Olhão e a universidade estão próximas também na colaboração

Perto da vista, perto na colaboração. O reitor da Universidade do Algarve António Branco visitou o concelho de Olhão na […]

Perto da vista, perto na colaboração. O reitor da Universidade do Algarve António Branco visitou o concelho de Olhão na passada sexta-feira, onde descobriu que há muitas ligações entre este concelho “vizinho” e a academia que representa e que o sentimento de que a universidade está de costas voltadas para a região é algo que não está presente.

À semelhança das suas congéneres que já foram visitadas pela comitiva reitoral, a Câmara de Olhão procurou mostrar, nesta visita, algumas iniciativas que se distinguem, no concelho, quer pela sua importância económica, quer pela sua importância social. Também a educação e a saúde estiveram em foco.

As sinergias que existem foram ficando patentes ao longo do dia, sendo um bom exemplo os Viveiros Monterosa, de produção de plantas ornamentais e, mais recentemente, de azeite, que há muito tem protocolos de colaboração com a UAlg.

«Pretendemos dar uma panorâmica geral e mostrar o que é a realidade do concelho, a parte empresarial – setor primário, secundário e alguma abordagem ao terciário -, bem como o ensino e a área social, e mostrar as ligações que já existem com a UAlg. Desde os quadros superiores e técnicos, aos professores das escolas, aos engenheiros da indústria conserveira, até à área social, muitos dos nossos técnicos são fruto da Universidade do Algarve», ilustrou o presidente da Câmara de Olhão António Pina.

Apesar de considerar que a universidade «não está de costas voltadas» para Olhão, António Pina não deixou de apelar ao aprofundar da investigação nas áreas das pescas, agricultura e  turismo. Setores chave para Olhão, que a universidade pode ajudar a impulsionar ao estudar «soluções para os problemas específicos com que as empresas se debatem».

Um serviço que a UAlg quer prestar, mas que, avisou António Branco, nem sempre consegue. A investigação precisa de financiamento e nem sempre o dinheiro disponível se adequa às necessidades locais.

«A investigação apoiada por fundos europeus é um setor muito competitivo e a UAlg tem de se inserir em consórcios internacionais para conseguir financiamento. Esta investigação debruça-se, normalmente, sobre questões mais globais, pouco preocupada com problemas locais», explicou.

Também os fundos nacionais, atribuídos via Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), não se adequam, muitas vezes, às necessidades regionais. «As diferentes Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) deveriam ser mais ouvidas, no que toca à aplicação dos fundos destinados à investigação», defendeu António Branco.

A melhor hipótese de conseguir financiamento para investigação mais voltada para dentro da região é recorrer aos fundos geridos pela CCDR Algarve, nomeadmanete ao PO Algarve 21. E, aqui, há boas perspetivas, já que haverá dinheiro para investigação feita em parceria por empresas e pela universidade, quando se perspetive que traga mais-valias ao desempenho económico desses negócios.

É também por aqui que a UAlg quer potenciar as suas ligações com a região. No seguimento da garantia da parte do edil olhanense que não sente que haja um divórcio entre a universidade e a região, o reitor considerou que é sua função tornar essa ligação «mais visível e reafirmar a sua disponibilidade para que essa relação seja, cada vez mais, útil para as duas partes».

«A Universidade não pode ser entendida como uma prestadora de serviços à região, porque a região também presta serviços à Universidade», disse.

 

Olhão, do mar à terra

Olhão é um concelho muito associado à Ria Formosa e ao Mar, às pescas, marisqueio e indústria conserveira. Mas António Pina frisou que há também uma forte aposta no setor agrícola, nas zonas mais interiores do concelho.

Talvez para marcar esta faceta, nem sempre associada a Olhão, a primeira visita do dia foi aos Viveiros Monterosa. Esta empresa, lançada há décadas por Detlev Von Rosen, dedica-se a produzir plantas ornamentais, grande parte das quais são exportadas.

Impulsionada pelo sócio-fundador da empresa, que trocou a suécia pelo Algarve para começar este negócio, a empresa dedica-se também, há alguns anos, a produzir azeite. Uma paixão de Detlev Von Rosen, que estudou a fundo as técnicas para produzir azeite de qualidade. Devido a esta dedicação, o azeite extra-virgem Monterosa, tem sido apurado e ganhou prémios internacionais nos últimos dois anos.

Seguiu-se uma visita à Unidade de Desabituação do Algarve, uma unidade de saúde pública para tratamento da toxicodependência. Aqui, a comitiva recebeu uma verdadeira lição do diretor deste serviço Álvaro Pereira, sobre o trabalho que é desenvolvido na luta contra as dependências, em Portugal, considerado uma referência a nível internacional.

Álvaro Pereira, bem como o membro do Conselho Geral da UAlg João Goulão, foram pioneiros nesta área. Estes médicos e outros profissionais de saúde portugueses idealizaram um sistema que «poupa muito dinheiro ao Estado» a longo prazo, mas no qual se está a «desinvestir cada vez mais».

«Vejo o futuro com muita apreensão. Não sou paranóico, mas nos últimos anos, até parece que se quer destruir o que estava bem feito no SNS, na área das drogas», desabafou Alvaro Pereira.

A iniciativa continuou com a visita a duas escolas de Olhão, a EB 2,3 João Lúcio e a Secundária Francisco Fernandes Lopes, onde docentes e diretores de agrupamentos escolares puderam ter um contacto mais direto com o reitor. Na Escola Básica, os alunos do curso de cozinha mostraram o que já aprenderam, confecionando e servindo o almoço à comitiva.

Da parte da tarde, o reitor, o edil olhanense e demais membros da comitiva tiveram de se vestir a rigor, para visitar a Fábrica de Conservas Freitas Mar, em Olhão. Esta é um dos bons exemplos desta indústria, que continua viva em olhão e a mais recente unidade do género a ser aberta.

A unidade fabril, inaugurada há pouco mais de um ano no Porto de Olhão, assenta, ainda assim, numa vasta experiência. Os cerca de ccem trabalhadores que ali laboram já trabalhavam antes, e em alguns casos há várias décadas, na antiga Fábrica Pacheco, entretanto adquirida pelo empresário José Freitas, do Grupo Freitas Mar, sediado na Figueira da Foz.

Na linha de montagem, percebe-se a veia exportadora da empresa, nos rótulos visíveis e nas caixas em que o produto é acondicionado. 90 por cento da produção segue para o mercado externo, muito dele como produto gourmet. Itália é o principal destino das conservas de atum, cavala e sardinha que dali saem, mas também começam a ser explorados novos mercados, como a Líbia.

Depois deste contacto “in loco” com uma fábrica, a comitiva ainda visitou a Associação Cultural e de Apoio Social de Olhão (ACASO), uma instituição que presta apoio a crianças, idosos e pessoas com deficiência, o Movimento Juvenil de Olhão (MOJU), uma associação juvenil de intervenção social, terminando o périplo no Conservatório de Música de Olhão, onde foi brindada com um momento musical.

Este foi o 11º concelho visitado pelo reitor, que em jeito de balanço garantiu que estas visitas têm superado as suas expetativas.
António Branco explicou aos jornalistas, à margem da visita, que sentiu necessidade de fazer este périplo para se dar a conhecer à região, pois tinha consciência de que era pouco conhecido pelas forças vivas do Algarve.

António Branco tem agora noção de que estas visitas estão a ultrapassar esta sua ideia inicial e que, por isso, a própria imagem da instituição está a ser colocada no ponto onde é justo ser colocada, ou seja, «há uma relação muito íntima entre a UAlg e a região».

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