Tempestade Stephanie teve rajada de 134,3 km/h e ondas de 17 metros em Sines

Rajadas de vento que ultrapassaram 100km/h em alguns locais, tendo-se mesmo registado 134,3 km/h no Cabo da Roca, ondas de […]

Rajadas de vento que ultrapassaram 100km/h em alguns locais, tendo-se mesmo registado 134,3 km/h no Cabo da Roca, ondas de 12,5 metros em Leixões e ondas de 17 metros em Sines, são alguns dos números extremos da tempestade Stephanie, que atingiu Portugal e o Atlântico Norte no fim de semana, segundo dados hoje revelados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

O IPMA explica que, durante a tarde do dia 8 de fevereiro e o dia 9, uma depressão no Atlântico Norte, localizada entre a costa leste do Estados Unidos da América e os Açores, «sofreu, no seu deslocamento para leste, um processo de ciclogénese explosiva, registando-se uma descida da pressão de 29 hPa entre as 12UTC (12 horas locais) do dia 08 e as 12UTC do dia 09».

Às 18 UTC (18h00 em Portugal Continental), do dia 9 de fevereiro, domingo, a depressão, designada por Stephanie pela universidade de Berlim, centrava-se na Corunha, com um mínimo de pressão de 981 hPa (Figura 1), deslocando-se para es-nordeste, vindo a localizar-se às 06UTC do dia 10, no sul de França.

Tabela 1 - Rajada máxima entre as 00UTC do dia 9 de fevereiro e as 06UTC do dia 10 de fevereiro

A aproximação desta depressão à costa ocidental portuguesa originou precipitação, por vezes forte, em especial nas regiões do litoral oeste, e vento forte de sudoeste ou de oeste com rajadas.

Estas rajadas, durante a tarde e a noite do dia 9, ultrapassaram 100km/h em alguns locais, tendo-se registado 134,3 km/h no Cabo da Roca às 20:20UTC. A tabela 1 mostra os valores mais elevados da rajada registados na rede de estações meteorológicas do IPMA.

A partir da noite do dia 9, com o deslocamento da depressão para o Golfo da Biscaia, verificou-se uma rotação do vento para noroeste, mantendo-se forte e com rajadas da ordem de 80 a 90 km/h, durante a madrugada do dia 10.

Figura 2 - Registo da altura significativa e da altura máxima nas estações ondógrafo do Instituto Hidrográfico, IH, (a) bóia ondógrafo de Leixões, (b) bóia ondógrafo de Sines.

O vento intenso associado à depressão originou agitação marítima forte no Atlântico, tendo sido registadas nas bóias ondógrafo do Instituto Hidrográfico (IH) ondas com altura significativa, Hs, até 8 metros e com altura máxima, Hmax, de 12.5 metros em Leixões e 17 metros em Sines (Figura 2), associadas a um período de médio de 10 segundos.

Previsão do modelo SWAN H+24 para as 00UTC de 10 de Janeiro de 2014 dos parâmetros Hs e direção média das ondas.

As previsões dos modelos numéricos (Figura 3), assim como as previsões do Centro Operacional de Previsão do Tempo do IPMA, foram corroboradas pelas medições obtidas pela rede de bóias ondógrafo do Instituto Hidrográfico.

No entanto, «as ondas de altura máxima com 17 metros, observadas em Sines, podem ser designadas como “freak (ou rogue) wave”, uma vez que a sua altura foi maior que o dobro da altura significativa (Hs ~8 m), o que se pode considerar como um evento extremo, dado que a probabilidade de ocorrer é inferior a 1%», acrescenta o IPMA.

Apesar das inúmeras similaridades entre esta ondulação e aquela que ocorreu no passado dia 6 de Janeiro (associada à passagem da tempestade Christina), nomeadamente nos valores de Hs e da direção de propagação, «as diferenças nos valores dos períodos de ondas determinam diferenças na energia e no comprimento de onda».

Contrariamente à ondulação originada pela tempestade Christina, a ondulação gerada pela tempestade Stephanie «apresentou um período médio de 10 segundos, explicado pelo facto da sua geração ter ocorrido substancialmente mais perto da costa Oeste Portuguesa e durante menos tempo, quando comparadas com as ondas geradas pela tempestade Christina ao longo do seu trajeto ao longo de uma enorme faixa no Atlântico Norte».

Os registos feitos mostram que, apesar de tudo, a tempestade Stephanie acabou por não ser tão violenta para a costa ocidental portuguesa, como a Christina, em janeiro.

A questão do período médio das ondas, que agora foi mais curto, é importante. É que, segundo Bruno Gonçalves, do site MeteoFontes, «para duas ondas com a mesma altura, a onda que tiver um período maior (intervalo de tempo entre duas ondas) terá consequentemente um comprimento de onda maior, logo, uma energia associada muito maior. É a tal questão de se ter comentado que essas ondas pareciam “mini-tsunamis”, pois uma onda com grande comprimento de onda, quando vem, traz consigo uma grande massa de água atrás, que leva mais tempo a rebentar e percorre uma maior distância ao rebentar na praia, entrando praia dentro e chegando a zonas onde não era suposto chegar. As ondas de menor período, rebentam mas não se “espraiam” muito, pois são mais curtas».

«Estas ondas da Stephanie, se tivessem tido um período similar à Christina, estaríamos agora a falar do desaparecimento de muitas praias e apoios balneares, assim como, por exemplo, a derrocada das torres de Ofir…», acrescenta o meteorologista amador.

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