Sem fósforos nem facas, Alcalar propõe refeição à moda da Pré-História

Sem fósforos nem facas, como é que se consegue “desmanchar” um porco, aproveitar toda a sua carne e ossos, e […]

pedro cura_1Sem fósforos nem facas, como é que se consegue “desmanchar” um porco, aproveitar toda a sua carne e ossos, e assá-lo para ser comido? Quem quiser descobrir como tal pode ser possível só terá de ir no domingo, 19 de Abril, aos Monumentos Megalíticos de Alcalar (Portimão), que serão palco de mais uma recriação «Um Dia na Pré-História», iniciativa integrada nas comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.

Aqui, uma equipa especializada neste tipo de arqueologia experimental, vai preparar os alimentos utilizando os instrumentos de pedra, fazer o fogo e cozinhá-los de formas diferentes, como se recuássemos 5000 anos, até aos tempos em que Alcalar era um importante centro do Neolítico, situado num território entre o mar e a serra.

Os mariscos, berbigão, amêijoa e o peixe, que então como agora se podiam recolher no mar, nos rios e nas zonas lagunares, fazem igualmente parte da ementa, que os mais curiosos poderão provar.

O grande mestre cozinheiro de tudo isto será o arqueólogo experimental Pedro Cura, que irá mostrar, com base em estudos e investigação, como seriam preparados os alimentos há cinco milénios, desde a preparação da carne, peixe e marisco, construção de lareira e fornos e todo o processo de cozedura, até ao consumo final.

Não faltará a bebida e o saber do fabrico de cerveja tradicional, de acordo com a investigação já realizada sobre possíveis formas de produção desta bebida na época, também será colocado em prática.

PrintAtravés da “soenga”, os participantes nesta viagem à Pré-História vão também perceber como se realizava o processo de cozedura ancestral da cerâmica, ficando ainda a conhecer as práticas do talhe de líticos (pedras) e outros materiais que possivelmente seriam usadas no fabrico das suas ferramentas, machados, pontas de setas, enxós e flechas, entre outros.

Haverá ainda os tradicionais ateliês, que retratam o quotidiano alcalarense, onde o visitante pode testar a destreza de caçar, tecer, modelar cerâmicas, cultivar, ceifar, moer o cereal, até ao fabrico e cozedura do pão.

Será um dia “de experiências” fundamentadas pelos estudos, já realizados sobre o território Alcalarense, e os trabalhos desenvolvidos por parte de investigadores das universidades de Estugarda (Alemanha), Córdoba e pelo Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa.

Para que a viagem no tempo seja uma realidade, este dia na pré-história conta com encenações realizadas pelo Grupo de Teatro da Escola de Artes da Bemposta. Ao todo, a recriação destas atividades do quotidiano de Alcalar 3000 anos antes de Cristo envolve 40 voluntários, vestidos a rigor.

José Gameiro, diretor científico do Museu de Portimão, principal responsável por esta viagem no tempo, salientou, em entrevista ao Sul Informação, que estas iniciativas de arqueologia experimental são «pioneiras no Algarve». «Não iremos repetir o que já temos feito em outros Dias na Pré-História, em anos anteriores, mas sim apresentar algo de novo, uma forma diferente de recriar a realidade de Alcalar há 5000 anos, através da arqueologia experimental».

Outra novidade desta edição é que o evento organizado pela Câmara Municipal de Portimão, Museu de Portimão e Direção Regional de Cultura do Algarve, extravasa este ano as fronteiras do concelho de Portimão e se estende ao território onde, há 5000 anos, a comunidade de Alcalar desenvolveu as suas atividades, assumindo um caráter intermunicipal, através de uma parceria entre os municípios de Portimão, Lagos e Monchique e as Juntas de Freguesia de Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande.

«Há 5000 anos, Alcalar não era um território limitado pelas fronteiras atuais. Os homens de então pescavam no litoral, caçavam no interior e iam em busca de materiais à serra. Por isso, desta vez conseguimos envolver três municípios e três freguesias, de modo a tornar este evento algo que verdadeiramente envolva estes territórios», explicou José Gameiro.

Pedro Cura e a arqueologia experimental
Pedro Cura e a arqueologia experimental

A iniciativa «Um Dia na Pré-História» integra a programação das Jornadas de «Porta Aberta» da Cultura, no âmbito do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, bem como faz parte do programa de Dinamização e Valorização dos Monumentos (DiVaM), promovido pela Direção Regional de Cultura.

O evento decorrerá no domingo, entre as 10h00 e as 16h30, tendo entrada livre. Conta com o apoio do Continente, Hotel Júpiter, Restaurante Restinga e do Grupo de Amigos do Museu de Portimão, que se candidatou pela primeira vez, este ano, a um apoio da Direção Regional de Cultura no âmbito do DiVaM, verba que permite, por exemplo, pagar a deslocação do arqueólogo experimental, bem como outros aspetos do evento.

Ainda no âmbito das comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, no sábado, dia 18, das 10h00 às 12h00, haverá visitas comentadas em Alcalar, com as arqueólogas Elena Móran e Isabel Soares.

À tarde, às 17h00, numa iniciativa conjunta com o Grupo Amigos do Museu de Portimão, terá lugar uma redescoberta de Portimão, através do passeio «Pelas Margens da História», a partir do Museu de Portimão até ao Largo da Barca.

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