Primeira empresa de enchidos tradicionais de porco preto vai abrir em Aljezur

A primeira empresa de produção de enchidos tradicionais e presuntos de porco preto do concelho de Aljezur está prestes a […]

A primeira empresa de produção de enchidos tradicionais e presuntos de porco preto do concelho de Aljezur está prestes a abrir portas, na Zona Industrial da Feiteirinha, perto da vila do Rogil.

A jovem empresária Ana Maria Canelas resolveu aproveitar a experiência da sua mãe, feita de saberes passados de geração em geração, para se lançar na abertura da sua própria empresa de charcutaria tradicional, a Feiteirinha Presuntos e Enchidos de Porco Preto Lda.

Esta foi uma das empresas visitadas, na sexta-feira passada, dia 9 de maio, pelo reitor da Universidade do Algarve, a convite da Câmara de Aljezur, no seu périplo de um dia por este concelho da Costa Vicentina. O reitor António Branco visitou cinco empresas – Feiteirinha Presuntos e Enchidos de Porco Preto, Ave de Oiro, FF Solar, Pão do Rogil e Casas do Moinho -, das mais inovadoras neste município, todas com projetos que passam pelo lançamento de novos produtos e pela criação de postos de trabalho. «É disto que precisamos, de gente com ideias e vontade de trabalhar e de investir», disse o presidente da Câmara José Amarelinho ao Sul Informação.

No caso da unidade de produção de enchidos e presuntos tradicionais, a jovem empresária Ana Maria Canelas, de 38 anos, apresentou uma candidatura ao Proder, no valor de 230.913 euros, que foi aprovada. Mas o investimento total, que inclui a construção de instalações modernas e bem equipadas, bem como a aquisição de duas viaturas para o transporte dos animais de e para o matadouro (uma para os animais vivos, outra, frigorífica) acabou por ultrapassar os 350 mil euros.

Na sexta-feira, quando a comitiva do reitor António Branco chegou, a empresa acabava de receber a visita da Direção Regional de Veterinária, para verificar se tudo estava em ordem. E estava. «Agora só faltam umas burocraciazitas e já podemos começar a trabalhar. Daqui a 15, 20 dias, no máximo, começamos!», garantiu Ana Maria Canelas.

«E quando é que podemos começar a comer os chouriços aqui produzidos?», quis saber o reitor. «Na primeira semana trabalharemos de porta fechada, porque os chouriços precisam de uma semana de cura. Depois já começaremos a fornecer», explicou a empresária. Os primeiros presuntos, esses, precisam de pelo menos seis meses de cura, pelo que só lá para o Natal estarão prontos a comer.

Para já, a produção da Feiteirinha vai incluir chouriço, morcela, bucho de arroz e morcela de farinha, bem como torresmos, banhas e presuntos. «Inicialmente produziremos estes, sempre usando receitas tradicionais, que a minha mãe me ensinou. Depois iremos arriscar e passar à produção de lombos fumados e paiolas», revelou Ana Maria Canelas.

Todos os produtos serão fumados com lenha de medronheiro e de azinho, na sala que agora se apresenta de paredes brancas, mas que, em breve, estará tisnada pelo fumo.

Os clientes para os produtos da Feiteirinha estão no Algarve e no Sudoeste Alentejano, querendo a empresária chegar a Sines, Alcácer do Sal, Setúbal e até a Lisboa. «Os nossos enchidos são diferentes, em apresentação e sabor», garantiu.

Para já, a unidade de produção situada na Zona Industrial da Feiteirinha dá emprego a cinco pessoas, permanentemente. Mas a ideia é ir crescendo, à medida do mercado…e dos novos projetos.

É que os planos de Ana Maria Canelas não se ficam por aqui. Quando a fábrica estiver a funcionar, os clientes poderão dirigir-se lá diretamente, mas o seu projeto passa por abrir uma loja no Rogil, a sua terra natal. «Temos lá umas casas, será só adaptá-las a loja, para vendermos os nossos produtos com a marca Feiteirinha», disse.

 

Universidade quer cooperar com empresas, municípios e outras entidades

O presidente da Câmara de Aljezur, que até foi professor da jovem empresária, afirmou-se «muito entusiasmado com o projeto da Ana. É um excelente exemplo do empreendedorismo de que precisamos e, quando isto acontece, ficamos felicíssimos».

«O que nós queríamos era duplicar esta Ana por mais jovens aljezurenses», disse José Amarelinho, com uma gargalhada, a que respondeu o reitor António Branco, no mesmo registo bem disposto: «pode ser que a Universidade do Algarve tenha um programa de clones».

E estava dado o mote para o tema da cooperação entre a Universidade do Algarve e os municípios, empresas e outras instituições da região, no caso do concelho de Aljezur, que haviam de marcar toda a visita da comitiva reitoral, que incluiu ainda o pró-reitor Paulo Águas.

No caso da empresa de enchidos tradicionais Feiteirinha, falou-se da hipótese de estágios e de colaboração na área da engenharia alimentar. Antes, na visita à Associação de Produtores de Batata Doce de Aljezur, responsável pela certificação desta importante produção agrícola, falou-se ainda na colaboração ao nível da investigação. E foi ainda abordado o desafio lançado a estudantes de informática da UAlg para fazerem o site da Associação de Produtores.

Na vizinha empresa Ave de Oiro, que opera na área da distribuição de produtos alimentares, foram também os estágios, em áreas como a informática e HCCP, nomeadamente, que estiveram em cima da mesa.

Na empresa FF Solar, criada em 1989 pelo empresário alemão Franz Wagner e hoje uma das líderes do mercado das energias alternativas no Sul do país, foi discutida a hipótese de estágios em áreas mais técnicas, tendo até em conta que um dos engenheiros da empresa trabalhou na NASA.

Nas Casas do Moinho, em Odeceixe, a primeira – e até agora única – unidade de turismo de aldeia existente no concelho de Aljezur, o reitor, o pró-reitor, e o casal de empresários Arnaldo e Sandra Barbedo acertaram logo ali pormenores para receber estagiários nas áreas do turismo.

No Pão do Rogil, o reitor falou de estágios com a empresária Anabela Claro, mas sublinhou sobretudo o trabalho que a Universidade do Algarve tem estado a fazer na Dieta Mediterrânica. É que esta é uma área que interessa à empresária, tendo até em conta as novas linhas e marcas de produtos que tem vindo a lançar e que já vende no El Corte Inglês, em Lisboa, e nos supermercados gourmet Apolónia, no Algarve. O Sul Informação voltará a falar nos projetos da empresária Anabela Claro em artigo específico.

 

Outras empresas visitadas:

FF Solar Lda – a empresa foi criada em 1989 pelo alemão Franz Wagner e é, atualmente, a mais antiga do Algarve em energias renováveis. Desde cedo, Franz Wagner implementou uma filosofia inovadora na empresa: ofereceu sociedade aos funcionários. Hoje, seis deles são sócios.

«Depois de 10 anos de funcionamento, vi que a empresa ia para a frente, estava muito contente com os empregados e sabia que sem eles não somos nada. Agora a companhia também é deles e vêm trabalhar com um grande sorriso», explicou o empresário ao reitor António Branco.

O mercado das energias renováveis, em Portugal, é «muito difícil» e dominado pelas «grandes empresas». Mas a FF Solar tem-se mantido à frente, sempre inovando, quer com soluções desenvolvidas «lá fora», nomeadamente na Alemanha, por outras empresas, quer com soluções desenvolvidas pelos seus próprios recursos humanos, onde se destaca um técnico de eletrónica que foi «engenheiro da NASA». «Estamos sempre a tentar ver os buracos onde podemos fazer uma coisa nova», diz Franz.

Com o Algarve em crise, e o resto do país também, a FF Solar voltou-se para a exportação, nomeadamente para África – Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola e Moçambique. E o que exportam para lá? «Sobretudo as nossas bombas solares, um kit pequeno que custa 100 dólares e que permite alimentar três lâmpadas led, carregar telemóveis. Mais que isso gastam eles em querosene para os geradores. As bombas solares saem mais baratas».

Mas a FF Solar, uma PME Excelência, vende ainda para todo o país, bem como para Espanha e para a Grécia.

A empresa emprega atualmente 12 pessoas e já teve 25 funcionários. Em 2009, chegou a faturar 10 milhões de euros, mas agora fica-se por cerca de 3 milhões anuais.

Em 2004, mudou-se para a Zona Industrial da Feiteirinha, criada pela Câmara de Aljezur. Tem mais um lote reservado ao lado, «à espera de investimento», mas, para já, «não há mercado».

 

Ave de Oiro Lda – Empresa de distribuição alimentar já com 25 anos de existência, que se mudou para a Zona Industrial da Feiteirinha há sete anos e se tem modernizado. O seu atual sócio-gerente, António Pacheco, revelou que a empresa, depois de ter atingido os 2,5 milhões de euros de faturação em 2013, apresenta um crescimento de faturação «de 12% nos primeiros quatro meses deste ano». «Só em abril, a nossa faturação cresceu 35%», acrescentou.

A empresa cobre uma área que vai de Lagoa a Vila Nova de Milfontes, tendo uma força de vendas de seis comerciais, num total de 15 funcionários.

Mas a Ave de Oiro não está parada. Neste momento tem em fase de acabamento a criação de uma nova ala nas suas instalações, para a desmancha de carnes, de modo a oferecer um novo serviço e mais produtos. Trata-se, segundo revelou o empresário António Pacheco, de um investimento de 60 mil euros, que vai criar mais um posto de trabalho.

«A Ave de Oiro é uma marca conceituada no Algarve e no Sudoeste Alentejano. Esta área industrial foi criada para relocalizar as empresas que estavam em zonas urbanas, como era o caso desta», explicou Paulo Oliveira, chefe da Divisão de Desenvolvimento Económico da Câmara de Aljezur.

 

Casas do Moinho, em Odeceixe – Trata-se da primeira – e até agora única, unidade de turismo de aldeia existente no concelho de Aljezur. O casal de empresários nortenhos Arnaldo e Sandra Barbedo compraram uma série de casas velhas no centro da vila de Odeceixe, incluindo o velho moinho, e transformaram-nas em locais para passar umas belas férias. «Foi muito importante, porque recuperaram uma vasta zona degradada da vila e trouxeram gente e animação cá para dentro», sublinhou o presidente da Câmara José Amarelinho.

Ao todo, são nove casas e seis quartos, espalhados por três núcleos ao longo da parte alta da povoação. As casas receberam os nomes de peças do moinho (Frechal, Sarilho, Capelo, Velas, Mós, Catavento, Quelha e Mastros) e os quartos o nome dos cereais que ali se moíam (alfarroba, arroz, centeio, cevada, milho e trigo).

Arnaldo Barbedo garante que a ideia agora é consolidar e não crescer, a não ser nos espaços comuns. As Casas do Moinho dão emprego permanente a seis pessoas, todas da terra.

Quanto aos mercados, no Verão as casas são ocupadas sobretudo por portugueses, enquanto no resto do ano são os turistas do Norte da Europa que ali ficam. O casal de empresários tem, aliás, desenvolvido uma intensa campanha com operadores turísticos no exterior para captar turistas para as suas Casas do Moinho, nomeadamente na Irlanda (onde contaram com o apoio do cônsul português em Dublin).

Sendo membros da Associação Casas Brancas, Arnaldo Barbedo considera a Rota Vicentina como «um dos projetos fantásticos desta região, que nos traz clientes na época média». «A Rota Vicentina é uma aposta ganha muito interessante», assegura.

As Casas do Moinho começaram também a funcionar em rede com outros alojamentos do concelho de Aljezur. Sandra Barbedo recorda que, quando lhes chegavam clientes que procuravam outro tipo de alojamento ou quando estavam cheios, «começámos a telefonar para os outros locais e a arranjar alternativas para esses clientes. Assim, eles não têm que andar às voltas a bater às portas, saem daqui já com tudo marcado». No início, esta iniciativa de telefonar para os alojamentos teoricamente concorrentes causou algum espanto, mas agora já funcionam em rede.

 

 

Veja aqui mais fotos da visita do reitor da UAlg a Aljezur

 

 

 

 

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