Alunos em Monchique tratados como «peças de fruta a distribuir por vários caixotes»

Câmara Municipal, encarregados de educação, associação de pais, direção do Agrupamento de Escolas, todos estão contra a forma como foram […]

Câmara Municipal, encarregados de educação, associação de pais, direção do Agrupamento de Escolas, todos estão contra a forma como foram constituídas as turmas nas escolas de Monchique, que, em cumprimento das novas normas do Ministério da Educação, têm dimensões «absurdas» e misturam alunos de vários anos.

A Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas do Concelho afirma mesmo que «as crianças e jovens que frequentam os vários níveis de ensino não podem ser tratados como se fossem peças de fruta que temos de distribuir por vários caixotes, respeitando a sagrada lei que estabelece que cada caixote tem de albergar vinte exemplares».

A situação, que se repete noutros concelhos algarvios e um pouco por todo o país, é tão grave que motivou ontem uma reunião de emergência entre o presidente da Câmara, ele próprio professor de profissão, representantes dos encarregados de educação, a sua associação representativa e a direção do Agrupamento.

Na sequência da reunião, o autarca Rui André enviou ao ministro da Educação uma carta a solicitar um pedido de «audiência urgente», e onde afirma que o arranque do ano letivo apresenta «turmas desajustadas da normalidade, quer do ponto de vista pedagógico, quer também dos padrões aceitáveis de bom senso e correto funcionamento da ação educativa».

O edil de Monchique, eleito pelo PSD, acrescenta, na sua carta ao ministro Nuno Crato, que a situação ainda é mais agravada pela «redução de um professor do Primeiro Ciclo».

Rui André acrescenta que segundo informação da diretora do Agrupamento de Escolas, já foi enviado para a Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares um pedido para «proceder às alterações de forma a reorganizar mais correta e pedagogicamente as turmas».

 

Pais ameaçam fechar escolas e avançar com providência cautelar

 

Em declarações ao Sul Informação, o autarca disse esperar «como pai e como autarca, que, durante o dia de hoje ou amanhã, venha uma resposta positiva do Ministério», autorizando «a reformulação das turmas».

É que, afirma, a situação é de «fácil resolução», uma vez que «as alterações propostas consistem na reorganização e distribuição dos alunos por turmas já existentes, sem afetar mais recursos humanos e materiais, a tempo de iniciarmos o ano letivo com a normalidade possível e exigível junto desta comunidade educativa».

E se tal não acontecer? Rui André admite que há pais que «ameaçam fechar as escolas», havendo mesmo um grupo de pais que decidiu avançar para uma providência cautelar, uma vez que se trata de uma turma que «engloba três anos de ensino e ainda três alunos com necessidades educativas especiais, o que é ilegal».

Na sua carta ao ministro Nuno Crato, o presidente da Câmara de Monchique chama a atenção para a necessidade de voltar a colocar mais um professor, uma vez que, embora «atendendo à necessidade de redução da despesa» a que o Ministério está obrigado, há que ter em conta que Monchique é «um território de baixa densidade», que «em caso algum deve ser prejudicado e marginalizado». Mas, ao Sul Informação, Rui André não manifestou muita esperança de que esta pretensão seja atendida.

 

Turmas baralhadas e com absurdo número de alunos

 

A Associação de Pais dá exemplos da má constituição das turmas, revelando a existência de «turmas no mesmo nível de ensino com números de composição tão díspares» como são os casos dos 7º e 9º anos, em que, havendo três turmas, duas comportam 20 alunos, enquanto a outra fica com apenas 8 alunos.

A estrutura representativa dos pais critica também a forma como foram distribuídos os alunos com necessidades educativas especiais (NEE). «Quando se vê que, numa turma, para além de comportar 20 alunos, inclui duas crianças com NEE, e outra turma, do mesmo nível de ensino, é formada apenas por 8 crianças e não inclui qualquer aluno com NEE, é caso para perguntar: onde está a racionalidade de uma decisão como esta?»

Mas o presidente da Câmara Rui André dá exemplos de outras situações absurdas, como é o caso da Escola de S. Pedro, «onde há quatro professores, quatro turmas, quatro anos de escolaridades, mas onde os alunos estão todos baralhados em todas as turmas. É um absurdo!».

Os pais defendem, por isso, que sejam «atribuídas competências ao Conselho Pedagógico e à Direção do Agrupamento de Escolas de Monchique, para, no seu seio, definirem a justa distribuição dos alunos merecedores de especiais atenções e tratamentos».

A Associação conclui: «jamais ficaremos calados e sossegados e que «tudo faremos parta salvaguardar os interesses de alunos e professores». E mesmo o edil social-democrata de Monchique avisa: «se até segunda-feira não recebermos uma resposta positiva do Ministério, serão tomadas outras medidas».

 

 

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