Empreender em tempo de crise é para gente com «Sangue na Guelra»

Arriscar começar o seu próprio negócio, numa altura de crise profunda, é coisa de quem tem “sangue na guelra”. Algo […]

Beta Talk_julho_01Arriscar começar o seu próprio negócio, numa altura de crise profunda, é coisa de quem tem “sangue na guelra”. Algo que não falta a Ana Músico e Paulo Barata (em dose tripla) e a Elisabete Rodrigues, cofundadora e diretora do jornal Sul Informação, que foram os convidados da Beta Talk, em Portimão, na sessão em que esta iniciativa de promoção do empreendedorismo assinalou o seu segundo aniversário.

Dois negócios com objetos bem distintos, apesar de os empreendedores terem uma base comum: a área da comunicação social.

No caso de Elisabete Rodrigues, o negócio que criou com mais dois jornalistas é nesta área. O Sul Informação está quase a completar três anos de existência, período durante o qual se afirmou como um jornal de referência no Algarve e Baixo Alentejo e inovou ao nível de formato e de conteúdos disponibilizados, a nível regional.

Beta Talk_julho_02Já quanto a Ana Músico e Paulo Barata, estiveram muitos anos ligados à comunicação social, ela como jornalista, ele como fotógrafo, e a vida levou-os a criar um negócio que alia a vertente da comunicação à da restauração e gastronomia, uma paixão comum.

O casal portimonense encontrou a sua oportunidade fora da região, depois de criar a agência «Amuse Bouche – comunicação com sabor». Através da empresa, lançaram o projeto «Sangue na Guelra», uma proposta inserida na iniciativa «Peixe em Lisboa», que envolve chefs, portugueses e estrangeiros, que trabalham nalguns dos mais conceituados restaurantes do mundo.

«Este é um projeto de vida, meu e do Paulo. Foi uma ideia maluca, muito livre e espontânea, mas que resultou muito bem. Convidamos chefs para cozinharem produtos da costa, usando produtos tradicionais», descreve Ana Músico.

Antes de chegar ao «Sangue na Guelra», os dois empreendedores tiveram de trilhar um caminho nem sempre fácil. Ana Músico, que trabalhou muitos anos na imprensa regional, foi para Lisboa à procura de outras oportunidades.

Beta Talk_julho_03Ali, foi jornalista freelancer. «No fundo, toda a minha vida tive de criar o meu próprio trabalho», referiu. Entretanto, tornou-se a responsável pela comunicação do festival de gastronomia do Vila Joya, cujo restaurante ocupa, atualmente, a 22ª posição na lista de melhores restaurantes do mundo e tem duas estrelas Michelin.

É aqui que ambos conhecem o chef Dieter Koschina, que os influenciou de forma profunda. O conceituado chef acabou por ter um papel importante na criação da «Amuse Bouche». «Há alguns anos, fui com o Dieter Koshina a Tóquio e acabei pro fazer uma capa para a Volta ao Mundo», revelou Paulo Barata.

A partir daqui, dedicou-se a este tipo de trabalho e foi numa das suas viagem que surgiu a ideia do «Sangue na Guelra». «Há dois anos, tudo mudou quando fui convidado para fotografar o chef Jamie Oliver, em Modena. Ele não apareceu e eu fui bater à porta do chef Massimo Boturra, o 13º do mundo. Foi numa conversa com o sub-chef dele que surgiu a ideia», contou.

Beta Talk_julho_08No fundo, o «Sangue na Guelra» aproveita o conhecimento já bem profundo dos braços-direitos dos melhores chefs do mundo, jovens de grande talento que crescem, profissionalmente, nas cozinhas dos mais conceituados restaurantes.

O evento consiste em dois jantares, com assinatura de chefs convidados, para 50 a 55 pessoas, em que há uma forte aposta nos produtos locais. «Dá muito trabalho. Eles apresentam-nos listas de compras incríveis, onde demonstram um conhecimento profundo sobre os nossos produtos», disse Ana Músico.

Entretanto, o conceito já foi alargado e saiu para fora do «Peixe em Lisboa». Os dois empreendedores lançaram o projeto «Origens», onde esta metodologia é usada em eventos realizados ao longo de todo o ano.

Um caminho de sucesso, que já valeu convites para levar o conceito «a Barcelona e aos Açores». «Nunca abandonem uma ideia, se acharem que ela é boa», aconselhou Ana Músico.

 

De pequenina se aprende a dirigir jornais

Beta Talk_julho_05No sangue de Elisabete Rodrigues, corre o bichinho da escrita desde que a hoje diretora do Sul Informação era bem jovem. «Cheguei a ter um jornal, feito à mão, com um grupo de jovens de escola de que eu fazia parte, em Lagoa», contou.

Quando cresceu, a brincadeira tornou-se algo muito sério e, após ter tirado o curso de Comunicação Social na Universidade Nova de Lisboa, enveredou pela carreira de jornalista. E, já então, mostrava perseverança.

«Quando estava no último ano do curso, soube que o semanário O Jornal, que na altura rivalizava em importância com o Expresso, estava a admitir estagiários. E fui lá bater à porta, mas eles até já nem queriam mais estagiários. Só que eu passei a ir lá uma vez por semana, ao longo de uns dois meses, de portefólio debaixo do braço, à espera de ser recebida pelo diretor. E um dia, talvez farto de me ver lá, o diretor acabou por me receber. E eu acabei por ficar a estagiar n’O Jornal».

À primeira oportunidade, regressou ao Algarve, para trabalhar na área e aqui se manteve, desde então. Depois de ser correspondente d’O Jornal, da agência Notícias de Portugal (atualmente Lusa) e do jornal O Independente, integrou os quadros do Diário de Notícias, onde trabalhou dez anos, primeiro na delegação de Portimão, depois da de Faro.

«Em 1999, quando ainda trabalhava no Diário de Notícias, fiz uma entrevista ao administrador do Grupo Alicoop. Passado algum tempo, fui convidada para liderar o projeto de um jornal regional de qualidade, no Algarve. Queriam que eu fosse diretora de um novo jornal, a criar, mas sugeri que comprassem um título já existente», revelou.

Beta Talk_julho_06A Alicoop comprou, então, o jornal Barlavento, do qual Elisabete Rodrigues foi durante mais de uma década a chefe de Redação. A partir do momento em que passou para a alçada da Alicoop, este semanário passou a ter uma «redação 100 por cento profissional», algo que durou até 2011, altura em que todos os jornalistas rescindiram contrato, por salários em atraso.

O Sul Informação nasceu poucos meses depois, fundado por um grupo de três jornalistas – que inclui ainda Hugo Rodrigues e Nuno Costa – que trabalhavam juntos há anos.

«O nosso é um verdadeiro projeto jornalístico. Nós fazemos um jornal com informação própria, com temas desenvolvidos pela nossa equipa e vamos aos locais fazer reportagem. Isso é que é jornalismo, não é preencher páginas de jornal com notas de imprensa, às quais nem se muda uma vírgula», sublinhou.

O único problema é que «nós os três sempre fomos jornalistas, mas não tínhamos experiência como empresários. E o Sul Informação, para sobreviver e crescer, tem também de ser um projeto empresarial. Estes três anos têm sido, a esse nível, de crescimento, sobretudo para mim. É que, com as minhas funções de diretora acabo por ter de ser eu a preocupar-me mais com a gestão do jornal».

E que conselhos deixa Elisabete Rodrigues para outros empreendedores? «Nunca desistam e vão aprendendo com os erros. E, sobretudo, lutem por fazer aquilo que gostam. Só gostando do que se faz se arranja forças para continuar e nunca baixar os braços», concluiu.

 

Fotos de: Duarte Costa

 

 

 

 

 

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