Desta vez são 370 os médicos que assinaram carta denunciando «situação de rutura» no CHA

370 médicos do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), em todas as fases da carreira, enviaram esta sexta-feira mais uma carta, […]

370 médicos do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), em todas as fases da carreira, enviaram esta sexta-feira mais uma carta, a segunda em pouco mais de um mês, ao presidente do conselho de administração desta estrutura, denunciando a «situação de rutura» do CHA.

A carta é, desta vez, assinada por bem mais de metade dos 500 médicos dos três hospitais algarvios, incluindo assistentes hospitalares e médicos dos internatos complementar e do ano comum, apurou o Sul Informação.

Os signatários dizem que a nova missiva é agora motivada pelas recentes declarações de Pedro Nunes, presidente do CA do CHA, feitas ao Sul Informação, em que este apelidava de «burra» e «tonta» uma médica do Hospital de Faro, e de «tontos» os médicos do Serviço de Cardiologia. Estas mesmas declarações estiveram na origem da abertura de um inquérito disciplinar da Ordem dos Médicos a Pedro Nunes.

Os subscritores da carta começam por «repudiar vivamente» as afirmações do administrador, que consideram «desajustadas e caluniosas».

«O episódio recente ocorrido no Serviço de Cardiologia, em que se constatou a incapacidade de marcação de exame programado por falta de material clínico, veio comprovar os nossos piores receios», salientam os 370 médicos, na missiva que agora vai ser enviada também ao ministro da Saúde, bastonário da Ordem dos Médicos, e aos presidentes da ARS Algarve, Comissão Parlamentar de Saúde e AMAL, bem como a cada um dos presidentes dos Municípios do Algarve.

Os signatários acrescentam que, «infelizmente, situações similares têm ocorrido noutros serviços e noutras especialidades, com consequências graves para a Saúde no Algarve».

Por isso, sublinham, «consideramos inaceitável a V. atitude para com os Médicos desta Instituição que muito – e há muito tempo – têm dado à Região Algarvia».

Quanto aos apelidos com que Pedro Nunes brindou os médicos, os signatários encaram-nos como «extensíveis a todos nós», pelo que repudiam «vivamente que o presidente do Órgão de Gestão do CHA assuma publicamente essa opinião injuriosa, ao invés de assumir as suas próprias responsabilidades, inerentes ao cargo».

Os 370 médicos afirmam também ser «insultuosa» a atitude de Pedro Nunes «para toda a população da Região do Algarve, quando afirma que “no Algarve nada é normal” e acrescentamos que não é decerto “normal” que o Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve teça esse tipo de considerações».

Mas, desta vez, não é apenas a Pedro Nunes que se dirigem as críticas dos médicos dos três hospitais algarvios – Faro, Portimão e Lagos. Também lamentam que «a Direção Clínica e a Direção do Internato Médico deste Centro Hospitalar não se pronunciem relativamente às opções de gestão que têm sido assumidas, nem relativamente às injúrias dirigidas aos profissionais de saúde desta Instituição».

«Já tínhamos anteriormente alertado, por dever Moral e profissional, para a situação da Saúde Hospitalar da Região e temos a certeza de estar a contribuir para o sucesso da Missão deste Centro Hospitalar», acrescentam, quase a terminar a carta a que o Sul Informação teve acesso em primeira mão.

A fechar, os 370 subscritores apelam à demissão de Pedro Nunes, dizendo que consideram estar-se «perante uma verdadeira crise institucional», esperando que o administrador do CHA «lhe ponha termo de forma ajustada».

A primeira carta, datada de 6 de Janeiro, e também dirigida ao presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve, foi subscrita apenas por assistentes hospitalares com vínculo laboral ao Centro Hospitalar do Algarve (inicialmente por 182 e posteriormente por mais 23, num total de 205 assistentes hospitalares).

 

Leia a carta na íntegra:

« Exmo. Senhor

Presidente do Conselho de Administração
do Centro Hospitalar do Algarve
Dr. Pedro Nunes

Algarve, 7 de Fevereiro de 2014

Assunto: Situação de Rutura no Centro Hospitalar do Algarve

No seguimento de recentes declarações prestadas por Vexa. aos meios de comunicação social, os Médicos do Centro Hospitalar do Algarve vêm por este meio repudiar vivamente as V. afirmações, que consideramos desajustadas e caluniosas.

Recordamos que, na carta dirigida a Vexa. em 6 de Janeiro do corrente ano, a grande maioria dos Médicos Assistentes Hospitalares alertava para a situação de rutura vivida no Centro Hospitalar do Algarve, desde há alguns meses – e que põe em risco a assistência médica à população algarvia – e, pedia que a V. atitude para com os profissionais de saúde, considerada autocrática e pouco dialogante, se alterasse.

O episódio recente ocorrido no Serviço de Cardiologia, em que se constatou a incapacidade de marcação de exame programado por falta de material clínico, veio comprovar os nossos piores receios. Infelizmente, situações similares têm ocorrido noutros serviços e noutras especialidades, com consequências graves para a Saúde no Algarve. Consideramos inaceitável a V. atitude para com os Médicos desta Instituição que muito – e há muito tempo – têm dado à Região Algarvia.

Consideramos que as afirmações recentes de Vexa., apelidando de “burra, tonta e pateta” uma Médica desta Casa, e “tontos” os Médicos do Serviço de Cardiologia, são extensíveis a todos nós, pelo que repudiamos vivamente que o Presidente do Órgão de Gestão do CHA assuma publicamente essa opinião injuriosa, ao invés de assumir as suas próprias responsabilidades,inerentes ao cargo.

Consideramos ainda a V. atitude insultuosa para toda a população da Região do Algarve, quando afirma que “no Algarve nada é normal” e acrescentamos que não é decerto “normal” que o Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve teça esse tipo de considerações.

Lamentamos ainda que a Direção Clínica e a Direção do Internato Médico deste Centro Hospitalar não se pronunciem relativamente às opções de gestão que têm sido assumidas, nem relativamente às injúrias dirigidas aos profissionais de saúde desta Instituição.

Já tínhamos anteriormente alertado, por dever Moral e profissional, para a situação da Saúde Hospitalar da Região e temos a certeza de estar a contribuir para o sucesso da Missão deste Centro Hospitalar. Consideramos estar perante uma verdadeira crise institucional e esperamos que Vexa. lhe ponha termo de forma ajustada.

Sem outro assunto,

Os Médicos do Centro Hospitalar do Algarve»

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