Os produtores de aguardente de medronho do Algarve vão poder pedir a certificação de Indicação Geográfica Protegida (IGP) dos seus produtos, muito em breve.
O processo de consulta pública necessário à criação desta certificação já está concluído, o que significa que «dentro de poucos dias teremos a IGP do medronho algarvio».
A iminência da aprovação deste selo foi anunciada na passada semana pelo diretor regional da Agricultura e Pescas Fernando Severino, à margem da sessão de atribuição dos prémios «Valores do Território», concedidos no âmbito das jornadas técnicas «Fruteiras Tradicionais do Algarve: Tradição e Inovação», dinamizadas pela associação In Loco, em parceria com diversas entidades.
No entanto, o processo promete ainda dar que falar, uma vez que, esta segunda-feira, os presidentes das Câmaras de Almodôvar, Ourique e Odemira tornaram pública a sua contestação à inclusão na área de influência da IGP de oito freguesias daqueles concelhos, «à revelia dos produtores, associações e autarcas alentejanos».
Os autarcas destes três concelhos apelaram, numa nota de imprensa conjunta, para que os responsáveis pela IGP «retrocedam nos seus propósitos», mostrando-se dispostos a ir «até às últimas instâncias» e avançar para a impugnação judicial do registo.
A questão levantada pelos autarcas alentejanos não deverá, ao que tudo indica, inviabilizar este processo. Ainda antes da tomada de posição pública dos edis alentejanos, o presidente da Apagarbe – Associação de Produtores de Medronho do Barlavento Algarvio José Paulo Nunes já havia referido, ao Sul Informação, que tinha sido ponderada a inclusão de freguesias de concelhos alentejanos limítrofes, mas que esta já tinha sido colocada de lado.
José Paulo Nunes: “Esta certificação vai reforçar a diferença em relação aos outros produtos que estão no mercado”
Assim, será feito um pedido formal «para a retirada destas freguesias da IGP». Uma medida que vai ao encontro das exigências dos autarcas alentejanos, que defendem que a eventual inclusão destas oito freguesias na IGP Algarve «condicionaria decisivamente o processo de dinamização da produção de aguardente de medronho no Alentejo, atualmente em curso».
Mesmo sem esta polémica, a iminente aprovação da IGP pela Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, anunciada por Fernando Severino, não significaria que a certificação começasse a ser atribuída já.
Segundo o presidente da Apagarbe José Paulo Nunes, «ainda falta limar algumas arestas», mas tudo deve estar resolvido «dentro de poucos meses». Em causa, está a criação de um regulamento, que enquadre o processo de certificação, e a sua aprovação pela entidade independente que certificará a Aguardente de Medronho do Algarve, no futuro.
O que é já uma certeza é que quem queira associar o selo Algarve à sua aguardente, terá de se submeter a um processo onde, entre outras coisas, «a origem do medronho será cadastrada». Isso evitará que sucedam situações em que o nome do Algarve seja associado a produtos com medronho de outras regiões, como «já aconteceu».
Esta certificação, acredita José Paulo Nunes, traz vantagens tanto a produtores, como aos consumidores. Quem compra o produto passa a ter «uma garantia de qualidade e um produto no qual pode ter confiança absoluta».
A confiança no produto, por parte do consumidor, dá uma vantagem competitiva a quem vende a aguardente. «Esta certificação vai reforçar a diferença em relação aos outros produtos que estão no mercado», ilustrou o presidente da Apagarbe.
À margem da sessão, Fernando Severino explicou que o processo foi muito impulsionado pelos jovens agricultores de medronho da região e que a produção este fruto foi uma das apostas dos novos agricultores no último quadro comunitário de apoio.
O diretor regional de Agricultura e Pescas do Algarve também salientou a importância de ter uma IGP para a aguardente de medronho algarvia. «Assim, as pessoas sabem que, quando bebem uma aguardente certificada, estão a consumir um produto de qualidade, genuíno e com caraterísticas garantidas», ilustrou.
E, acrescentou, apesar de o processo estar a ser dirigido por uma associação de produtores do Barlavento, «a única associação do setor na região», a medida «é a bem de todo o Algarve». Ou seja, desde que o medronho seja algarvio, qualquer produtor pode pedir a sua certificação, desde que cumpra as normas que serão agora regulamentadas.
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