Pedro Nunes admite ter pedido denúncia do contrato dos Cuidados Paliativos de Portimão

Pedro Nunes, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), admitiu, em declarações ao Sul Informação, ter […]

Pedro Nunes, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), admitiu, em declarações ao Sul Informação, ter enviado a 4 de setembro uma carta à Administração Regional de Saúde a rescindir o acordo para a Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de Portimão, tal como o nosso jornal revelou sábado.

Sempre hábil com as palavras, Pedro Nunes admite: «queremos renegociar o contrato e para isso temos que o denunciar primeiro», acrescentando que «a intenção ao denunciar o contrato não é fechar nada. Queremos até ir para além do que existe agora, alargando a rede de convalescença e cuidados paliativos».

«Queremos firmar outro contrato», mantendo «a unidade no Hospital de Portimão e abrindo outra em Lagos». Por isso, assegurou aquele responsável, «interessava denunciar o contrato para negociar as condições de admissão dos doentes e as condições de financiamento» dos serviços.

Apesar de Pedro Nunes reafirmar as garantias dadas na sexta-feira ao Sul Informação de que «nunca passou pela cabeça de ninguém fechar o serviço», fonte médica disse ao nosso jornal que, a serem verdade estas suas últimas declarações, o que o administrador do Centro Hospitalar do Algarve pretende é «retirar os cuidados paliativos do Hospital de Portimão da Rede Nacional de Cuidados Continuados, dispersando as camas por um serviço a que ele agora chama de cuidados de convalescença e paliativos».

E qual a razão de pretender que aquele serviço deixe de estar integrado na Rede? Tem tudo a ver com o financiamento do CHA, garante a fonte médica. «A Rede de Cuidados Continuados, contratada através da ARS, paga cento e poucos euros por doente internado nos Cuidados Paliativos e as exigências do serviço são enormes, ao nível de pessoal médico, de cuidados de enfermagem e de terapeutas, o que acarreta custos acrescidos. Mas se o que o Estado pagar for camas hospitalares normais, com usos diversos, sem esse formalismo da Rede, então cada cama será paga a 600 a 700 euros. É mais dinheiro que entra para o CHA».

 

Cuidados Paliativos podem perder qualidade e exigência

E isso não é bom, já que se aumenta o financiamento? «O problema é que os Cuidados Paliativos são um serviço muito específico, para doentes terminais, que de facto tem que ter requisitos muito altos. Se se retira o serviço de Portimão da Rede Nacional, se o que eventualmente poderá ser criado em Lagos não fizer parte da Rede, então estar-se-á um pouco a vender gato por lebre, a oferecer um serviço de mais baixa qualidade, apesar de ter um nome semelhante. Ora, em saúde, e sobretudo nestes casos em que está em causa também a dignidade da pessoa, a qualidade do serviço prestado é fundamental», explicou ao Sul Informação outra fonte do pessoal hospitalar.

A fonte médica já citada recordou mesmo que, em reunião recente, Pedro Nunes teria considerado ser um luxo que a Unidade de Cuidados Paliativos tivesse quartos individuais. «Quartos com uma só cama? Isso não pode ser porque não é rentável, disse o Dr. Pedro Nunes numa reunião», garantiu a fonte contactada.

Mas se a ideia é mesmo não fechar nada, antes pelo contrário, aumentar, ainda que segundo um novo esquema, então porque fechou já a sala destinada aos familiares, na UCP portimonense? Pedro Nunes garante que nada sabe sobre este assunto. «Não mandei fechar sala nenhuma», diz. E, à laia de explicação, acrescenta: «cada um faz o que quer e lhe apetece no Hospital de Portimão!».

«Essa afirmação do Dr. Pedro Nunes de que não sabe nada do fecho da sala é absurda», garante a fonte hospitalar. «O fecho dessa sala revela o nível de qualidade que se pretende para o serviço. Trata-se de uma sala onde as famílias recebem as notícias. Tem que ser um espaço mais reservado, com alguma dignidade, para acolher situações que são difíceis», acrescentou o médico contactado pelo nosso jornal.

 

Lagos como hospital dedicado a Paliativos e Convalescença

Quanto à substituição da diretora dos Cuidados Paliativos do Hospital de Portimão, que o Sul Informação denunciou, o presidente do CA do CHA diz que «A Dra. Madalena Sales, enquanto quiser manter-se a dirigir essa unidade vai continuar a fazê-lo. Para o projeto mais alargado, que inclui Portimão, Lagos, Loulé e Olhão, é que nomeámos outra pessoa, a Dra. Dagoberta».

Antecipando já outras possíveis questões incómodas, Pedro Nunes adianta que «a Unidade de Paliativos não aparece no novo organigrama do Hospital de Portimão porque, na realidade, não pertence ao hospital», uma vez que se trata de um serviço contratualizado no âmbito da RNCC.

Quanto ao Hospital de Lagos, o administrador do CHA garantiu que «as suas 40 camas são necessárias». É que, anunciou, «aí será instalada a Unidade de Convalescença e Cuidados Paliativos». «Quem está em convalescença ou em Cuidados Paliativos pode estar em Lagos, porque já não estará tão dependente de exames médicos ou de especialidades que só podem ser asseguradas em Portimão. Os doentes convalescentes ou com doenças menos graves, terão aí todo o apoio, nomeadamente a nível de enfermagem».

«Lagos é o natural hospital de mais proximidade, que terá camas de menos agudos e dos que já estão em situações tão graves que também já não necessitam de estar num Hospital como o de Portimão, com todos os exames, etc», reforçou.

A terminar, Pedro Nunes admitiu que a denúncia do contrato da UCP «não era suposto ser pública». «Mas o que interessa é que, daqui por seis meses, teremos novo enquadramento com novo contrato, mas para aumentar Cuidados Paliativos e de Convalescença».

A Unidade de Cuidados Paliativos de Portimão integra-se na Rede Nacional de Cuidados Continuados, que, no Algarve, é gerida pela ARS. Esta UCP foi instalada no Hospital do Barlavento mediante acordo assinado a 20 de abril de 2009 entre o então CHBA e a ARS.

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