Docapesca une-se aos produtores, escolas de hotelaria e mercados para promover a cavala

Cavala fumada com alecrim e tomilho em cama de risotto e ar de amêndoa amarga foi uma das propostas gastronómicas […]

Cavala fumada com alecrim e tomilho em cama de risotto e ar de amêndoa amarga foi uma das propostas gastronómicas oferecidas esta segunda-feira, no Museu de Portimão, pela Docapesca SA, no âmbito da ações de valorização do pescado com menos valor comercial.

A degustação gastronómica, preparada pelos alunos da Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão, incluiu ainda três outras formas deliciosas de comer cavala, que é precisamente um daqueles peixes com pouco valor comercial, que a Docapesca quer valorizar, para aumentar os rendimentos dos pescadores e, por consequência, os seus próprios.

O chef José Moura, da Escola de Hotelaria de Portimão, salientou que, «na alta cozinha, a cavala já é muito utilizada e valorizada. Por isso, a cavala está a deixar de ser o parente pobre dos peixes».

A sessão de degustação, que teve lugar à beira do Rio Arade, culminou a tertúlia sobre “A Valorização do Pescado em Portugal e a Fuga à Lota”, tema central das “Conversas em Rede”, que decorreu no dia 21 de maio, no Museu de Portimão, com a presença de pescadores, armadores, vendedores, investigadores, organizações de produtores, GAC, autarcas, empresários de restauração, autoridades. No dia 29, às 17h00, será a vez de estas “Conversas em Rede” chegarem ao Mercado Municipal de Olhão, como sempre com moderação de José Apolinário, presidente do Conselho de Administração da Docapesca.

José Apolinário explicou ao Sul Informação que a Docapesca vai apostar em força nas degustações gastronómicas como forma de promover o pescado com menor valor comercial, com destaque para a cavala, sempre em estreita colaboração com o Turismo de Portugal, as Escolas de Hotelaria do país, as organizações de produtores, os Grupos de Ação Costeira (GAC) e com os mercados municipais. Estão já em preparação ações a ter lugar «ao longo de toda a costa portuguesa, nos principais portos, nos meses de julho e de setembro», acrescentou.

A Docapesca, explicou ainda, tem vindo a apostar no trabalho com os GAC, tanto mais que «o trabalho em rede com os GAC é eixo-chave no próximo período de programação financeira 2013-2020».

«A valorização do pescado em lota é uma forma de garantir a solidez financeira da Docapesca, mas sobretudo do rendimento dos pescadores», disse ainda José Apolinário, admitindo que o tema da valorização e da fuga à lota é «sensível».

Apesar da sensibilidade – ou por causa dela -, foi sem papas na língua que, durante duas horas e meia, os participantes da tertúlia falaram sobre o que fazer para valorizar o pescado e sobre a fuga à lota.

No caso da valorização, Helder Rita, da organização de produtores Quarpesca, de Quarteira, sugeriu que, além da cavala, fosse também valorizada «a aranha, a cabrinha, a tramelga ou a sarda», peixes que, apesar de «muito saborosos», «nem aparecem na lota, porque não se vendem».

Mas José Apolinário explicou porque é que a Docapesca está apostada em insistir na cavala: «porque é abundante, é transversal, não há restrições à sua captura, não há quotas e aparece em toda a costa».

O presidente da Docapesca, empresa responsável pela primeira comercialização, em lota, de todo o pescado português, falou ainda em números. Assim, em 2010, o valor global de venda em lota atingiu pouco mais de 187 milhões de euros, enquanto em 2011 subiu para cerca de 201 milhões, um acréscimo que Apolinário revelou ter-se ficado a dever ao «afluxo de biqueirão em determinado mês do ano».

Em relação aos primeiros quatro meses de 2012, o ano está a revelar-se «de muitas incertezas», com uma quebra muito importante na sardinha e no polvo, neste caso com um «impacto muito negativo na pesca local e artesanal».

José Apolinário aproveitou ainda para falar sobre o comprovativo de compra de pescado em lota, um selo que agora passa a utilizar o verde e o vermelho das cores nacionais, e se destina a valorizar o produto da costa portuguesa. A ideia, explicou, é passar a ideia de que «o pescado do nosso mar é o melhor», como é costume ouvir-se dizer em qualquer porto português.

Explicando a estratégia de valorização das espécies que hoje não têm grande saída comercial e até são secundarizadas na alimentação, como a cavala, Apolinário disse que «se esta espécie subir 5 cêntimos por quilo em lota isso representa um aumento de um milhão de euros para a Docapesca».

O presidente da empresa recordou que a cavala, a sardinha e o salmão são os peixes com maior teor de Omega3, benéfico para a saúde. Mas a cavala, em Portugal, sobretudo a de tamanho mais pequeno, deixou de ser utilizada na alimentação. Como lembrou Joaquim Cabrita, da Câmara de Lagoa, é tudo uma questão de moda e de marketing: «há uns 20 anos, a sardinha também era tida como comida de pobres e até se dizia que fazia mal à saúde. Isso mudou e agora a sardinha até é gourmet».

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