Pirilampos: eles piscam, piscam…o que são?

A Primavera vai gradualmente dando lugar ao Verão, os dias são mais longos e a temperatura convida a um passeio […]

Cartoon Pirilampos creditos Daniel Ribeiro e Sara Martins(1)A Primavera vai gradualmente dando lugar ao Verão, os dias são mais longos e a temperatura convida a um passeio pelo campo. Um passeio longe de casas e de luzes, evitando terrenos cultivados com zelo, pesticidas e outros que tais. Um passeio por matas de erva húmida povoada de caracóis e… Sem aviso, de repente, parece que o céu cintilante cai aos nossos pés.

Serão estrelas? Serão faróis? Serão indícios de uma festa psicadélica no meio do nada? Não! São pirilampos, de seu nome científico “Lampyris” que é quase como quem diz lanterna em latim.

Mas os pirilampos também são conhecidos por muitos outros nomes: luzecus, lumieiros, vaga-lumes e outras palavras terminadas em lume como “defeca”-lume, mas dito de modo mais prosaico.

Vamos conhecê-los melhor? Como qualquer insecto, o pirilampo adulto possui o corpo segmentado em cabeça, tórax e abdómen, tem 3 pares de patas e um par de antenas.

Adicionalmente, tal como as joaninhas, os escaravelhos, os besouros e os gorgulhos com quem partilham a ordem “Coleoptera” (são coleópteros portanto) ostentam dois pares de asas. Um par exterior, rígido, de protecção, e outro interior muito mais frágil que lhes permite efectivamente voar.

Os pirilampos possuem ainda um par de olhos bem grandes. As fêmeas são geralmente maiores do que os machos, e quer uns quer outros chamam pouco a atenção com o seu corpo preto ou castanho escuro (os anéis posteriores do abdómen são ligeiramente esverdeados) até que “resolvem” começar a piscar.

Aí sim! É a bioluminescência no seu esplendor, ou seja, a emissão de luz visível os nossos olhos, por parte de um organismo vivo. Esta característica deve-se a um processo biológico complexo em que participam: uma substância chamada luciferina, uma proteína denominada luciferase e o oxigénio.

Depois, por “artes mágicas” que a química explica, resulta energia sob a forma de luz (90%) e calor (10%). A luz dos pirilampos é pois uma luz fria, altamente eficiente, que atira para um canto qualquer lâmpada de incandescência (nesta só 10% da energia emitida é luz) ou mesmo de halogéneo (cerca de 50% mais eficientes do que as anteriores).

Mas por que é que os pirilampos se dão a este nível de ostentação e exibicionismo? Fazem-no por várias razões que vão desde a defesa em relação a predadores a, e sobretudo, comportamentos associados a rituais de acasalamento.

Piscam as fêmeas com um padrão próprio da sua espécie para atrair os machos correctos. Piscam os machos como mensagem de aproximação “já estou a ir”.

Como após o acasalamento as fêmeas deixam de piscar, aparentemente as que mais piscam são aquelas para quem a noite “não está a correr bem”.

Os pirilampos estão a desaparecer devido à poluição luminosa que baralha os indivíduos dificultando a sua comunicação/reprodução, e também à poluição química que mata as presas de que eles se alimentam.

Esta última é, aliás, uma particularidade que os torna bioindicadores. Ou seja, a sua presença num dado habitat (ambiente) dá-nos informação sobre o estado desse mesmo habitat, nomeadamente no que respeita à sua qualidade quanto aos níveis de poluição química.

Mas não são só os motivos anteriores que ameaçam os pirilampos. A aura mágica que os envolve torna-os ímanes de mãos curiosas e pouco cuidadosas (ou mesmo maldosas) que os fecham em frascos para gozo próprio e assim os mandam “desta para melhor”.

Podemos passear pelo campo. Podemos ver os pirilampos. Podemos tentar perceber os seus padrões de cintilação. Mas que o nosso nível de interferência termine aí! Em 2015, Ano Internacional da Luz decretado pela Organização das Nações Unidas, vamos dar luz a esta ideia e deixar os pirilampos brilhar. Ups! Piscar.

 

Autora: Alexandra Nobre (Bióloga – Comunicadora de Ciência)
© 2015 – Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva

 

Alexandra Nobre

Licenciada em Biologia (ramo de Investigação Científica) pela Faculdade de Ciências de Lisboa (1988), mestre em Biotecnologia pelo Instituto Superior Técnico (1994) e doutorada em Ciências pela Universidade do Minho (2004).

Em 1998 entrou como assistente para o Departamento de Biologia da Universidade do Minho onde é professora auxiliar desde 2004. Lecciona principalmente nas áreas da Microbiologia, Biotecnologia Microbiana e Bioquímica/ Fisiologia Microbianas Para além da educação formal, desde sempre se fascinou pela comunicação de Ciência a diferentes públicos não especializados, numa vertente de comunicação não formal e informal, quer pelo envolvimento e empenho dos diferentes grupos, quer sobretudo pela vertente de educação para a cidadania e aumento de literacia científica desses mesmos públicos.

Uma sociedade mais informada é uma sociedade com maior capacidade de decisão e que faz escolhas mais conscientes e acertadas.

Neste sentido, há vários anos que se dedico a Comunicação de Ciência de forma mais intensiva, tendo estado envolvida na fundação de um grupo (STOL-Science Through Our Lives – ) que se dedica exclusivamente a esta actividade.

 

Nota: Este texto não foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico de 1990.

 

 

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