Monchique quer criar «cluster empreendedor» em parceria com Universidade do Algarve

O Município de Monchique quer estabelecer uma parceria com a Universidade do Algarve para instalar, no concelho, um «cluster empreendedor», […]

O Município de Monchique quer estabelecer uma parceria com a Universidade do Algarve para instalar, no concelho, um «cluster empreendedor», uma espécie de ninho de empresas ligado à valorização de recursos como a pedra, a madeira e a água.

Este foi um dos dois desafios lançados pelo presidente da Câmara Rui André ao reitor da UAlg, durante a recente visita de António Branco ao concelho de Monchique.

O autarca monchiquense explicou que a criação do «cluster empreendedor» se destinaria a atrair a este concelho serrano «gente com ideias e vontade de fazer», em especial nas áreas ligadas a três dos mais fortes recursos locais – a pedra, a madeira e a água -, um trio que serviu de base temática à visita do reitor António Branco.

«Está em fase de arranque o Parque Empresarial de Monchique, que já foi aprovado pela CCDRA, e permitirá dotar finalmente o concelho de uma área para a localização de empresas. Mas não queremos mais do mesmo, queremos sobretudo empresas inovadoras, que tragam diferença e criem emprego», explicou Rui André, na apresentação dos dois desafios da autarquia.

O segundo desafio é a criação, também em parceria com a UAlg, de um Centro de Saber e Conhecimento, «tipo Centro de Ciência Viva, mas tendo como temas a água, a pedra e a floresta».

O objetivo de Centro de Saber seria promover a «investigação, o estudo e a divulgação pedagógica dos recursos hídricos, geológicos e florestais».

«Sei que um Centro de Ciência Viva não é competência da Câmara Municipal, nem da Universidade do Algarve, mas tudo irei fazer para que isso seja uma realidade e peço a colaboração da universidade».

Além dos desafios, cujo lançamento culminou a parte final da manhã de trabalho durante a visita da equipa reitoral ao concelho de Monchique, Rui André exortou ainda a Universidade a ver o seu município como «um manual vivo de geologia, biodiversidade, turismo e vida social», que pode interessar aos investigadores, professores e estudantes da academia algarvia.

As autarquias, acrescentou, «são parceiras ativas em estágios e projetos», que podem ser «muito interessantes» para ambas as partes.

 

Reitor também lançou um desafio

Na resposta, o reitor da Universidade do Algarve disse que «os desafios são bem vindos», garantindo que os vai transmitir a quem de direito na academia. Salientou também a «evidente vontade de um concelho, que luta com dificuldades, de não atirar a toalha ao chão, e de continuar a lutar. É um exemplo muito grande para uma universidade, como a nossa, que também está a atravessar dificuldades muito grandes».

António Branco acrescentou que as visitas que tem estado a fazer aos 16 concelhos algarvios permitem conhecer as suas dificuldades, mas também conhecer «exemplos de boas práticas com os recursos que têm». E isso, sublinhou, é «uma atitude empreendedora», já que «o empreendedorismo é uma atitude de vida».

Quanto ao comentário feito pelo autarca Rui André, de que a Universidade deveria formar «mais empreendedores e menos empregados», o reitor defendeu que «a Universidade deve apoiar tudo o que permite aos seus estudantes formados ganhar mais autonomia na sua vida». No entanto, frisou, «gostaria também que a Universidade não deixasse de ser referência para a formação de bons empregados».

Mas o reitor António Branco, como sempre tem feito ao longo deste ciclo de visitas aos diversos concelhos algarvios, não se limitou a ouvir. E também ele lançou um desafio: «mudar algo de impacto geracional».

E o que é então, na sua visão, necessário mudar? «A forma como hoje é desvalorizada a formação superior», uma vez que se criou a ideia «de que estudar não vale a pena».

«Este é um fenómeno traduzido em números: Portugal é um dos países com a percentagem mais baixa de jovens que terminam estudos secundários e continuam para a universidade», salientou.

António Branco defendeu que «isto é um perigo para uma sociedade tão jovem como a nossa», por isso, exortou os municípios, nomeadamente o de Monchique, «a dar uma ajuda na mudança desta forma de pensar». «Há uma espécie de depressão educativa, que acho que o município pode ajudar a combater».

O presidente da Câmara Rui André, que aceitou o desafio do reitor António Branco, já tinha revelado que o Município de Monchique tem aprofundado a sua política de apoio às famílias e aos jovens, nomeadamente com a atribuição de bolsas de estudo.

«Tem havido um grande incremento de jovens de Monchique a estudar na universidade. O problema é que a maioria desses jovens acaba por nunca voltar». Porquê? Sobretudo por falta de emprego.

«Somos um concelho com grande riqueza natural, patrimonial, um grande saber fazer em muitas áreas», que, em alguns casos, já vai sendo traduzido na criação de empresas e de emprego. «Mas, passados 40 anos de acesso facilitado ao ensino, não temos em Monchique um engenheiro florestal, um engenheiro de produção animal, um engenheiro alimentar. Alguma coisa falhou aqui…», lamentou o autarca monchiquense.

Por isso mesmo, o autarca deposita grandes esperanças na concretização dos desafios que colocou ao reitor da UAlg.

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