Um casal de linces ibéricos criados em cativeiro foi reintroduzido no meio natural, esta terça-feira, no Parque Natural do Vale do Guadiana, em Mértola.
Uma ação inédita em Portugal, que dá início a «um novo período na história» da presença, em território nacional, destes felinos criticamente ameaçados de extinção.
Este é o primeiro passo de um projeto mais amplo, que prevê a libertação de um total de 10 linces ibéricos, em Portugal, até ao final do primeiro semestre de 2015.
Esta foi a primeira vez que linces ibéricos foram devolvidos à natureza, em território nacional, apesar de vários animais nascidos no Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico (CNRLI) já terem sido libertados, em Espanha, ao abrigo de uma parceria transfronteiriça.
Por cá, os primeiros linces a voltar ao seu meio natural, foram Jacarandá, nascido no centro de reprodução de Silves, e Kathmandú, que vem de um centro em Granadilla, Espanha. Os dois jovens linces, nascidos em 2012 e 2013, respetivamente, «estarão cerca de um mês no cercado de soltura branda, antes de se aventurarem em completa liberdade na herdade em São João de Caldeireiros».
«Ambos fazem parte do programa de conservação do lince ibérico, que conta já com mais de 10 anos, apresentando resultados muito positivos no âmbito da reprodução. Desde 2009, o CNRLI já acolheu 86 linces, 58 dos quais nasceram neste centro em Silves. Do total, 38 linces ibéricos já foram libertados», ilustrou o Ministério do Ambiente, numa nota de imprensa.
Fotos: MAOTE
O otimismo do Governo contrasta com as dúvidas e críticas por parte do poder local. A Câmara de Mértola já veio a público considerar a atual reintrodução de linces ibéricos no seu concelho como um processo «apressado, mal preparado, incorreto» e até «em desconsideração» pela população local.
Para o presidente da autarquia mertolense Jorge Rosa, «não basta soltar o lince para o processo ser responsável, têm de se criar condições para o manter, o que não aconteceu até aqui». Ainda assim, a Câmara afirma-se a favor da reintrodução desta espécie.
A tutela frisou, ainda, que «o lince ibérico é um símbolo da conservação dos ecossistemas mediterrânicos», depois de ter estado muito próximo da extinção total, em Portugal, nos anos 90.
Basta referir que o lince ibérico, espécie endémica de Portugal e de Espanha, foi classificado, pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), como o felino mais ameaçado do mundo.
«O CNRLI tem sido essencial na estratégia de conservação dos linces ibéricos e trabalha em conjunto com os outros quatro centros localizados em Espanha, no âmbito do projeto LIFE Iberlince, que junta a Península Ibérica em torno de um objetivo comum: atingir um número de linces que garantam a sobrevivência da espécie e a diminuição do grau de ameaças», acrescentou.
A libertação deste casal de linces foi acompanhada pelo ministro do Ambiente Jorge Moreira da Silva e pelo secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza Miguel de Castro Neto.
Sobre os novos habitantes do Parque Natural do Vale do Guadiana:
Jacarandá
Ano de nascimento: 2012
Sexo: Feminino
Jacarandá é filha da Flora (sua primeira ninhada) e do Foco, e nasceu em 2012, numa ninhada de 3 animais – Jedi, que campeia ainda por Guadalmellato, Andaluzia, e Janga, que campeia ainda em Guarrizas, Andaluzia. Os seus 2 irmãos foram reintroduzidos em Junho de 2013 e seguem aparentemente bem nos seus territórios.
A Jacarandá nasceu a 21 de Março de 2012. Foi um dos animais mais dominantes da sua ninhada, e tolera muito pouco a presença de humanos. Está em treino para reintrodução desde Setembro de 2012.
Katmandú
Ano de nascimento: 2013
Sexo: Masculino
O Katmandú é irmão de Kalama e Keres, um macho e uma fêmea. Nasceram a 15 de Março de 2013 no Centro de Cria de Zarza de Granadilla, filhos de Fárfara e de Galeno. Kalama permanece em Zarza de Granadilla, e Keres será reintroduzido brevemente em Montes de Toledo.
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