Mas onde é que ‘andem’ os portimonenses?

Leva-me a escrever esta crónica, e pela primeira vez neste espaço informativo e de opinião, a infeliz realidade desportiva e […]

Leva-me a escrever esta crónica, e pela primeira vez neste espaço informativo e de opinião, a infeliz realidade desportiva e sociológica daquela que, desde tenra idade, é uma das minhas mais fortes paixões: o Portimonense Sporting Clube.

Fui ganhando o interesse por este histórico do futebol português como muitos outros da minha geração, no ainda Estádio do Portimonense, à mão do meu pai. Via, sem passar muito cartão, jogos da II Divisão B. Assisti à subida para a Divisão de Honra e, sem que eu desse muito por isso, o bichinho foi ficando, como um carrapato cuja presença nada incomoda. Desde então tenho feito por acompanhar de perto os destinos deste clube e, ao contrário daquilo que se possa pensar, tenho amealhado mais alegrias do que propriamente tristezas com esta devoção (que viu o seu apogeu na subida de divisão última à Primeira Liga, em 2010).

Mas sou o primeiro a dizer, ao deparar-me com a falta de sucesso desportivo do Portimonense, que nós temos aquilo que merecemos. E o que me custa admitir esta velha máxima aplicada ao único clube que ocupa o meu coração… Trata-se de um problema de proporcionalidade directa que podemos imaginar representado num gráfico onde num eixo está o sucesso do clube e noutro a conduta dos portimonenses.

Como é que as pessoas de Portimão conseguem permanecer tão alheias ao único clube que as representa dentro das quatro linhas? Como é que os já poucos sócios deste clube se mantêm inertes ao assistir a um barco que se afunda à frente dos seus olhos? Como é que a cidade mais habitada do barlavento algarvio não apresenta capacidades de catalisar nem 5% da sua população para se associar ao Portimonense? Como é que as gentes de Portimão são capazes de dar mais de €100 por pessoa para ir a Lisboa ver uma partida de futebol (de uma equipa que nada tem a ver com as suas origens) quando pode assistir em Portimão a 15 jogos desde €60? Não consigo encontrar a resposta a estas questões e parece que não há quem queira, nesta cidade…

Mas as responsabilidades desta inércia não podem recair apenas sobre o insucesso do clube ou da passividade da população. Vejo dirigentes de outros clubes trabalharem afincadamente numa política de proximidade entre o clube e as pessoas, no sentido de amealhar adeptos e conquistar os mais jovens (romântico ou não, mas esses sim são o futuro). Políticas essas que, além de bem sucedidas, têm dado claros frutos. Exemplos disso são o vizinho Olhanense, os minhotos do Braga ou do Guimarães… O próprio Farense que, duas divisões abaixo de ‘nós’, mete mais gente no estádio.

Nessas terras há bairrismo, dizem. Pois há! Mas também há muito trabalho no sentido de não deixar cair esse bairrismo. Há um grupo de pessoas que se esforça porque prefere ter o estádio cheio do que o cofre cheio. O que a actual Direcção do Portimonense fez, ninguém lhe tira. Mas não podemos, por isso, deixar de apontar as coisas que não fez e que podia, sem muito sacrifício, ter feito. Palestras nas escolas com a presença de figuras do Portimonense a incutir o clubismo como se incute a Língua Portuguesa ou a Matemática; dar a esses jovens bilhetes para os jogos nos lugares que nunca são preenchidos; adequar o valor do associativismo não só a realidade financeira mundial como à situação desportiva do clube (o valor das quotas e lugares cativos não foram alterados desde que o Portimonense desceu). Assim de repente, estas são algumas medidas que me lembro e que acredito que dariam resultados quase instantâneos.

Creio que todos concordarão que quanto mais gente estiver no estádio, mais motivada fica a equipa, portanto, os bons resultados a partir daí seriam uma mera questão de tempo. Portimonenses, acordemos desta inércia e exerçamos pressão junto das pessoas certas para algo seja feito. O tempo urge e ninguém quererá ver o Portimonense ter de bater no fundo para só depois reagir.

Disputamos o segundo campeonato mais importante do país e, sinceramente, não me parece que esta cidade mereça tanto prestígio. Mas onde raio ‘andem’ os portimonenses?

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