Ribeira do Vascão classificada como um dos dois novos Sítios Ramsar em Portugal

A Ribeira do Vascão acaba de ser designada como um dos dois novos Sítios Ramsar em Portugal, elevando para 30 […]

A Ribeira do Vascão acaba de ser designada como um dos dois novos Sítios Ramsar em Portugal, elevando para 30 o número destas Zonas Húmidas de Importância Internacional no território nacional.

Além desta ribeira, que nasce na Serra do Caldeirão e desagua no Guadiana e tem grande parte do seu curso no interior serrano do Algarve (concelhos de Loulé, Tavira e Alcoutim), estabelecendo a fronteira com o Baixo Alentejo, foi ainda designada como Sítio Ramsar a Pateira de Fermentelos e os vales do Águeda e do Cértima, no Norte do país.

O sítio da Ribeira do Vascão, que abarca um total de 44,331 hectares (37º27’N 007º48’W) constitui o maior rio sem interrupções artificiais, tais como barragens, em Portugal.

Situada na região mediterrânica, aquela ribeira suporta altas concentrações de espécies ameaçadas de peixes de água doce, tais como o Saramugo (Anaecypris hispanica), Enguia-europeia (Anguilla anguilla) e Lampreia (Petromyzon marinus).

Segundo salienta Laura Máiz-Tomé, conselheira assistente da Convenção de Ramsar para a Europa, «a zona húmida regula as cheias da Ribeira do Vascão», enquanto a «vegetação ripícola contribui para a infiltração de água no subsolo e para a estabilização de diferentes processos hidrológicos».

Na base da classificação desta ribeira esteve ainda o facto de terem sido descobertos na região «numerosos vestígios arqueológicos dos períodos romano e islâmico».

Destaque também para o facto de o Vascão ser «popular para atividades outdoor, desportos de natureza e educação ambiental».

A mesma classificação chama a atenção que a falta de estações de tratamento de esgotos nas aldeias adjacentes «ameaça o carácter ecológico do sítio», mas ressalva que «planos de gestão foram implementados» ao mesmo tempo que foram adotadas «estratégias de erradicação de espécies exóticas invasivas».

O biólogo Filipe Bally explicou ao Sul Informação que a inclusão da Ribeira do Vascão na lista de Sítios Ramsar tem sobretudo importância «enquanto reconhecimento internacional de um troço de rio em estado selvagem, pelos valores naturais que comporta».

Filipe Bally sublinhou que, «em termos legais, ser um Sítio Ramsar não significa quase nada em Portugal». No entanto, frisou, «esta classificação do Vascão entre as Zonas Húmidas de Importância Internacional significa que a entidade internacional que gere a aplicação da Convenção de Ramsar, a UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), com sede na Suíça, tem os olhos postos nesta ribeira e na sua conservação», o que poderá ser um obstáculo «para eventuais projetos futuros que possam pôr em causa a sua integridade e valor ecológico, como a construção de barragens».

No Algarve, eram já Sítios Ramsar, a Ria Formosa, o Sapal de Castro Marim e a Ria de Alvor, todas zonas húmidas litorais. A Ribeira do Vascão é, assim, a primeira zona húmida no interior da região a ser incluída nessa lista.

 

Pateira de Fermentelos também é novo Sítio Ramsar

 

Quanto à Pateira de Fermentelos e vales do Águeda e do Cértima, a segunda nova zona húmida portuguesa a ser agora considerada como Sítio Ramsar (1559 hectares, 40º33’52”N 008º30’28”W), contém uma das maiores lagunas de água doce da Península Ibérica, com um mosaico de habitats de zonas húmidas, canaviais e sapais, bem como galerias ripícolas.

Este sítio suporta importantes populações de aves de espécies migratórias e ameaçadas, como Ixobrychus minutus (Garçote ), Ardea purpurea (Garça-vermelha), Circus aeruginosus (Tartaranhão-ruivo-dos-pauis ou Águia-sapeira), Milvus migrans (Milhafre-preto ) e Sylvia undata (Felosa-do-mato).

Na lagoa e no sistema aquático adjacente, também os peixes encontram condições ecológicas favoráveis para refúgio e desova na época de reprodução.

Esta zona húmida tem também um papel importante na recarga dos aquíferos, no controlo de cheias, na retenção de sedimentos e na manutenção do fornecimento de água tanto para ecossistemas naturais como humanizados.

Os maiores fatores de ameaça que podem afetar o estatuto ecológico do Sítio são a agricultura intensiva, a criação de gado e a contaminação da água e do solo por infraestruturas urbanas e industriais.

A Câmara de Águeda implementou um Plano de Desenvolvimento para este Sítio, que inclui um conjunto de estratégicas e de ações que têm como objetivo o desenvolvimento sustentável da área.

 

Nota: As fotos são de Nuno Loureiro

 

 

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