Comemorações dos 40 anos do 25 de Abril já mexem (muito) com Loulé

Uma verdadeira enchente marcou o lançamento das comemorações dos 40 anos do 25 de abril em Loulé, no passado sábado. […]

Uma verdadeira enchente marcou o lançamento das comemorações dos 40 anos do 25 de abril em Loulé, no passado sábado. O Cine-Teatro Louletano foi pequeno para receber todos aqueles que quiseram ouvir os militares de Abril Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço e Martins Guerreiro e a adesão foi tanta que a organização acabou por projetar a filmagem do que se passava dentro da sala no exterior, para não defraudar as expetativas dos que já não conseguiram um lugar dentro de portas.

A conferência realizou-se um dia antes de se assinalarem os 40 anos da tentativa falhada de golpe de estado de 16 de março, que ficou conhecida como «Levantamento das Caldas» e que, apesar de não ter tido sucesso, foi um importante momento para a caminhada dos acontecimentos do 25 de Abril de 1974, na visão dos convidados.

Na conferência/debate, promovida por uma Comissão concelhia e que foi moderada pelo reitor da Universidade do Algarve António Branco, três dos protagonistas da Revolução dos Cravos falaram do processo revolucionário, mostrando, como seria de esperar, visões diferentes do que se passou em 1974.

Ainda assim, os três convidados foram unânimes ao abordar o presente e a necessidade de haver uma capacidade interventiva do povo. «É necessário um novo 25 de Abril mas os Militares de Abril já não têm condições para o fazer. Tem de ser o povo a fazê-lo», referiu o presidente da Associação 25 de Abril Vasco Lourenço.

Uma das intervenções mais esperadas da noite era a de Otelo Saraiva de Carvalho, figura polémica do pós-25 de abril, uma das figuras-chave do 25 de novembro e acusado de liderar o movimento terrorista FP-25, depois disso.

Descontente com o rumo que o país tomou, Otelo Saraiva de Carvalho disse que «perdeu-se uma ocasião histórica para alterar o regime político em que vivemos». Para este militar, «a forte pressão que os Estados Unidos e o mundo ocidental exerceram», com a ameaça de boicote económico, caso a revolução socialista prosseguisse, levou a este regime.

«Um regime que não serve pois não vejo capacidade interventiva do povo. (…) Durante o PREC, o povo tinha poder, havia inteligência e dinamismo mostrado no terreno pelos trabalhadores, esperança em enveredar por outro caminho político, o da democracia participativa », afirmou este militar.

Já Vasco Lourenço teve uma intervenção mais moderada, mas até concordou com Otelo de Saraiva em alguns pontos. «Perdemos uma grande oportunidade de conjugar a democracia representativa com a democracia direta das organizações de base que estão no terreno mas as forças existentes impossibilitaram que essa realidade fosse concretizada», considerou.

Por outro lado, culpou os partidos políticos pelo estado a que o país chegou já que estes «boicotaram essa ligação, pois queriam apenas uma democracia representativa». No entanto, ao contrário de Otelo, o presidente da Associação 25 de Abril acredita que, se não tivesse havido o 25 de Novembro, o país teria caído numa ditadura.

Mas, acredita, mesmo sem ter conseguido tudo o que se pretendia, o 25 de Abril veio mudar as coisas para melhor, disse Vasco Lourenço, considerando «inconcebível» pensar que o país e os portugueses estavam melhores antes da revolução dos Cravos.

Martins Guerreiro enalteceu, por seu lado, a iniciativa louletana de dar tanto destaque às comemorações dos 40 anos do 25 de Abril. «Este poder envergonha-se do 25 de Abril. É muito significativo o que Loulé está a fazer a partir de baixo. A força do poder local e da democracia de base é extremamente importante», frisou.

Se durante a Ditadura Portugal viveu uma «guerra de armas», para Martins Guerreiro hoje há uma «guerra financeira». «O elemento de subjugação que hoje esmaga a classe média é a dívida. Os portugueses devem juntar esforços para combater o capital financeiro especulativo. Este poder financeiro não é democrático e é necessário controlar democraticamente as instituições desse poder. (…) O povo português tem que tomar o seu destino nas mãos e afirmar que tem tanta dignidade como os outros», defendeu.

 

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