Oliveira centenária dá os genes para exploração de 80 hectares em Alcoutim

As árvores são ainda bem jovens, mas encerram dentro de si a informação genética de uma árvore bem antiga. A […]

As árvores são ainda bem jovens, mas encerram dentro de si a informação genética de uma árvore bem antiga. A empresa V.Luz Agro está a investir cerca de meio milhão de euros num olival de 80 hectares, em Martim Longo, Concelho de Alcoutim e optou por utilizar as “filhas” de uma árvore que já existia no mesmo terreno e ali prosperou ao longo de mais de cem anos.

«Tudo começou há dois anos, com a ideia de fazer um olival. Contactei uma empresa espanhola, para vir cá fazer uma colheita das filhas. Eles fazem uma poda, com um corte específico de determinado tamanho e colocam num banho de “perlitas”. Daí, resulta uma germinação radicular, por estaca. E assim nascem estas plantas que aqui estão a ver», contou o empresário Valter Luz.

A exploração agrícola de Martim Longo foi um dos projetos visitados por uma comitiva da Universidade do Algarve, encabeçada pelo reitor António Branco, no âmbito de uma visita organizada pelo executivo camarário Alcoutenejo. A escolha esteve ligada, por um lado, ao caráter inovador da V.Luz Agro, mas também ao volume de investimento e dimensão do Olival a plantar.

Dois anos depois de Valter Luz e a sua esposa terem tido a ideia de plantar um olival da variedade mançanilha em terrenos da família em Martim Longo, já foram plantadas «22 mil plantas», número que é relativo apenas à primeira fase do projeto. Entretanto, já depois da visita do reitor, chegaram mais «30 mil plantas». No final, a ideia é ficar com «cerca de 300 árvores por hectare».

A evolução deste projeto, que também inclui uma exploração de figo-da-índia, depende essencialmente da capacidade dos seus promotores em conseguir «gente para trabalhar». Numa zona deprimida, do interior do Algarve, a mão-de-obra disponível é um problema. «Se conseguir uma média de 200 plantas por dia, como andei a fazer, já não era mau. Falta aqui muita mão-de-obra, principalmente especializada, porque isto requer técnica», considerou.

Para levantar esta exploração, serão necessários «perto de meio milhão de euros». Um investimento que terá a comparticipação do programa Proder, em 60 por cento, sendo que o restante virá «de um empréstimo à banca e de capitais próprios».

Quando as árvores que estão agora a ser plantadas crescerem o suficiente, a empresa agrícola alcouteneja pensa produzir azeite e azeitona de mesa, mas não só. Valter Luz diz ter muitas ideias para aproveitar ao máximo a sua produção, mas prefere mantê-las em segredo, para já.

Ainda assim, dá uma ideia da estratégia que pensa seguir, no futuro. «Eu acho que há mil coisas que se pode fazer com um olival. Podemos ter policultura, nas entrelinhas, com favas, tremoços e outros, que até ajudam a fixar azoto. Também há a possibilidade de fazer óleos essenciais a partir da folha. Também se pode utilizar o produto da poda para fazer pellets (biocombustível para queima)», revelou.

Aproveitando a presença do reitor da UAlg António Branco, Valter Luz lançou o desafio à academia algarvia de fazer «um estudo das condições edafoclimáticas, que possa provar que há aqui boas condições para a criação de determinadas espécies», entre as quais a Oliveira.

 

E para os animais há… figueira-da-índia

Além do Olival, a V. LuzAgro vai apostar na produção de figueira-da-índia, essencialmente para ração de animais. «Temos um outro terreno, propício para a criação de animais, onde queremos plantar esta espécie, como alternativa à forragem. Também vamos tentar criar animais», disse o agricultor, que já antes criou «um touro de lide e duas vacas bravas».

«Os brasileiros têm técnicas para plantar figueira-da-índia em que conseguem tirar 700 toneladas por hectare, por ano. Mas isso só para forragem. Se tentarmos produzir também o figo-da-índia propriamente dito, conseguimos uma média de 4 a 6 toneladas deste fruto por hectare», disse.

Entrar no mercado de venda deste fruto não é o objetivo, porque «com tanta gente a produzir, não vai haver espaço para todos». «A base será a forragem. Até porque vamos apostar numa variedade que tem uma folha grande, carnuda e com poucos bicos», disse Valter Luz, que é membro da Confraria do Figo-da-Índia.

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