Aprendi cedo a diferença entre teorias e prática. E a avaliar as consequências de decisões – se atingirão ou não os resultados esperados. E aprendi a ler alertas e avaliar probabilidades.
Em 20 de outubro, tive uma palestra/debate com os afetados pelo terrível incêndio em São Brás e Tavira. Ouvi detalhes de estarrecer, do inadequado funcionamento de quem os devia e deve apoiar, não só dos bombeiros. Havia alertas deste risco, nada se fez.
Há dias ofereci quatro horas de trabalho voluntário após a destruição na freguesia de Pereiras, na saída do Algarve. Ali não houve tornado, só chuva torrencial, prevista há semanas pela NASA e pelo Meteo três dias antes. Não se alertou a população. Não se tomaram medidas de precaução nos concelhos. Ninguém da Câmara Municipal de Odemira foi de imediato ver os estragos. Sou engenheiro: uma barragem mal feita pela Câmara provocou a destruição de um olival e muito mais. O mesmo ocorreu há seis anos.
Os proprietários deste olival fazem o azeite extra-virgem que ganhou três prémios internacionais! É uma empresa familiar que exporta o dobro do que vende cá. Ela é alemã, casada com um português. Ela preside a um clube de empresários.
É incrível como mini-investidores estrangeiros são tratados por alguns funcionários públicos e os seus chefes por cá. Será que o governo sabe do que está a acontecer no mundo real cá no Sul de Portugal? Onde anda a Proteção Civil que não envia alertas para a população, que sempre perde nestes desastres?
Há investidores que muito perderam nos fogos e nas cheias, mais de uma vez, a pensar processar autarquias e até o governo, lá fora. O melhor para todos é o governo ouvir diretamente os que têm sugestões concretas de como melhorar. Para a sugestão não se tornar indignação.
O filósofo/ jornalista António Gramsci definiu como crise: “quando o velho ainda não desapareceu e o novo ainda não nasceu”. Não será hora de agir?
Autor: Jack Soifer é autor dos livros «Empreender Turismo de Natureza», «Portugal Rural» e «Como Sair da Crise»
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