Fragata Hermenegildo Capelo já está no fundo do mar

Não foi um tiro no porta-aviões, mas quase. Às 13h00 em ponto, ouviu-se um morteiro, depois começaram explosões ao longo […]

Não foi um tiro no porta-aviões, mas quase. Às 13h00 em ponto, ouviu-se um morteiro, depois começaram explosões ao longo do casco, na linha de água, a seguir dois clarões de fogo, um quase à proa e outro à popa.

A fragata começou a afundar-se direitinha, no fim inclinou-se um pouco e deixou a proa a espreitar. E finalmente desapareceu nas águas, submergindo suavemente, deixando apenas um rasto de espuma branca à superfície.

Ao todo, levou pouco mais de dois minutos a desaparecer nas águas do Atlântico, milha e meia ao largo da praia de Alvor. Foi assim o mergulho final da antiga fragata da Marinha Portuguesa «Comandante Hermenegildo Capelo», o terceiro navio a juntar-se, a 30 metros de profundidade, ao parque subaquático «Ocean Revival», que pretende fomentar o turismo de mergulho no Algarve.

«Os mergulhadores da Marinha já fizeram uma primeira inspeção e confirmaram que o navio caiu direitinho no fundo, e deram o “ok” para que se iniciem os mergulhos», anunciou Luís Sá Couto, responsável pelo projeto Ocean Revival, já em terra, na base de operações montada no Hotel Alvor Praia.

Visivelmente satisfeito com a forma como tudo decorreu, Sá Couto acrescentou que «a operação de afundamento decorreu como tinha sido planeada. Foi tudo ao minuto, mesmo como estava previsto. O navio está estabilizado a cerca de 30 metros de profundidade».

No fundo do mar, a antiga fragata NRP «Comandante Hermenegildo Capelo» foi juntar-se aos dois outros navios da Armada Portuguesa que foram afundados em outubro do ano passado – a corveta «Oliveira e Carmo» e o patrulha «Zambeze». Em setembro, provavelmente a 21, será afundado o quarto e último navio do projeto «Ocean Revival», o navio oceanográfico “Almeida Carvalho”.

 

O mais antigo comandante ainda vivo recorda a fragata no ativo

 

Mais uma explosão no afundamento da fragata Hermenegildo Capelo

No mar, o afundamento foi acompanhada tão de perto quanto possível, por cerca de uma dezena de embarcações, sempre mantidas fora do perímetro de segurança pelas zelosas lanchas da marinha.

Em terra, as operações estavam montadas no terraço virado para o mar do hotel Alvor Praia, onde havia vários oficiais da Marinha (até um almirante), autarcas, os presidentes da Câmara de Portimão e do Turismo do Algarve, empresários e gestores turísticos e hoteleiros de Portugal e Espanha, bem como Luís Sá Couto, o mentor do projeto Ocean Revival.

Entre os convidados, estava o Comandante Mendes Quinto, que é o mais antigo comandante da fragata «Hermenegildo Capelo», ainda vivo.

Mendes Quinto confessou ter acompanhado o afundamento «com grande emoção e ao mesmo tempo com uma certa felicidade. E fiquei feliz porque, normalmente, o destino destes navios é irem para a sucata e serem desmantelados. E esta fragata ficará agora no mar, onde é o seu lugar, será fotografada e vista por muita gente, por muitos mergulhadores. Isso, para mim, é uma felicidade».

O comandante Mendes Quinto serviu dois anos a bordo da fragata, tendo navegado no Atlêntico, no Mediterrâneo e no Índico, desempenhando missões importantes ao serviço da Marinha Portuguesa, em meados dos anos 70 do século passado.

A missão de que mais se recorda passou-se precisamente em 1975. «A última missão foi no regresso de Angola, na véspera do dia da independência de Angola, a 9 de novembro de 1975. Duas horas antes da meia noite, zarpámos de Luanda, fazendo o transporte de tropas portuguesas e até trazíamos a bordo o Alto Comissário de Portugal em Angola».

Mas a missão, já de si emotiva, não se ficou por aqui. «24 horas depois, já navegando no Golfo da Guiné, fomos em socorro de três traineiras portuguesas que tinham saído há um mês de Angola rumo à Metrópole e estavam com dificuldades de abastecimento. Eles tentaram reabastecer-se de gasóleo e água, mas na cidade onde aportaram não quiseram aceitar a moeda que eles levavam, angolares e escudos, só queriam dólares», contou ainda o comandante Mendes Quinto.

Quando a fragata «Hermenegildo Capelo» chegou finalmente junto das traineiras carregadas de portugueses, famílias inteiras, brancos e negros, com muitas crianças, já só havia duas traineiras a navegar, porque a terceira se tinha afundado entretanto. «Estavam superlotadas e nós transferimos as mulheres e as crianças para bordo. Reabastecemos as traineiras de gasóleo e mantimentos e eles lá seguiram. Lembro-me que uma delas era a “Flórida”, que vim depois a encontrar aqui em Quarteira», recordou ainda o antigo comandante da fragata hoje afundada.

 

O afundamento, a par e passo

 

Já só se vê fora de águaa proa da fragata Hermenegildo Capelo...

Este sábado, a fragata «Hermenegildo Capelo» começou a ser rebocada do porto de Portimão às 7h00, para ser posicionada e fundeada, entre as 9h00 e as 11h00, no local previsto para o seu afundamento, frente à praia de Alvor.

Às 13h00 teve lugar a imersão da antiga fragata. Às 14h00, foi feito um mergulho de inspeção do navio, após o que, entre as 15 e as 16h30, decorreu o primeiro mergulho oficial no navio, reservado a mecenas, ou seja, a pessoas que apoiaram o Projeto Ocean Revival.

A partir de amanhã, domingo, 16 de junho, o navio estará aberto ao público, sendo possível mergulhar.

No entanto, durante um período de duas a três semanas, estará proibida a entrada na antiga fragata.

Em tempo oportuno, a Capitania do Porto de Portimão anunciará a abertura do navio a qualquer tipo de mergulho incluindo penetração para mergulhadores devidamente certificados.

O Projeto Ocean Revival tem por objetivo a criação, ao largo de Portimão, de um recife artificial visitável por turistas de mergulho de todo o mundo, dinamizando desta forma a economia local ao longo de todo o ano.

Esta tarde, depois de confirmar que tudo estava “ok” no navio afundado, Luís Sá Couto, mentor do projeto «Ocean Revival», fez questão de dizer que no «Zambeze», afundado em outubro, já há «lulas deste tamanho» (fazendo um gesto com as mãos a indicar uns bons 20 centímetros de comprimento), bem como «safios, lírios e peixes-galo». E os cascos dois dois navios submersos começam a ficar cobertos de «anémonas e corais», transformando-se assim num verdadeiro recife artificial.

No polo de turismo subaquático do parque Ocean Revival já podem ser visitados o patrulha-oceânico “Zambeze” e a corveta “Oliveira do Carmo”, submersos no dia 30 de outubro passado, faltando ainda o navio oceanográfico “Almeida Carvalho”, que será afundado em setembro próximo, provavelmente no dia 21.

Os quatro navios desta frota, que marcaram a história da Marinha Portuguesa, funcionarão como recifes artificiais num fundo de areia, constituindo uma paragem obrigatória para o importante nicho do turismo de mergulho, com a previsão que ao longo dos primeiros dez anos sejam atraídos um total de 620 mil mergulhadores e suas famílias, o que poderá constituir um importante estímulo para a economia local.

Nos dois navios que foram ao fundo em outubro, já foram feitos desde então, e apesar dos temporais de inverno, mais de 2400 mergulhos, o que é um recorde para a atividade na época baixa turística, revelou Luís Sá Couto, da empresa Subnauta e membro fundador, com a Câmara de Portimão, da Associação Musubmar, que promove o projeto de incremento do turismo subaquático através do afundamento de quatro antigos navios da Armada Portuguesa.

 

Veja aqui mais fotos do afundamento da fragata Hermenegildo Capelo.

 

 

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