Uma visita politicamente incorrecta ao cérebro humano

«Será a mente humana capaz de descobrir qualquer coisa que a transcenda» questiona o eminente neurocientista Alexandre Castro Caldas na […]

«Será a mente humana capaz de descobrir qualquer coisa que a transcenda» questiona o eminente neurocientista Alexandre Castro Caldas na introdução do seu mais recente livro «Uma visita politicamente incorrecta ao cérebro humano».

Publicado em Fevereiro de 2013 pela editora Guerra & Paz, este livro apresenta e desvenda as novidades do conhecimento que as neurociências têm alcançado sobre esse órgão, o cérebro, aquilo que o leitor está a usar para entender o que está a ler agora mesmo.

«Quem somos então, o que somos nós, o que é que o cérebro e as suas funções?» pergunta-nos Alexandre Castro Caldas, para logo responder que as «páginas deste livro não pretendem ser resposta, mas pretendem abrir portas para a reflexão».

O livro está escrito com uma linguagem muito simples. Os casos clínicos que ajudam a entender melhor como o nosso cérebro funciona são apresentados para que qualquer um de nós os entenda e logo entenda melhor como o seu próprio cérebro funciona. As notas e as referências bibliografias são dispensadas nesta visita politicamente incorrecta ao cérebro humano, o que torna fluida a leitura deste livro. 

Capa do livro Uma visita politicamente incorrecta ao cérebro humano

Sublinhe-se que Alexandre Castro Caldas começou a sua carreira de investigação científica de excelência com António Damásio, em 1970, ficando a dirigir o Laboratório de Estudos de Linguagem, quando, em 1975, Damásio deixou o nosso país.

Mas voltemos ao livro. Está estruturado em dez capítulos que o leitor pode ler pela ordem que entender, eventualmente movido pela sua maior curiosidade, ou interesse por um dado aspecto do nosso cérebro.

No primeiro capítulo «reflecte-se sobre a forma como acreditamos nas coisas». No segundo discute-se como a consciência humana pode ter começado «num sonho».

«Conhece-te a ti mesmo» é o título do terceiro capítulo, no qual de descreve «como o cérebro interage com o sensível». No quarto, intitulado «quem fui eu, quem sou eu», Castro Caldas discute a questão da identidade.

«Quem és tu? Que casa é esta», intitula o quinto capítulo que apresenta casos em que o cérebro processa mal a informação sobre o que lhe está próximo, como sejam as pessoas da sua família e os locais que lhe são habituais.

O sexto capítulo é dedicado a aspetos marcantes da personalidade: «quando se faz aquilo que se não quer fazer» e «o livre-arbítrio», levando-nos a refletir sobre a questão da vontade própria.

Abordando aspectos anatómicos, mas funcionais, o sétimo capítulo apresenta ao leitor a realidade da «Dominância Cerebral» e discute-se sobre qual manda, se o hemisfério esquerdo se o direito e quando. O género sexual e a sua influência sobre o cérebro, um «tema de tanto estimula a imaginação», é tratado no oitavo capítulo.

Numa época em que vivemos sob a influência de uma nova, globalmente esmagadora tecnologia de informação, Castro Caldas descreve no nono capítulo como «Manter o cérebro em forma» numa aproximação aos desafios modernos da «interacção entre o natural e o artificial».

Por fim o décimo capítulo, o qual, como os outros, pode ser lido em primeiro lugar: «Experiências de quase-morte» é o seu título e nele se desmistificam as fantasias, as ilusões geradas pelo cérebro sobre a memória de experiências traumáticas na “fronteira abrupta” entre a vida e a morte.

A leitura deste livro é uma experiência rica em que o autor nos ajuda a compreender melhor o mundo em que vivemos ao explicar com o com conhecimento atual como é que o cérebro compreende e funciona no mundo em que vive.

No panorama atual da literatura de divulgação científica portuguesa em geral, e das neurociências em particular, este livro destaca-se pela sua atualidade científica, pela sua simplicidade rigorosa e pela sua utilidade para o leitor que com ele se compreende melhor. A ler. A reler.

Autor: António Piedade

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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