GIPS da GNR colaboram pela primeira vez em derrocada controlada em arribas instáveis

A operação de derrocada controlada de blocos da arriba por baixo do Forte de Santa Catarina, na Praia da Rocha, […]

A operação de derrocada controlada de blocos da arriba por baixo do Forte de Santa Catarina, na Praia da Rocha, que está a decorrer ao longo desta quinta-feira, tem tanto de espetacular como de inédito.

É que não é todos os dias que os banhistas e outros curiosos podem ver elementos do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) da GNR (e um geólogo da Agência Portuguesa de Ambiente), devidamente artilhados e protegidos, a fazer rappel pela arriba abaixo e a fazer cair blocos de pedra instáveis. Além de que é a primeira vez que esses elementos do GIPS, especialistas na busca e resgate em estruturas colapsadas, participam numa operação de saneamento das arribas.

«Este é o teste de uma parceria que queremos que seja extrapolável para o país inteiro. A GNR tem esta capacidade operacional, nós temos limitações de atuação, por isso vamos testar esta parceria», disse ao Sul Informação o responsável pela Agência Portuguesa do Ambiente/Administração da Região Hidrográfica do Algarve.

Já com o arnês colocado e de capacete na cabeça, daí a pouco o geólogo Sebastião Teixeira seria um dos homens a descer arriba abaixo. A primeira intervenção decorreu no lado sul da arriba, mesmo por baixo das escadas e dos patamares que descem da Fortaleza para a Praia da Rocha, na zona do molhe.

Lado a lado com dois homens do GIPS, o geólogo da APA/ARH ia-lhes dando instruções sobre quais os blocos de rocha a fazer cair à mão, com a ajuda de um pé de cabra e de martelos de alpinismo. Meia dúzia de pancadas, um pouco de força com o pé de cabra enfiado numa fenda por trás da pedra e eis que os blocos se soltavam da arriba e caiam por aí abaixo, alguns deles acabando em cima da passadeira de madeira, cujo acesso estava vedado pelas fitas da Polícia Marítima.

«O que estamos a fazer aqui é a antecipar derrocadas, a fazer cair pedras instáveis para que não caiam quando não queremos, nomeadamente quando estão pessoas a passar junto às arribas», tinha explicado o geólogo responsável pela operação.

E como sabem os técnicos que aquelas são as zonas em risco de cair? «Têm todos os sintomas que antecipam a queda eminente: fendas e rachas».

 

Almofadas e ar comprimido para fazer cair as pedras

Um bloco de pedra a cair

Daí a pouco, a equipa transferiu-se para outra zona, também junto ao Forte de Santa Catarina, mas agora a nascente, sobre o armazém do Clube Naval de Portimão, onde há sempre gente a passar, nomeadamente velejadores, canoístas e surfistas.

E de novo os elementos do GIPS mais o geólogo Sebastião Teixeira desceram em rappel, arriba abaixo. Só que, desta vez, além do pé de cabra e do martelo, usaram ainda uma espécie de almofadas, ligadas a tubos por onde circula ar comprimido.

Estas almofadas, com capacidade para expandir e levantar várias toneladas (conforme o seu tamanho), são colocadas, vazias, nas fendas, e depois são cheias com ar comprimido, que as expande e incha, alargando as fendas e fazendo, neste caso, cair as pedras.

Os operacionais do GIPS tentaram vários tamanhos de almofadas, mas umas não cabiam nas fendas, outras não as conseguiam abrir, até que finalmente tiveram sucesso e mais um bloco de pedra caiu arriba abaixo. «Este já não cai em cima da cabeça de ninguém», comentou um agente da Polícia Marítima que seguia a operação cá em baixo.

O aparato dos homens pendurados em cabos na arriba atraiu, como é normal, a curiosidade de muita gente, nomeadamente dos banhistas que entravam e saiam da praia, muitos deles estrangeiros.

O Sul Informação quis saber porque razão se recorreu a estes operacionais do GIPS e ao desmonte manual das pedras instáveis, em vez de usar máquinas. Mais uma vez, foi Sebastião Teixeira quem respondeu: «as máquina não conseguem chegar à altura onde vamos trabalhar, tem de ser uma coisa feita de cima para baixo. Estas são intervenções muito cirúrgicas, que a máquina dificilmente consegue fazer, por isso pedimos a colaboração do GIPS da GNR».

 

Mais intervenções, só depois do Verão

Sebastião Teixeira, com dois elementos do GIPS, a avaliar uma zona da arriba

Isilda Gomes, presidente da Câmara de Portimão, bem como seu vice-presidente Castelão Rodrigues, também responsável pelo pelouro da Proteção Civil, acompanharam a primeira fase dos trabalhos na Praia da Rocha.

A autarca destacou, em declarações aos jornalistas, a necessidade de uma intervenção nas arribas do Forte de Santa Catarina: «há muito tempo que se constatou que há aqui o perigo de queda de pedras e, portanto, é necessário garantir a segurança dos cidadãos que passam férias nesta nossa praia, sendo por isso urgente uma intervenção».

E porque é que a intervenção não foi feita antes da época balnear? «Essa é uma pergunta a que a APA é que terá de responder, mas certamente terá sido porque antes não foram encontrados os meios», respondeu Isilda Gomes, acrescentando: «mais vale intervir agora, que não intervir nunca».

Apesar do aparato e do espetáculo de verdadeiros acrobatas a descer e a subir as arribas como se fosse fácil, a verdade é que a intervenção na Praia da Rocha não causou qualquer problema aos banhistas. Antes pelo contrário: acabaram por ter mais uma coisa interessante para ver.

Para já, e até ao fim da época balnear, esta é a última intervenção da APA/ARH nas arribas algarvias. Depois do Verão, Sebastião Teixeira anunciou, nas suas declarações aos jornalistas, que haverá uma operação na praia da Baleeira, em Sagres. «Não é uma praia balnear, mas a arriba apresenta zonas com sintomas de instabilidade onde é preciso intervirmos».

E com todas estas derrocadas controladas, feitas este ano e nos anteriores, será que agora já não é preciso as pessoas terem cuidado junto às falésias? «As arribas nascem para cair e nunca sabemos quando elas caem. As cautelas em relação às arribas mantêm-se: as pessoas devem afastar-se o mais possível das arribas, idealmente uma vez e meia a altura dessas arribas», concluiu Sebastião Teixeira.

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