Grupo Nogueira compra espólio do Museu da Cortiça, CGD fica com edifícios da Fábrica do Inglês

O Grupo Nogueira, que em 2012 comprou a rede de supermercados Alisuper, licitou hoje, por 36 mil euros, o espólio […]

O Grupo Nogueira, que em 2012 comprou a rede de supermercados Alisuper, licitou hoje, por 36 mil euros, o espólio do Museu da Cortiça de Silves, no leilão público da Fábrica do Inglês, que decorreu neste complexo.

Por seu lado, o edifício do museu, que se integrava noutro lote, o dos imóveis, foi arrematado pelo preço base de licitação, que se cifrava em 2.239.600 euros, pela representante da Caixa Geral de Depósitos. A CGD é a maior credora da empresa Fábrica do Inglês Gestão de Empresas Imobiliárias e Turísticas SA, que em tempos pertenceu ao universo do falido grupo Alicoop/Alisuper, e já era esperado que fosse ela a ficar com as instalações.

Mas ninguém, pelo menos na Câmara de Silves, conhecia o interesse do Grupo Nogueira no espólio. A autarquia, representada pela sua presidente Rosa Palma, ainda iniciou a licitação, para adquirir o espólio, como era sua intenção, mas, perante o interesse de João Nogueira, administrador do Grupo nortenho agora com interesses no Algarve, acabou por desistir.

O preço base era de 30.600 euros, mas a compra acabou por ficar em 36 mil. «Percebi que qualquer valor que eu, em nome da Câmara, tentasse licitar, eles iriam cobrir, por isso tive que parar», disse ao Sul Informação, no fim do leilão, a presidente Rosa Palma, visivelmente contrariada com o desfecho.

«Nós colocámos, desde logo, em Orçamento, um valor limite para a compra deste espólio e não o podíamos ultrapassar», explicou ainda a autarca.

Rosa Palma acrescentou que, antes do leilão público, a Câmara já tinha entrado em conversações com «outras entidades eventualmente interessadas neste espólio, como o Grupo Amorim [que tem uma fábrica de cortiça no concelho], assim como nos tínhamos reunido, na passada quarta-feira, com a Caixa Geral de Depósitos, precisamente para comunicarmos o nosso interesse na aquisição do espólio. Esta situação foi completamente inesperada e nem sei como a interpretar».

«Quando começou a licitação, viu-se que havia ali uma disputa entre nós e o outro grupo. E viu-se que, qualquer valor que a Câmara colocasse, ele iria sobrepor. A Câmara tinha limites estipulados no orçamento, que não podia ultrapassar», disse.

Findo o leilão, imediatamente a autarca silvense entrou em diálogo com João Nogueira, tentando perceber qual a intenção do Grupo Nogueira com a compra do espólio de um museu.

O administrador do Grupo admitiu que poderia ter havido «alguma falta de comunicação» com a Câmara de Silves, mas garantiu que o seu interesse era «defender este espólio e o Museu».

Mas então, perguntou Rosa Palma, «se viu que a Câmara estava a licitar, porque é que continuou?». João Nogueira manteve que o interesse do seu grupo empresarial era apenas a defesa do espólio e disse ter «uma estratégia para isto», que não quis, ali, explicar qual seria.

Em declarações ao Sul informação, o empresário disse que «a estratégia, para já, é manter o espólio. Não sabíamos quem é que ia comprar as instalações e como é que agora irá ficar. Os edifícios ficaram com a Caixa Geral de Depósitos, mas amanhã poderão ser vendidos. Temos que falar com a CGD para ver se chegamos a algum acordo, que seja bom para o concelho».

João Nogueira garantiu que, antes do leilão, «não sabia da intenção da Câmara de Silves de comprar o espólio», daí ter avançado com a licitação.

E será que, no futuro, poderá haver algum tipo de entendimento com a autarquia, para a reabertura do Museu da Cortiça? «Certamente! Nós viemos para o Algarve para nos entendermos com toda a gente, não viemos para aqui para arranjarmos conflitos com ninguém», assegurou o empresário.

Mal tinha terminado o leilão, João Nogueira falou com a representante da Caixa no leilão sobre a hipótese de separar o edifício que alberga o Museu da Cortiça do restante complexo da Fábrica do Inglês.

João Nogueira acrescentou, nas suas declarações ao nosso jornal, que o Grupo Nogueira pretende reabrir o Museu da Cortiça. «Nós andamos há seis meses a tentar reabrir o museu. Já tivemos algumas reuniões, para tentar abrir mesmo com o resto das instalações da Fábrica do Inglês fechadas. É isso que nós queremos fazer».

Também presente e inscrito no leilão, estava Pedro Duarte, do Grupo Amorim, que não licitou o espólio, por saber do interesse da autarquia. «Nós também acompanhámos o processo, para evitar que o espólio do Museu da Cortiça fosse vendido a algum sucateiro ou a alguém sem interesse no seu valor patrimonial. Mas acabámos por não intervir no leilão por termos sabido do interesse da Câmara de Silves em comprar o espólio», disse o representante do Grupo Amorim, na conversa final que juntou a presidente e o vice-presidente da Câmara, o antigo diretor do Museu, bem como João Nogueira e Luís Alves, ambos do Grupo Nogueira.

Rosa Palma, apesar do choque inicial por não ter conseguido concretizar o plano da Câmara de comprar o espólio do museu no leilão, ainda mantinha a esperança num futuro entendimento. «Ainda estou esperançada! Atendendo ao grupo que é, que é nosso conhecido, é residente no nosso concelho, estou convencida que vamos conseguir entrar em acordo com eles. Provavelmente há outros receios que levaram o Grupo Nogueira a tomar esta atitude, aliás o próprio senhor Nogueira disse que era uma estratégia que tinham. Portanto, vamos aguardar».

De qualquer modo, sublinhou a autarca silvense, «irei defender este património que aqui está com unhas e dentes e farei tudo por tudo para que seja do domínio da Câmara».

Enquanto o futuro do Museu da Cortiça e da Fábrica do Inglês se manteve, mais uma vez, indefinido após o leilão a que assistiu perto de meia centena de pessoas, uma coisa é certa: o complexo está classificado como imóvel de interesse concelhio, pelo que não poderá haver, para ali, apetites imobiliários. «Todo o edifício tem que manter esta estrutura e esta traça» e isso já afasta «ideias que possam passar pela destruição deste património», concluiu a presidente da Câmara de Silves.

O leilão, promovido pela empresa Leilosoc, integra-se no processo de insolvência da empresa Fábrica do Inglês Gestão de Empresas Imobiliárias e Turísticas SA, proprietária dos edifícios da antiga fábrica de cortiça, transformados em 1999 num complexo de restauração e lazer, incluindo, numa das suas alas, o Museu da Cortiça, que seria galardoado em 2001 com o prémio Luigi Micheletti.

Sem dinheiro para comprar os edifícios – que totalizam 5400 metros quadrados de área total e 3200 metros de área coberta – a Câmara Municipal de Silves estava disposta a adquirir, no leilão, o espólio do Museu da Cortiça.

 

 

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