Museu de Portimão faz historiografia de uma «marca viva», com relançamento da conserva «La Rose»

A Ramirez & Cª (Filhos), SA, a mais antiga empresa do mundo em laboração no sector das conservas de peixe, […]

A Ramirez & Cª (Filhos), SA, a mais antiga empresa do mundo em laboração no sector das conservas de peixe, está a preparar o relançamento da também histórica marca “La Rose”, no âmbito do 6º aniversário do Museu de Portimão, que se realiza no próximo sábado, dia 24 de Maio, às 17h00.

A marca “La Rose” – que durante boa parte do século XX internacionalizou os nomes de Portimão e de Portugal através do esforço promocional realizado pela casa Feu em países como Inglaterra, Bélgica, França, Alemanha, EUA, Holanda, entre outros – deixou de ser produzida no final da década de 1970 e regressa agora ao edifício onde nasceu, em 1902, a antiga fábrica “Feu Hermanos”, hoje Museu de Portimão.

«A marca La Rose é um ex-libris da grande indústria conserveira do Algarve. Apesar da sua história estar bem preservada no Museu de Portimão, lembrei-me de lhe dar nova vida e o meu amigo António Feu incentivou-me. Respeitando a sua identidade visual, actualizamos a sua imagem e já estamos a produzir e a comercializar uma conserva de sardinha em azeite da marca La Rose», explica Manuel G. Ramirez, presidente do conselho de administração da Ramirez & Cª (Filhos), SA, que quer ver a La Rose recuperar o prestígio de outrora, através de uma ampla gama de conservas de elevada qualidade.

«Este é um projeto muito acarinhado pelo Museu de Portimão, que passou a poder expor a historiografia de uma marca que merece uma segunda vida e que vai induzir muitas visitas; mas que será também, estou certo, muito acarinhado, quer pela cidade de Portimão, que vê regressar uma filha querida, quer em Portugal e em vários mercados onde a marca deixou saudades», afirma Manuel G. Ramirez.

Esta iniciativa vem reforçar a identidade de uma marca que faz parte do património da indústria conserveira portimonense e algarvia e chama a atenção para um novo paradigma da gestão museológica, em que os museus assumem um papel decisivo na ligação da história e do património com a sociedade e a economia.

Na perspetiva da administração da Ramirez, este relançamento justifica-se, quer «pelo carácter de responsabilidade social», a que não é alheio algum «saudosismo», quer também «em função da sua sustentabilidade financeira».

«Apesar de estar fora do mercado há mais de 30 anos, a La Rose goza ainda de um capital de simpatia enorme em Portugal e no estrangeiro. As identidades vintage são também muito apreciadas em vários mercados. Prevê-se, por isso, que a marca possa ter algum impacto nas vendas da empresa no médio e longo prazo», complementa Manuel TM Ramirez, administrador, filho do presidente do conselho de administração e membro da quinta geração da família à frente dos destinos da empresa.

No imediato, e a título de reintrodução no mercado, serão colocadas à venda 100 mil latas de duas referências – sardinhas em azeite e atum em azeite – em Portugal. Estão já a ser também trabalhados alguns dos históricos mercados internacionais da La Rose.
O diplomata das conservas

Manuel Guerreiro Ramirez nasceu a 1 de Setembro de 1941, em Vila Real de Santo António, e tomou contacto com a fábrica da família desde muito cedo. Aos 15 anos, Manuel Guerreiro Ramirez já conhecia os cantos às unidades produtivas da empresa. Recorda-se do ambiente e de cada pormenor dessa época.

Do denominado “bosque”, aos misteriosos livros dos mestres conserveiros, com passagem pelas latas de dez quilogramas – que diz serem “verdadeiros poemas”. Mas o que relembra com mais saudade é o doce e desaparecido aroma a atum cozido, que invadia as narinas de todos em Vila Real de Santo António. Na fábrica e em qualquer rua da vila…

Ainda adolescente, ruma a Hamburgo, onde frequentou um curso comercial e trabalhou numa fábrica que produzia e comercializava conservas de arenques. Fez de tudo um pouco. Esteve no laboratório e produziu semi-conservas, mas acima de tudo, garante, absorveu ensinamentos para toda a vida. Quer no domínio dos mercados do peixe, quer na atitude perante a vida…

Esteve também mais de um ano em Inglaterra, a trabalhar na área comercial de um brooker da City de Londres, seguindo depois para Paris, onde cursou Engenharia Alimentar, com especialização em conservas.

Em 1962, regressado do estrangeiro, assume a gestão da unidade de Vila Real de Santo António, iniciando então um percurso de coordenação que se estende a toda a empresa após a morte do pai. E, por força de dominar outros idiomas e possuir contactos privilegiados no estrangeiro, coordenava o esforço de exportação de muitas dezenas de fábricas existentes então em todo o Algarve.

Durante 12 anos, foi presidente da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP), em representação da qual defendeu com sucesso a venda direta do peixe às fábricas.

Foi também membro (presidente durante um ano) da Associação Europeia dos Processadores de Pescado (AIPCEE), qualidade na qual, com toda a diplomacia, conseguiu unir a família europeia das conservas nos grupos de trabalho Atum e Sardinhas e fazer promulgar pela Comunidade Europeia a denominação de origem da «Sardina pilchardus walbaum» – pescada nas águas portuguesas e usada nas conservas «made in Portugal», em detrimento de outras espécies da América do Sul, como a «Sardinops sagax».

No domínio associativo, exerceu também o cargo de diretor da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), no seio da qual desenvolveu o «Código de Boas Práticas Comerciais».

É diretor da Associação Comercial de Lisboa e o atual proprietário da Ramirez & Cia (Filhos), SA, onde, além da gestão geral, tem sido responsável pela introdução dos mais modernos métodos, técnicas e materiais de produção.

Apreciado pelos colaboradores da empresa, foi também – durante várias décadas e à semelhança do pai – cônsul da Finlândia, responsabilidade que já transmitiu ao filho Manuel TM Ramirez.

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