maio, 12 formandos beneficiaram de uma ação intensiva, que teve uma componente teórica nas instalações da Universidade do Algarve, mas também uma vertente prática, com a visita a cavidades cársicas no barrocal algarvio. «Correu tudo muito bem. Tive pessoas que saíram da gruta e me pediram para se associar», revelou ao Sul Informação o membro da direção da associação Geonauta André Soares.

Na ação, realizada em parceria com o Núcleo de Biologia da universidade algarvia, participaram «seis biólogos, três biólogos marinhos, um investigador do Centro de Biomedicina Molecular e Estrutural e dois estudantes do curso de património cultural e arqueologia da UAlg».

Para aquele dirigente da associação, que promoveu o curso, esta aposta na formação, a nível local, faz todo o sentido, numa região como a algarvia, que tem centenas de grutas para visitar, muitas delas quase inexploradas.

E a grande prova disso é a ajuda que a associação já deu a projetos de investigação. Recentemente, a Geonauta deu apoio à investigadora portuguesa Sofia Reboleira, da Universidade de Aveiro, na sua investigação, que a levou a descobrir uma nova espécie de pseudoescorpião, numa gruta algarvia.

«Ajudámo-la em várias saídas, ao longo de três anos. E o resultado foi a descoberta do maior inseto subterrâneo da Europa e o segundo maior do mundo. A catalogação que ela fez levou a que a gruta de Vale Telheiro, três quilómetros a Norte de Loulé, fosse considerada a mais biodiversa de Portugal», contou André Soares.

Curso Espeleologia Nivel 1 Geonauta_11

«Neste momento, estamos a trabalhar na elaboração de um mapa 3D desta gruta, para apresentarmos numa conferência internacional de espeleologia, que irá decorrer em Inglaterra, em 2016», acrescentou.

A participação em iniciativas científicas não fica por aqui. «Temos colaborado com projetos daqui da Universidade do Algarve, da professora Cristina Veiga-Pires. Eu trabalhei como técnico no projeto SipClip, em que se tentou perceber o paleoclima do Algarve, com base em estalagmites de grutas de cá da região. Nesta última ronda de projetos da FCT, submetemos novo projeto com ela», revelou.

Os novos espeleólogos com curso de nível 1 vêm juntar-se a outros membros da associação que já detinham esta qualificação e aos «sete ou oito» com o curso de Nível 2 de Espeleologia, o mais alto e que habilita os detentores desta certificação, em que André Soares se inclui, a explorar qualquer tipo de gruta e a dar formação na área.

 

A Geonauta já anda por cá há algumas décadas

Curso Espeleologia Nivel 1 Geonauta_4Oficialmente, a Geonauta é «uma associação espeleológica sem fins lucrativos, que tenta explorar esta disciplina nas vertentes desportiva, científica, educacional, mas também lúdica». «Mas procuramos que a nossa atividade tenha sempre uma componente útil», mesmo quando as saídas são de lazer, segundo André Soares.

A associação nasceu em 1978, fundada por Daniel João, à época professor na Escola Secundária Laura Ayres, de Quarteira. Este aficionado por grutas deu o pontapé a esta coletividade e conseguiu chamar outros entusiastas da espeleologia algarvios, apesar de a falta de recursos, inicialmente, determinar que o material existente fosse «muito rústico, como escadinhas feitas à mão, com sisal e ramos de laranjeira».

Hoje, a associação já conta com outras condições, até porque houve uma fase em que esteve particularmente ativa, no final dos anos 90, altura em que chegou a funcionar como a delegação de Quarteira da Sociedade Portuguesa de Espeleologia. Depois de um período de menor atividade, nos primeiros anos do século XXI, a associação voltou a “animar”, com novos elementos e uma direção renovada.

Ao longo do tempo, a Geonauta contribuiu ativamente para alimentar os registos oficiais sobre as grutas algarvias, tendo sido, durante muitos anos, parceira do então Instituto da Conservação da Natureza, na monitorização de colónias de morcegos, em locais de interesse espalhados pelo Algarve. «Entretanto, já não somos nós que fazemos isso, é uma associação de Lisboa», explicou.

«Também tivemos, durante vários anos, contratos-programa com a Câmara de Loulé, para dar palestras em escolas do concelho. Este ano, depois de um interregno de cinco anos, voltámos a assinar um protocolo com a autarquia louletana», acrescentou.

Veja as fotos do curso e da saída de campo:

 

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