António Zambujo e a Rua da Emenda: «isto sou eu»

«A Rua da Emenda é o registo do momento… É a minha forma de cantar em 2014. A minha forma […]

António Zambujo_1«A Rua da Emenda é o registo do momento… É a minha forma de cantar em 2014. A minha forma de abordar as músicas, de tocar e de compor». As palavras são de António Zambujo, que lançou a 14 de Novembro o álbum «Rua da Emenda», a sua anti emenda, o sucessor de «Quinto» (2012).

É precisamente por aqui que a conversa começa, uma vez que os álbuns são lançados, habitualmente, à segunda-feira. No caso de Zambujo, o lançamento foi antecipado e chegou a uma sexta-feira. Porquê? «É para a malta comprar o álbum e ir para os copos a seguir», responde. Mas espera-se que sem lugar a arrependimentos.

As gravações do sexto trabalho de António Zambujo iniciaram-se no Verão deste ano (no Atlantic Blue Studios) e, no intervalo entre os dois registos, Zambujo conta, em entrevista à Rádio Universitária do Algarve (RUA FM) e ao Sul Informação, que estes dois anos foram preenchidos «com muitos concertos, muitas viagens, muita conversa com os músicos e com os autores que me acompanham».

Mas, porque um músico não deve isolar-se no seu próprio trabalho, António confidencia que andou a «ouvir muitos discos e a ver muitos concertos», um trabalho que considera fundamental e que fez com que, durante os últimos dois anos, «nos fôssemos sempre transformando um bocadinho, como é natural».

António Zambujo: «andei a ouvir muitos discos e a ver muitos concertos» e isso fez com que «nos fôssemos sempre transformando um bocadinho, como é natural»

E é naturalmente que Zambujo volta a rodear-se de amigos para compor este álbum. No entanto, «Rua da Emenda» surpreende não só pela música que a rodeia e pela voz que nos guia, mas também pelas parcerias de longa data , como é o caso de Maria do Rosário Pedreira, José Eduardo Agualusa, João Monge ou Ricardo Cruz, que abraçam as novas participações de José Fialho Gouveia (Viver de Ouvido, gravada por António Zambujo em casa, com um iphone), Samuel Úria (Valsa do Vai não Vás) e a Banda de Música dos Empregados da Carris (Pica do 7).

Viajando pelas novas colaborações, o senhor da «Rua da Emenda» explica que a participação de Samuel Úria partiu de um desafio aquando das gravações d’O Grande Medo do Pequeno Mundo (Samuel Úria, 2013), quando se lembrou que tinha uma música para lhe mostrar. «Gostei muito do tema e ficou. É a Valsa do Vai Não Vás», conta António.

No caso do José Fialho Gouveia, Zambujo diz que «já foi há algum tempo que me enviou algumas letras para eu ver o que é que eu achava e se me inspiraria. E a Viver de Ouvido inspirou-me bastante e acabou por ficar».

António Zambujo_2Nas novas colaborações, há também a Banda de Música dos Empregados da Carris, descoberta por Ricardo cruz, o produtor musical. Zambujo explica que «já não estávamos a fazer o disco e o Ricardo leu num jornal, numa notícia que surgiu à frente dele por acaso, que a Banda da Carris ainda existia. Ao saber disto, entrámos em contacto com a banda, uma vez que, no caso do Pica do 7, existindo a Banda da Carris, fazia todo o sentido que eles participassem».

António recorda ainda que, além dos novos nomes, há uma série de parceiros que já vêm de outros discos e que «seguramente irão ficar por muitos e longos anos».

Quem conhece António Zambujo sabe com o que pode contar. No entanto, a questão é inevitável: ao passear por este «Rua da Emenda» o que é que vamos encontrando? «São músicas que eu escolhi para este álbum com as tais parcerias que referi». Quanto ao processo, «pensámos um disco como um disco e não como um conjunto de músicas. Depois surgiu esta seleção e acabou por ficar assim», explica.

E o que é, para António Zambujo a «Rua da Emenda?» A resposta não poderia ser mais sincera: «é um disco». A «Rua da Emenda» é o «registo do momento em que eu estou agora. É a minha forma de cantar em 2014. A minha forma de abordar as músicas, de cantar, de as tocar, de as compor. Nós estamos em permanente transformação e, neste momento, as coisas estão assim, daqui a dois anos seguramente que estarão um pouco diferentes, mas nesta altura é isto. Eu sou isto», conclui.

António Zambujo: «Rua da Emenda» é o «registo do momento em que eu estou agora. É a minha forma de cantar em 2014»

Quando a RUA e o Sul Informação conversaram com Zambujo, faltavam poucos dias para a decisão relativa à aprovação do cante alentejano como Património Imaterial da Humanidade, mas a opinião de António Zambujo é intemporal. Questionado sobre a sua opinião, uma vez que também é alentejano, o artista salientou que está a haver «renovação e uma preocupação em criar novos grupos e em passar a mensagem para pessoas mais jovens. Existe agora uma mistura de experiência com novos valores e eu acho que isso é a mais valia para manter um género bem ativo».

No entanto, na sua opinião, «falta a renovação de repertório, cantar coisas novas, coisas atuais, algo que foi feito com o fado e que eu achei muito interessante, mas com o cante alentejano isso ainda não existe». Zambujo defende que «com ou sem candidatura, é importante a renovação».

De regresso ao novo registo, até ao fim do ano, «Rua da Emenda» vai andar por Portugal. Em Janeiro ruma a França e a partir daí é «continuar a tocar, tocar e tocar».

Eu só sei viver de ouvido nunca leio as instruções mas sei ler o teu vestido sei abrir os teus botões são as palavras que fecham o disco. É a voz despida de António Zambujo que floresce álbum após álbum. Descontraído, simples e sofisticado, uma viagem pela sonoridade a que tão bem nos habituou.

 

Oiça aqui a entrevista na íntegra.

 

 

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