«Então o senhor presidente agora é cozinheiro?» (com fotos)

«Então o senhor presidente agora é cozinheiro?», perguntava uma senhora, entre o espanto e a brincadeira. O «presidente» a que […]

«Então o senhor presidente agora é cozinheiro?», perguntava uma senhora, entre o espanto e a brincadeira. O «presidente» a que ela se referia é Júlio Barroso, edil de Lagos, que esta sexta-feira, ao lado da mulher e do vice-presidente António Marreiros, participou na aula de culinária da campanha de promoção da cavala, organizada pela Docapesca no Mercado da Avenida, naquela cidade.

Júlio Barroso vestiu avental branco, calçou as luvas, seguiu com atenção as instruções do chef José Moura, que explicava como se faz cavala fumada…mas o autarca não chegou a tocar no peixe, nem em nenhum dos ingredientes. «Há alguém que tem que ficar com as mãos limpas», ironizava, bem disposto. «…é que pode ser preciso ir buscar um frasco à despensa, ou apertar o avental de outra pessoa».

Na sexta-feira, o grupo era constituído por oito “alunos” de culinária, que, primeiro que tudo, aprenderam a fazer filetes de cavala e depois como se fuma este peixe, usando para isso uma cataplana onde que queima as ervas aromáticas – tomilho e alecrim -, depois de marinar os filetes em limão e azeite. A acompanhar, um risoto de arroz doce. Diz quem comeu que estava uma delícia.

Apesar de não ter metido as mãos na massa, Júlio Barroso foi exímio a explicar às pessoas que o interpelavam sobre o que se estava ali a passar e as razões da campanha da Docapesca, para promover o consumo da cavala. Mesmo não tendo cozinhado, a esposa do presidente garantiu ao Sul Informação que ele é «um mestre» nos grelhados.

Mais amante da cozinha é o vice-presidente António Marreiros, que se confessou cozinheiro frequente «de petiscos». E vai experimentar este novo petisco, aprendido na aula de culinária no Mercado da Avenida de Lagos? «Isto até me parece fácil e fica muito bom. Um dia destes experimento!», garantiu.

Neste segundo e último dia da campanha da cavala em Lagos, além dos dois autarcas e da mulher do presidente, havia ainda outras cinco pessoas – entre eles, Luís Bordalo, responsável pela Biblioteca Municipal, Margarida Santana, também da Biblioteca, a D. Isabel, encarregada do refeitório municipal, e José Maria, reformado, que garantiu: «não sou cozinheiro, sou petisqueiro».

No dia anterior, quinta-feira, o Sul Informação acompanhou também a primeira sessão de aulas culinárias da manhã, inteiramente ocupada por alunos ligados à Câmara, como a vereadora Livónia Xavier, que confessou que o marido «é que é o cozinheiro de serviço».

Mas a ouvir as explicações do chef José Moura esteve também Maria Genoveva Godinho, responsável pela área de Educação, Juventude e Desporto da autarquia, Maria de Jesus, da Biblioteca, Ana Paula Santos, ou Ana Rita, do departamento de Ambiente. O único homem era Rui Ramos, técnico de contas, que, ao fim de duas tentativas, já estava exímio na arte de fazer os filetes de cavala.

Desta vez, a ementa foi cavala cozida com orégãos (mas com um toque diferente do tradicional), com salada de maionese, mostarda e tosta, e tomate baby confitado.

O chef Moura, formador da Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão e chef do Hotel Pestana Alvor Praia, considerou a campanha promovida pela Docapesca como uma «ideia super engraçada», porque «promove e valoriza um peixe específico, pouco valorizado pelas pessoas, mas que é muito bom, seja em termos gastronómicos, seja até para a saúde. Na China, por exemplo, a cavala é usada com fins medicinais».

 

Cavala: boa, barata e gourmet

 

Uma senhora, que tinha acabado de comprar cavalas fresquíssimas o Mercado da Avenida de Lagos a 1,5 euros o quilo, logo exclamou: «põem-se com estas modernices e depois a cavalinha sobe de preço!»… E esse é precisamente um dos objetivos da campanha: que a cavala, enquanto espécie atualmente pouco valorizada, aumente o seu consumo e veja o seu preço subir, em especial na lota, onde é vendida a 50 cêntimos o quilo.

José Apolinário, presidente do Conselho de Administração da Docapesca, que também esteve em Lagos, explicou ao Sul Informação que «um dos eixos da nova política de pescas europeia é valorizar todas as espécies, diminuindo as rejeições». São práticas mais apropriadas «do ponto de vista da gestão dos recursos marinhos».

No caso da cavala, o objetivo é promover o seu consumo de modo a valorizar esta espécie em lota, aumentando assim os rendimentos dos pescadores. No primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2011, «o valor da venda da cavala na lota subiu um milhão de euros», acrescentou Apolinário. «Trata-se de uma espécie em que não há restrições à sua captura, e, com esta valorização, os próprios pescadores começam a dirigir-se mais à cavala».

A campanha de promoção da cavala, que tem percorrido todo o país, em parceria com os mercados municipais e as grandes superfícies, tem, segundo o presidente da Docapesca, «corrido muito bem».

De tal maneira que há cada vez mais municípios a aderir e a pedir que a campanha decorra nos seus mercados municipais. Num total de 24 ações, em julho e agosto a campanha passa pelos mercados municipais de todo o Algarve. E até já há datas e locais novos.

Assim, depois de Portimão, Olhão e Lagos, no dia 2 de agosto a campanha estará em Quarteira, seguindo-se Loulé (3 de agosto), Faro (10 e 11), Vila do Bispo (16), Silves (17), Albufeira (18), Vila Real de Santo António (23), Faro, de novo (numa ação diferente no Refúgio Aboim Ascensão, a 24), Tavira (25).

Depois a campanha sai do Algarve e prossegue em Coimbra (31), Matosinhos (6 de setembro), Nazaré (7 e 8), Porto (13), Aveiro (14), Ílhavo (15), Sines (21), Sesimbra (22), Viana do Castelo (28) e finalmente Póvoa de Varzim (29 de setembro).

Em todos estes locais, as aulas de culinária com receitas deliciosas, fáceis e super originais com cavala são dadas por professores das Escolas de Hotelaria e Turismo, em duas sessões diárias, de inscrição grátis: das 10 às 11h00, e das 11 ao meio dia.

Depois de percorrer o país a mostrar como a cavala, além de deliciosa e boa para a saúde pela sua riqueza em Òmega3, é um produto gourmet, só resta à Docapesca seguir a ideia que o presidente da Câmara de Lagos Júlio Barroso lançou na sexta-feira a José Apolinário: editar um livro com todas as receitas.

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