Centena e meia manifestou-se frente à Câmara de Portimão contra os cortes do Vai e Vem

Em Portimão, provavelmente, nunca se viu uma manifestação em que fosse tão grande o número de bengalas e de pessoas […]

Em Portimão, provavelmente, nunca se viu uma manifestação em que fosse tão grande o número de bengalas e de pessoas sentadas. Mas isto traduz bem o que se passou esta tarde, frente à Câmara Municipal, quando cerca de centena e meia de pessoas se manifestou contra os cortes no serviço de transportes urbanos do concelho, o Vai e Vem, que entram em vigor amanhã e afetam sobretudo idosos e reformados que vivem nas localidades da periferia de Portimão.

Os cortes destinam-se, como já explicou a Câmara Municipal, a reduzir as despesas da autarquia, através da empresa municipal Portimão Urbis, com este serviço, passando dos atuais 4,7 milhões de euros por ano para 1,8 milhões.

Mas o que as pessoas não percebem é porque razão não são diminuídas ainda mais as frequências dos autocarros durante os dias de semana, para que seja possível mantê-los ao fim de semana, na periferia.

É que os cortes anunciados passam pela redução do número de linhas, pela diminuição da frequência dos autocarros e do número de paragens, mas também pela supressão do serviço ao fim de semana, feriados e até, no verão, durante as férias escolares, nos meses de julho e agosto, nas localidades periféricas.

«A Mexilhoeira Grande, que é uma freguesia tão importante como as outras, e que até sempre tem votado no PS, agora fica apenas com uma linha e é só dez meses por ano, porque em julho e agosto pára. Quem quiser que vá a pé ou que pague o dobro na camioneta interurbana», explicou ao Sul Informação um morador daquela localidade, Paulo de Sousa. «Eu não uso o Vai e Vem, mas os meus pais usam e a minha filha, que anda lá na escola, também. Mas veja lá que ela sai das aulas à uma e meia da tarde, como a maioria dos miúdos, mas depois só tem Vai e Vem às seis e meia. Isto está muito mal pensado!».

Descontente estava também Manuel Henriques Alves, da Companheira. De mapa do serviço do Vai e Vem na mão, explicou: «está a ver esta linha 32, entre o Largo do Dique e o Hospital? Podia passar pela Companheira, mas não passa. Era só um desvio de dois quilómetros, ir e vir. Nós ao fim de semana e no verão vamos ficar sem nada. Antes de haver o Vai e Vem, ia lá uma camioneta da carreira, mas agora já não vai. Eu tenho uma prótese numa perna, como é que posso andar dois quilómetros a pé?».

Um morador idoso da Ladeira do Vau trazia ao pescoço um cartaz em que avisava: «o Vai e Vem da Ladeira do Vau não pode parar aos sábados senão os moradores desta não vão votar nas eleições».

 

Trabalhadores da Frota Azul temem despedimentos

 

Elvino Valente, coordenador regional do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal, salientou, em declarações aos jornalistas, que «este corte de 50% no serviço pode afetar postos de trabalho dos motoristas», podendo significar o despedimento coletivo de «vinte ou mais motoristas». É que, mediante um contrato com a empresa municipal Portimão Urbis, o serviço é prestado por autocarros da transportadora Frota Azul.

«A administração da Frota Azul diz-nos que está a fazer tudo para evitar os despedimentos, mas não deu garantias», acrescentou o dirigente sindical.

Elvino Valente disse ainda que alguns dos trabalhadores que deixaram de ser necessários em Portimão estão a ser integrados em Faro, onde vai ser criado um novo serviço de transportes urbanos. «Alguns já mudaram para lá, mas muitos têm a sua vida organizada em Portimão e não é fácil mudarem-se para Faro», lembrou.

O Sindicato já se reuniu com a administração da Portimão Urbis e no dia 20 tem nova reunião agendada, desta vez com a Câmara Municipal. «O objetivo da reunião é esclarecer as razões da reformulação do serviço e manifestar a nossa preocupação com a redução de postos de trabalho».

António Goulart, dirigente da União dos Sindicatos do Algarve, por seu lado, salientou o facto de a Câmara de Portimão ter criado «um serviço de transportes urbanos que era essencial para as populações e que agora corta para metade», mas criticou também a administração da Frota Azul que, «quando ganhava muito dinheiro com estes serviços, nunca partilhou os lucros com os trabalhadores, nem através de aumentos salariais, e agora quer partilhar os prejuízos».

Goulart salientou também a sua preocupação com a situação dos motoristas, «numa região já de si muito sacrificada pelo desemprego. Estimamos que o desemprego na região atinja em termos reais os 30%, o que é muito preocupante. Há pessoas a passarem fome, é alarmante». E os próprios cortes no serviço de transportes urbanos de Portimão, sublinhou, a«afetam sobretudo trabalhadores e reformados, que já atravessam muitas dificuldades».

Quando a manifestação se aproximava do fim, um grupo de umas 15 a 20 pessoas quis entrar na Câmara para ir falar diretamente com o presidente Manuel da Luz (que aliás, segundo disse uma fonte da autarquia ao Sul Informação, nem sequer estava no edifício). O grupo foi impedido por um funcionário, depois ajudado por quatro agentes da PSP. Mas tudo acabou por resolver-se de forma ordeira, sem qualquer problema.

Uma senhora gritou: «nós não queremos entrar na Câmara, nós apenas queremos uma resposta e uma explicação do presidente da Câmara!».

Uma delegação da população acabou por ser recebida na autarquia pelo vereador Jorge Campos, que explicou as razões que levaram à reformulação do serviço.

«Nem sei para que é que a gente perdeu tempo com esta manifestação. Eles fazem o que querem, já decidiram tudo e amanhã começam os cortes. A Câmara é como o Governo, decidem tudo e não se interessam com o povo», disse outra idosa. «Olhe, vou mas é sentar-me um bocadinho, porque as pernas já não aguentam estar aqui em pé».

Após a manifestação, a maioria dos participantes regressou a casa, nas aldeias que circundam a cidade de Portimão, utilizando o Vai e Vem. «Amanhã já não posso vir à praça fazer o meu governo, porque já não vou ter transporte. Hoje fui ao médico de manhã e não me despachei…Já viu como a gente que menos tem e os idosos são os que sofrem sempre mais com estas coisas?», interpelou uma moradora das Alfarrobeiras.

A PSP identificou alguns dos participantes na manifestação. Fonte da PSP disse à Agência Lusa que se trata de um procedimento normal, tendo em conta que a concentração de protesto não tinha sido comunicada às entidades.

As alterações ao serviço do Vai e Vem entram em vigor amanhã, dia 16 de março.

 

Veja aqui mais fotos da manifestação.

 

 

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