Arranjo da igreja de Santo António de Lagos custa 150 mil euros

150 mil euros. Este é o montante mínimo necessário para a recuperação da abóbada e da cobertura da Igreja de […]

150 mil euros. Este é o montante mínimo necessário para a recuperação da abóbada e da cobertura da Igreja de Santo António, em Lagos, que está fechada por precaução desde Outubro do ano passado.

O montante resulta de uma primeira estimativa feita após o exaustivo processo de diagnóstico dos problemas daquela igreja classificada como monumento nacional, que é o segundo local mais visitado do Algarve, logo a seguir à Fortaleza de Sagres.

O diagnóstico, já discutido numa reunião entre a Câmara e a Direção Regional de Cultura em 26 de Março, concluiu que, por razões de segurança, deve haver obras no edifício antes da sua reabertura ao público.

O diagnóstico envolveu técnicos do município de Lagos – nomeadamente o arquiteto Frederico Paula, da empresa municipal Futurlagos -, técnicos da Direção Regional de Cultura, de empresas especializadas, como a OZ Diagnóstico e a STAP, e ainda da Universidade do Algarve, bem como tecnologias e métodos provavelmente nunca antes usados na região para avaliar o estado de um monumento, como endoscopias à abóbada. Foi ainda registada em fotografia e vídeo toda a abóbada pintada, as talhas, o telhado e outras estruturas do edifício situado no centro histórico de Lagos, paredes-meias com o Museu Municipal.

E o resultado do diagnóstico, apresentado na passada quinta-feira numa sessão pública em Lagos, é que, de facto, apesar de a situação da secular igreja não ser tão grave como se chegou a temer, foi uma atitude avisada encerrar o monumento às visitas dos turistas, sendo agora urgente fazer obras. Essas obras, para já, e antes que haja projeto de execução e orçamentos mais detalhados, estão avaliadas em 150 mil euros. Uma verba que a Câmara de Lagos, proprietária do imóvel classificado não tem, como disse ao Sul Informação o seu vice-presidente Hugo Pereira.

 

Problemas diagnosticados

Do diagnóstico, concluiu-se, segundo o arquiteto Frederico Paula, que existe de facto «um descolamento entre o reboco e a abóbada, que poderá ser problemático», embora a abóbada em si esteja em boas condições, muito melhores que as que se esperava. Mas, porque certas zonas do reboco pintado podem, a qualquer momento, cair e provocar danos ou vítimas, há que manter a igreja fechada até que seja feita a intervenção necessária.

Em mais mau estado encontra-se o telhado, de duas águas coberto com telha. Aqui terão que ser feitas também obras urgentes, uma vez que «existem problemas na estrutura de madeira da cobertura», que está «muito deformada e com elementos fraturados». É também ao nível do telhado que se registam as infiltrações de água da chuva, que estão a causar problemas num dos cantos da abóbada pintada.

O diagnóstico permitiu ainda verificar, de uma vez por todas, que a abóbada da Igreja de Santo António, ao contrário do que alguns textos oficiais diziam, não é feita em madeira, mas em alvenaria de pedra argamassada, com cerca de 40 centímetros de espessura. A abóbada é depois coberta pelo telhado.

O trabalho feito pelos técnicos detetou ainda outras anomalias no monumento nacional: alguns elementos da riquíssima talha dourada que cobre o seu interior estão em risco de queda, a cobertura do púlpito, igualmente em talha dourada, pode também cair (e entretanto foi escorada), os elementos metálicos de fixação dos sinos apresentam sintomas de corrosão e, finalmente, o sistema de iluminação é obsoleto e até causa «efeitos nefastos» na estrutura e nos elementos decorativos da igreja.

No entanto, apesar destes problemas, e em resumo, «a abóbada está presentemente estável e sem indícios de risco de queda iminente», mas «o reboco não está estável» e necessita de uma intervenção urgente.

Frederico Paula admite que os riscos de o reboco pintado cair não são grandes, «andarão entre os 5% e os 10%». Mas, ainda assim, «isto não é um brinquedo, sobretudo quando a igreja costumava receber visitas em grupo, pode acontecer e ter consequências graves. E, porque estamos numa zona sísmica, um pequeno abanão pode provocar a queda».

Por isso, concluiu o arquiteto responsável pelo centro histórico de Lagos na sua apresentação que teve na plateia dois vereadores, outros autarcas, vários técnicos autárquicos, funcionárias do Museu Municipal e uma jornalista, «a igreja deverá ser alvo de intervenção de reabilitação e reforço com a maior brevidade possível».

 

Solução inovadora

As medidas corretoras já foram discutidas numa reunião recente entre a Câmara de Lagos e a Direção Regional de Cultura, que tutela o monumento. Há várias soluções, algumas delas mais conservadoras ou normais, embora com resultados estéticos discutíveis, mas a que deverá ser implementada foi proposta por Carlos Martins, engenheiro e professor da Universidade do Algarve.

«É uma solução que vai resolver ao mesmo tempo todos os problemas detetados», explicou Frederico Paula, que a classificou como «técnica única». Passa pela construção de uma lâmina de betão por cima da abóbada (entre esta e o telhado), armada com fibra de carbono, com uma série de conectores em aço inox, de modo a segurar a abóbada, construindo depois uma espécie de costelas, quase como vigas curvas, espaçadamente ao longo da abóbada. Assim, a cumeeira do telhado deixaria de descarregar sobre a abóbada e eliminaria desde logo muitos dos problemas que causaram deformação.

Quanto ao telhado, deverá optar-se pela sua substituição integral, com telha nova e dotando-o de isolamento térmico e hidrófugo (contra a água).

Deverão ainda avançar os trabalhos complementares (reparação e limpeza da talha dourada, reparação dos sinos, substituição do sistema de iluminação), bem como uma nova intervenção: a reparação da torre sineira sul, que passaria a ficar visitável, complementando assim a visita à igreja de Santo António para quem se sentir mais aventureiro.

O projeto das intervenções necessárias deverá estar concluído «em finais de Abril». E só aí poderão ser feitas as contas rigorosas sobre quanto todas estas obras irão custar. A estimativa de custos, num total de 150 mil euros, prevê 50 mil para colar o reboco à abóbada, 50 mil para a abóbada e outro tanto para o telhado. Nessa verba inicial, não estão ainda incluídas as obras complementares sugeridas.

 

Donde vem o dinheiro?

Quem vai pagar as obras? A empresa municipal Futurlagos tinha feito uma candidatura, entretanto aprovada, ao Programa Operacional Algarve 21, para obras menos extensas no telhado da igreja. Verificando-se agora que é preciso uma intervenção mais profunda, «está-se a estudar com a CCDRA a hipótese de essas verbas serem reprogramadas e canalizadas» para o que agora é necessário fazer, revelou ao Sul Informação o vice-presidente da Câmara Hugo Pereira. «A CCDRA está sensível a isto», garantiu.

E quanto tempo demorarão os trabalhos, uma vez iniciados? O arquiteto Frederico Paula diz que deverão demorar «três meses, mais um mês para a intervenção na iluminação e nas talhas».

A decisão da Câmara de Lagos é de reabrir a Igreja de Santo António ao público, logo que voltem a estar reunidas as condições de segurança, após as obras. Até porque o riquíssimo interior em talha dourada, barroca, atrai milhares e milhares de turistas, que visitam a igreja e o vizinho museu, que vive muito desse movimento. É uma fonte de receita importante para a autarquia, que sofreu uma quebra assinalável desde que, em Outubro do ano passado, foi tomada a decisão de encerrar a igreja ao público.

«É uma intervenção complicada, mas absolutamente necessária», reforçou Frederico Paula. «Com o projeto na mão, é importante que se lance uma discussão interna sobre como é que a obra vai ser feita e qual a estratégia para a reabertura do imóvel», acrescentou o arquiteto. Ficou até a sugestão de, mesmo durante o decurso da obra, poder haver visitas, mais controladas, nomeadamente de estudantes de engenharia, técnicos e outras pessoas que se interessam pela conservação do património.

«As obras têm mesmo que começar, já que a decisão é de reabrir a igreja», concluiu Frederico Paula.

 

Fotos: Fornecidas pela Câmara Municipal de Lagos, direitos reservados.

 

 

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