Corveta «Oliveira e Carmo» vai ao fundo no final de outubro

Pelos buracos de generosas dimensões abertos no interior da corveta «Oliveira e Carmo» consegue avistar-se a casa das máquinas, lá […]

Pelos buracos de generosas dimensões abertos no interior da corveta «Oliveira e Carmo» consegue avistar-se a casa das máquinas, lá em baixo. Se se olhar para cima, vê-se a chaminé do navio. «Os mergulhadores vão poder entrar por aqui e ter acesso ao interior do navio. O último nível, que ficará a mais profundidade, só será acessível a mergulho técnico», explica Luís Sá Couto, mentor do projeto «Ocean Revival».

Em finais de outubro, o projeto vai finalmente concretizar-se com o afundamento a duas milhas da Prainha (Portimão) de dois antigos navios de guerra portugueses – a corveta «Oliveira e Carmo» e o patrulha-oceânico «Zambeze».

Os dois navios estão já prontinhos a ser afundados, atracados lado a lado no cais dos estaleiros de Portimão. Pelo convés da «Oliveira e Carmo», agora despido de armamento, cabos e de toda uma série de materiais e equipamentos, andam os dois especialistas canadianos da empresa Canadian Artificial Reef Consulting, responsável pelas operações do afundamento dos navios.

A primeira a ir ao fundo será a corveta, seguindo-se, uma semana depois, o pequeno navio patrulha. A data exata do afundamento será hoje anunciada numa sessão no Teatro Municipal de Portimão, para a qual foram convidados os empresários do setor turístico.

Luis Sá Couto na ponte da antiga corveta «Oliveira e Carmo», preparada para o afundamento

«E já não é sem tempo», desabafa Luís Sá Couto, proprietário da empresa de mergulho Subnauta, fundadora, com a Câmara de Portimão, da associação Musubmar, promotora do projeto Ocean Revival, que prevê criar, através do afundamento de antigos navios da Marinha Portuguesa, uma estrutura de recifes artificiais ao largo da costa de Portimão, dirigida ao turismo subaquático.

Os navios deviam ter sido afundados em agosto passado, mas as complicações no transporte dos explosivos necessários desde os Estados Unidos da América obrigaram a sucessivos adiamentos da operação. É que os explosivos de recorte são fornecidos pelas forças armadas dos EUA, que, em tempos de constantes ameaças terroristas, não facilitam propriamente a tarefa.

«Só foi possível conseguirmos estes explosivos com a intervenção da Marinha Portuguesa, que tem sido incansável e que nos tem ajudado a resolver as inúmeras questões burocráticas envolvidas na saída dos explosivos dos Estados Unidos, no seu transporte e no seu acondicionamento em Portugal. É a Marinha que vai guardar os explosivos quando eles chegarem ao nosso país e que vai verificar se está tudo bem», explica Sá Couto.

Os explosivos estão agora a ser transportados por mar, num navio com escolta das Forças Armadas norte-americanas, numa viagem que demora 15 dias. Só a compra e transporte dos explosivos custa 120 mil euros.

Os técnicos da empresa canadiana especializada, que tem uma vasta experiência de afundamento de navios em todo o mundo – já afundou 23 – fizeram os cálculos de modo a que a colocação dos explosivos de recorte no casco da corveta «Oliveira e Carmo» abram meia dúzia de buracos quadrados de cerca de um metro de lado. Tudo para que, quando se afundar, o navio fique direito no fundo arenoso do mar, uma milha ao largo da Prainha, entre Portimão e Alvor.

«As cargas são colocadas já fora do porto. O navio é rebocado para o local de afundamento e é lá que serão colocados os quadros onde tem o tal cordão explosivo, que faz o aquecimento da chapa e a recorta, abrindo os buracos que levarão ao afundamento», explicou Luís Sá Couto, em entrevista ao Sul Informação.

Tendo em conta os receios manifestados pelas associações ecologistas, nomeadamente pela Liga para a Proteção da Natureza, o responsável pelo projeto Ocean Revival faz questão de explicar que «os explosivos a utilizar não têm grande expansão, não vão matar animais, nem têm chumbo».

 

Boas condições do mar são fundamentais para o afundamento

 

Para que a operação possa mesmo ter lugar, no último fim de semana de outubro, há ainda um requisito fundamental necessário, mas é algo que ninguém pode controlar: «têm que estar boas condições de mar».

Por isso, não é de admirar que Luís Sá Couto se tenha sentido cada vez mais inquieto com o tempo a passar, o Outono a chegar e o estado do mar a ter mais probabilidades de não ser o apropriado. «Estamos um bocado apertados de tempo», admite.

O afundamento deste que é o primeiro navio a integrar o futuro recife artificial criado a pensar nos milhões de mergulhadores que há no mundo e que o Algarve quer atrair será ele próprio uma atração turística. Já há empresas de embarcações marítimo-turísticas a programar viagens especiais para assistir ao afundamento.

«Será criado um cordão de segurança à volta do local, mas quem quiser levar as pessoas para ver é livre de o fazer. Isto vai ocorrer em outubro e permitirá criar um ótimo dia de negócio, pouco habitual fora da época alta», explica Sá Couto.

Se tudo correr bem, no dia seguinte ao afundamento da corveta, e depois de os mergulhadores da Marinha confirmarem que está tudo ok e que as condições de segurança estão garantidas, os mergulhadores podem começar a explorar o antigo navio de guerra português, assente num fundo de areia a 35 metros de profundidade, mas com a ponte a 15 metros.

«No dia do afundamento, passado uma hora, uma equipa de mergulhadores da Marinha Portuguesa, mais a equipa dos canadianos, vão verificar a estabilidade do navio. Em função do que eles determinarem se saberá se se pode mergulhar imediatamente ou não», explica Sá Couto.

«O navio está bem lastrado. O próprio peso do navio e o facto de ter uma base larga, por ser pouco quilhado, deverá ajudar ao seu assentamento no fundo naquela zona, que é de areia e de lodo», acrescenta.

 

Ainda falta dinheiro para concretizar todo o projeto Ocean Revival

 

Para já, das janelas da ponte ainda se vê a paisagem do estuário do Arade

Apesar de o projeto Ocean Revival ser promovido pela associação Musubmar, que tem como sua fundadora a empresa de Luís Sá Couto, qualquer empresa, entidade ou associação poderá levar lá os seus mergulhadores, já que o local ficará aberto ao mergulho livre, desde que se respeitem as regras.

E por falar em regras, o Ocean Revival criou um manual de conduta, que vai ser enviado a todas as empresas que, no Algarve e não só, se dedicam ao mergulho. «Estes navios, por serem algo de diferente a nível mundial, já que é a primeira vez que uma frota da Marinha de Guerra de um país é afundada de propósito, vão atrair muita curiosidade. Por isso era fundamental criar um manual com regras claras, para garantir a segurança de todos».

O regulamento será validado pela Capitania de Portimão, e tem estado a ser desenvolvido em conjunto com os centros de mergulhos da Portisub e Exclusivediver (Alvor).

O projeto Ocean Revival prevê, no total, o afundamento de quatro navios desativados da marinha de guerra portuguesa – a corveta «Oliveira e Carmo» e o patrulha-oceânico «Zambeze», na primeira fase, a fragata «Hermenegildo Capelo» e o navio hidrográfico «Almeida de Carvalho», depois.

Se alguma vez chegar a ser implementado na totalidade, o projeto custará 2,5 a 3 milhões de euros. Mas, com a crise instalada, não se sabe agora se alguma vez será levado à prática na totalidade, tanto mais que apenas conta com um grande mecenas privado.

O antigo navio patrulha-oceânico «Zambeze» também já está preparado para a imersão

Só esta primeira fase custou perto de um milhão de euros. Isso não contando com o transporte, em fevereiro, dos dois primeiros navios desde o Alfeite, no estuário do Tejo, até ao Porto de Portimão, onde decorreram as operações de descontaminação e de preparação para o afundamento.

Entretanto, o projeto lançou no seu site uma operação de crowdfunding (alojada na plataforma ppl.com.pt) através da qual todas as pessoas podem contribuir financeiramente para apoiar. Basta doar 10 euros para qualquer pessoa se poder tornar um mecenas do projeto. E já há lá muitos, sobretudo gente ligada ao mergulho, como seria de esperar.

Luís Sá Couto ainda não perdeu totalmente as esperanças de que outras empresas ou grupos turísticos percebam o interesse do projeto para criar um novo nicho de mercado que atraia mais turistas ao Algarve. «O que é que me move no meio disto tudo? Fazer qualquer coisa de útil para o país. Nós – a Subnauta – vamos beneficiar, mas todas as outras empresas também. Ainda ninguém vê Portugal e o Algarve como destino de mergulho, mas o Turismo de Portugal terá agora motivos para promover o país como tal, tendo como chamariz um projeto que é único a nível mundial».

«No mundo inteiro, há oito milhões de mergulhadores. Se conseguirmos atrair para aqui 70 a 90 mil por ano, isso terá um impacto muito grande para a região. Serão turistas adicionais, com dinheiro, que não viriam cá. Isto pode potenciar novos centros de mergulho, novos negócios, novas empresas».

No último fim de semana de outubro, se o estado do mar não pregar nenhuma partida, será então dado o primeiro passo para a concretização do sonho de Luís Sá Couto.

Veja aqui mais fotografias dos dois navios preparados para o afundamento.

 

Veja aqui Jay Straith, da Canadian Artificial Reef Consultant a explicar o trabalho desta empresa no projeto Ocean Revival:

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