Arte das Sextas à Solta vai mostrar-se ao Cine-Teatro Louletano

Tudo começa como seria de esperar: entre amigos. Dois, mais precisamente. Num dia, um falou com o outro e decidiram […]

Tudo começa como seria de esperar: entre amigos. Dois, mais precisamente. Num dia, um falou com o outro e decidiram deixar de reunir-se para, por exemplo, beber uma cerveja ao fim de um dia de trabalho e, em vez disso, criar – fazer teatro, música ou vídeos e apresentá-los num espetáculo. Uma condição: que esse espetáculo fosse apresentado às sextas feiras.

É também daí que vem o nome do projeto – Sextas à Solta. Esse dia já foi há mais de um ano. Muitos espetáculos, vídeos e criadores  – mais de 50 já participaram, de alguma forma, no espetáculo – depois, o próximo passo é o salto para o Cine-Teatro Louletano, em Loulé, no âmbito da Mostra de Teatro Cenários.

Mas começando pelo início, é justo dizer que os culpados são (principalmente) dois – embora as versões sobre quem é mais culpado divirjam: João Viegas diz que a culpa é de Pedro Paulino. E argumenta: “Não querendo pôr as culpas em ninguém, o culpado é ele, claro. O Pedro já fazia teatro e era uma das pessoas que circulavam em torno da Casa da Cultura de Loulé [CCL], e entretanto, veio-me com a ideia de criar um espaço onde as pessoas se pudessem reunir, juntar, para fazer coisas, principalmente teatro, mas não só”.

Pedro Paulino confere a informação, mas discorda. O culpado, argumenta, é claramente João Viegas. “As pessoas falavam comigo e diziam-me que a Casa da Cultura devia abrir mais as portas. Eu não percebia, porque via sempre as portas abertas para quem quisesse participar ou fazer alguma coisa, mas depois de falar com tanta gente comecei a pensar no assunto… Entretanto, falei com algumas pessoas e toda a gente me dizia: ‘Então para a semana a gente vê isso’ enquanto o João virou-se para mim e disse: ‘Ena pá, vamos embora’. Por isso, o João é claramente o culpado”. O mal estava feito – foi há mais de um ano. E as portas da Casa da Cultura abriram-se mesmo.

E se a ideia inicial era tão somente abrir as portas da Casa da Cultura a quem quisesse criar qualquer coisa – ou, na maioria dos casos, experimentar criar, muitos pela primeira vez, outros em áreas paralelas às suas -, facto é que daquilo que foi inicialmente apenas uma conversa de café, veio a surgir um espetáculo (que é, em si, um conjunto de espetáculos multidisciplinares), com grande parte dos conteúdos originais.

Segundo João Viegas, as culpas têm de ser muito mais do que divididas. “Este não é – nem nunca foi – o show do Pedro [Paulino] e do João [Viegas]. Este é o show de 30 ou 40 pessoas que, ao longo do último ano, resolveram que seria tempo mais bem empregue tentar fazer isto do que outra coisa qualquer – e isso abdicando de tempo para ir beber copos, ir ao cinema ou estar com a namorada. E o grupo funciona mesmo como um coletivo: as pessoas chegam, aparecem e dão as suas ideias. É tudo um bocado caótico e anárquico, as pessoas vêm de backgrounds diferentes e depois o resultado final é algo imprevisível”, diz.

Esse é, afinal, o objetivo: experimentar. O espetáculo do Sextas já teve teatro, música, vídeo, mas também uma instalação, por exemplo, que foi filmada e apresentada como um sketch.

“Costumo dizer em relação aos nossos espetáculos que nunca se sabe muito bem ao que vai: a sopa não é a mesma todas as semanas, nem sempre é caldo verde…”, brinca Pedro Paulino. “O que temos aqui é gente a experimentar: pessoal da música a fazer teatro, pessoal do teatro a fazer vídeos, pessoal que escreve a representar”, conclui João Viegas.

Mas como, ao fim de contas, se consegue juntar cerca de 50 pessoas amadoras, ao todo, apenas e e só em torno de um espetáculo? Pedro Paulino explica: “A minha ideia era esta: juntar pessoas de backgrounds diferentes, sabores diferentes, e tendo este espaço, misturá-las”. Depois do boca a boca dos amigos, a vontade de experimentar – de pôr a foice em seara alheia – terá feito o resto. “Essa é a nossa grande vitória: introduzir pessoas novas às artes, à ideia de que é possível fazer, de que podem criar. Eles pensam: ‘eu posso ter uma ideia qualquer e daqui a um mês esta ideia está no palco. Isto acontece, porque eles escrevem umas coisas em casa e chegam aqui [à Casa da Cultura] cheios de vontade e encontram aqui uns loucos ainda com mais vontade’”, diz Pedro Paulino.

Ao todo, mais de 50 pessoas já passaram pelo Sextas à Solta – “30 ou 40 dos quais nunca tinham feito um espetáculo ao vivo ou sequer um vídeo”, revela Pedro Paulino.

Depois de um ano a apresentar o espetáculo várias vezes em casas relativamente pequenas (a da Casa da Cultura de Loulé – que entretanto mudou de instalações – mas também a Escola Secundária de Loulé, o bar Bafo de Baco, em Loulé ou Os Artistas, em Faro, com lotações a rondar as 100, 150 pessoas) , o próximo passo é enorme: no próximo dia 7 de abril, sobem ao palco do Cine-Teatro Louletano e prometem ser iguais a si próprios: música, teatro, vídeos, poesia, dança… E talento: talento posto ao serviço do amor à arte – pois se não é daí que vem a palavra “amadorismo”?

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