Riqueza desprezada: 2. Turismo Residencial

Fomos um país pobre, com um povo esforçado, que aproveitava tudo que pudesse. As famílias plantavam a sua horta, colhiam […]

Fomos um país pobre, com um povo esforçado, que aproveitava tudo que pudesse. As famílias plantavam a sua horta, colhiam frutas e frutos secos, o povo usava bicicleta. Éramos felizes, tínhamos ouro no cofre central, muitos o tinham em jóias, mas não havia liberdade de falar.

Hoje temos em todo Portugal uns 380 mil fogos para vender/arrendar há 12 meses, fechados. Um investimento de 40 mil milhões, sem uso. Se este valor tivesse sido destinado às PME, elas teriam competitividade, estaríamos a exportar o dobro, e quase sem desemprego.

Estima-se termos 40 mil imóveis fechados no Algarve e na Costa Vicentina, que poderiam ser vendidos a estrangeiros.

Mas…

1. Há risco de se perder valores; a burocracia exige contratar-se um advogado para tratar da compra, feita por um estrangeiro. Ao contrário de outros países, aqui não existe uma agência única, como a conservatória, que garante o imóvel estar pronto para a venda, sem hipoteca, IMI atrasado, etc.

2. Muitos proprietários pensam ainda estarmos em 2010 e dão algum minidesconto em preços que então já estavam 45% acima do valor aceitável. Esta arrogância em não negociar repele a maioria dos Norte-Europeus.

3. Muitos acreditam nos jornais, que a venda de imóveis está a subir, que os golden visa trazem milhares de compradores. Há umas centenas, não dez mil imóveis assim vendidos, em geral na faixa de 0,5 milhão ou mais.

4. Para captar o cliente, muitos mediadores avaliaram o imóvel por cima e agora têm vergonha de recomendar ao cliente que o venda pelo preço oferecido. Preferem não vender o imóvel do que deflacionar o mercado.

5. A banca avaliou obras a preços de 2008 e prefere ter no seu balanço este ativo como crédito a receber, do que aceitar que é obrigada a vendê-las a qualquer preço, para ter tesouraria em vez de papel. Nos próximos meses, o Banco de Portugal terá que obrigá-la a vender a qualquer preço, para reforçar a tesouraria, para evitar colapsos similares aos do BPN.

SOLUÇÕES

1. Muitos querem fazer obras ao adquirir uma residência de férias por cá. Temem não ter as suas pretensões aprovadas pela autarquia. Ali com frequência há técnicos que levantam dificuldades para vender facilidades. Se o mediador, que conhece bem a autarquia, se prontificar a acelerar a aprovação, vende.

2. O arrendamento com venda condicionada permite ao potencial comprador sentir a moradia, o bairro, os vizinhos, antes de pagar elevado valor e depois ver-se insatisfeito. Este arrendamento, em geral por dois anos, é deduzido do valor da venda, se realizada. Mas os mediadores querem receber a sua parcela na transação inicial, têm pressa, não ouvem o cliente.

3. Alguns grandes mediadores e bancos, em parceria com um estrangeiro, trazem grandes grupos para ver imóveis no Algarve/Alentejo. E mostram o que lhes apetece vender mais. Ora, cada comprador tem um perfil diferente e não se interessa em ver uns vinte imóveis quaisquer. Acaba por ficar insatisfeito com a insistência em algo que lhes foi mostrado e não o que deseja.

Estas razões e outras fazem com que muitos clientes para os nossos imóveis acabam por ir para outras zonas, como o Norte ou pior, Tânger, Turquia, Canárias, Cabo Verde.

 

Jack Soifer é autor dos livros «Como sair da Crise», «Transportes», «Portugal Rural», «Algarve/Alentejo – My Love» e «Ontem e Oje na Economia»

 

Comentários

pub