Carmona visita São Brás de Alportel, Loulé, Guia, Lagoa e Estômbar em 1932 (VIII)

O terceiro dia de visita presidencial ao Algarve, 17 de fevereiro de 1932, principiou com uma deslocação às obras do […]

O terceiro dia de visita presidencial ao Algarve, 17 de fevereiro de 1932, principiou com uma deslocação às obras do porto de Vila Real de Santo António. Recorde-se que o chefe de Estado e demais comitiva haviam pernoitado no Hotel Guadiana, de onde saíram por volta das 10h00 da manhã.

Formou-se então, e de acordo com o “Diário de Notícias”, uma “longa fila de automóveis com as autoridades e representantes das colectividades locais, em direcção ao porto, cujas obras foram minuciosamente visitadas”.

O chefe do Departamento Marítimo e o engenheiro diretor das obras apresentaram explicações “sobre as aspirações da vila, respeitantes ao seu lindo porto fronteiro a Aiamonte”. Durante as quais os presentes admiraram o “maravilhoso panorama.”

O périplo prosseguiu em direção a São Brás de Alportel, encontrando-se “pelas estradas, muito povo que saudava o Chefe do Estado, sendo lançadas flores, pelas crianças e por algumas senhoras sobre o seu automóvel.”

À passagem por Tavira, era o cortejo aguardado na Praça da República, pelas autoridades locais, civis e militares e muito povo. Em S. Brás, onde o presidente iria visitar o Sanatório Ferroviário, foi a comitiva recebida, por “numerosa multidão e mais de setecentas crianças das escolas, que aclamaram o Chefe de Estado, sendo lançados muitos foguetes e lançadas flores sobre o automóvel presidencial”.

O general Carmona visitou então o sanatório para ferroviários tuberculosos. O estabelecimento era dirigido pelo Dr. Alberto Sousa, o qual, e segundo o DN, “agradeceu a honrosa visita, elogiando o interesse do Governo pelas obras de assistência, que bem demonstram o seu interesse em aproximar-se do povo.” Lembrou ainda que a lotação era só para vinte doentes, estando o resto da construção por concluir.

Discursou seguidamente o general Vasconcelos Porto, em nome dos beneméritos protetores do sanatório, e por fim o presidente da República. O chefe de Estado agradeceu as afirmações que lhe foram dirigidas e congratulou-se com a ação beneficiante ali desenvolvida.

A comitiva percorreu depois as instalações, bem como a galeria de repouso. Finda a visita, o cortejo partiu em direção a Loulé, tendo atravessado a vila de São Brás no meio de “entusiásticas manifestações”.

Loulé apresentava um ar festivo, com janelas engalanadas, mastros com bandeiras nas ruas, e imenso povo. O DN descreveu pormenorizadamente a entrada da vila: “imensa multidão e centenas de crianças das escolas ovacionaram os recem-vindos. O largo fronteiro à Câmara Municipal era um verdadeiro mar de gente, assaltando a multidão o automóvel presidencial e obrigando o Chefe de Estado a atravessar a vila a pé, entre delirantes vivas à Pátria, à República e à Ditadura. As bandas de música tocavam o hino nacional, e a todo o momento estrondeando os morteiros. O sr. general Carmona, ao chegar ao termo da vila, agradeceu ao povo, subindo outra vez para o seu carro”.

A receção foi tão efusiva que, para “O Século”, ”A polícia viu-se em apuros para manter o povo na necessária compostura.”

O séquito dirigia-se para Portimão, por Boliqueime, Guia, Alcantarilha, Lagoa e Estômbar.

O cortejo passou pela Guia às 13h20. Ali era o presidente Carmona esperado, “junto da estrada nacional, pela comissão administrativa da Junta de Freguesia, regedor, professora oficial, com os seus alunos e muito povo, tendo subido ao ar muitos foguetes, ao mesmo tempo que as crianças das escolas lançavam flores sobre o automóvel presidencial”, conforme relatou “O Século”.

A euforia entre os petizes terá sido desmedida, de tal forma que uma criança de 9 anos atravessou a estrada, tendo sido atropelada pelo carro onde seguia o ministro da Marinha.

O miúdo foi “imediatamente conduzido a Alcantarilha, onde lhe foram pensados vários ferimentos que recebeu na cabeça e que não são de gravidade, impedindo-o, no entanto, durante algum tempo de prestar os serviços que lhe estavam confiados, numa casa onde lhe davam de comer.”

Os tempos eram extremamente difíceis e a mãe do garoto, que era “muito pobre, não tem com que o sustentar, enquanto ele estiver doente e não voltar a arranjar colocação”, logo pediu ao correspondente de “O Século”, “eco do seu desejo de que a socorram até o pequenito se restabelecer.”

Em Alcantarilha, foi o cortejo saudado por “professores e alunos das escolas oficiais.” Já em Lagoa era o chefe de Estado “aguardado, junto dos Paços do Concelho, pelas crianças das escolas e respectivas professoras, tendo sido ali erguidos diversos «Vivas».” Por indicação do administrador do Concelho lagoense, o presidente “agraciou, com uma medalha, o sr. Joaquim Sousa Neves.”

Também a aldeia de Estômbar saiu à rua para aclamar o chefe de Estado. Nesta localidade aguardavam os insignes excursionistas, “professoras e alunos das escolas, autoridade local, presidente da Junta de Freguesia e grande número de pessoas, tendo-se ouvido muitos «vivas», enquanto estralejavam, no ar, muitas dúzias de foguetes.”

O cortejo aproximava-se agora do seu destino, e “pelas 14 horas, avistava-se o deslumbrante panorama de Portimão”. A cidade apresentava um aspeto festivo, “estando embandeirada profusamente. Os sinos repicavam e, no porto, faziam-se ouvir as sereias dos vapores, também embandeirados.”

Tal como noutras terras do Algarve subiram ao ar, de imediato, girândolas de foguetes, enquanto o Presidente da República e demais comitiva entravam triunfalmente na cidade.

(Continua)

 

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Aurélio Nuno Cabrita

Autor: Aurélio Nuno Cabrita é engenheiro de ambiente e investigador de história local e regional

 

 

 

 

 

 

 

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